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25 de Julho de 2017 às 20:55

O grande temor em Jerusalém

O insustentável "status quo" em Israel e na Palestina e o potencial de violência em torno dos seus santuários acabarão um dia, inesperadamente, e, possivelmente, de forma imprevista, por arruinar compromissos de paz precários e injustos. 

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O governo israelita recuou e desmontou detectores de metais instalados nos acessos ao Monte do Templo/Al-Haram Al-Sharif, mas persiste o boicote muçulmano, enquanto a escassa dimensão internacional dos protestos de rua não obsta a crescente nervosismo político e frenesim diplomático.

Um ataque de três árabes israelitas com armas escondidas nos templos do terceiro local mais sagrado do Islão a 14 deste mês, uma sexta-feira de orações, custou a vida a dois polícias israelitas, redundou na morte dos terroristas e gerou uma espiral de manifestações, retaliações e atentados que obrigaram Israel a retirar o pessoal diplomático da capital jordana.

 

Netanyahu ignorara pareceres negativos das chefias militares e do serviço de segurança interno Shin Bet e impôs a instalação de detectores de metais dois dias após o ataque, à semelhança dos existentes nos acessos ao Muro das Lamentações que sustenta a parte ocidental do complexo onde se localiza "o mais remoto santuário" do Islão.

 

Apelos de líderes religiosos e políticos contra a ofensa e o abuso anti-islâmicos que representariam o reforço de segurança foram pretexto para actos de violência que levaram à morte de quatro palestinianos e três israelitas, além de dois jordanos num edifício residencial de diplomatas de Israel na capital do reino haxemita.

 

A embaixada de Israel em Amã está agora vazia, tal como a representação no Cairo desde Dezembro de 2016, mas os estados co-signatários de acordos de paz não perdem de mira a cooperação contra a ameaça jihadista e o Irão. 

 

O controlo de acessos ou autorizações de visita a não-muçulmanos são questões sensíveis para Israel e as autoridades da Waqf, o instituto religioso que administra Al-Haram Al-Sharif - custodiado pela monarquia haxemita - desde a ocupação de Jerusalém Oriental no rescaldo da Guerra dos Seis Dias.   

 

Como no caso de outros santuários (Túmulo dos Patriarcas / Mesquita de Ibrahimi, Hébron; Santo Sepulcro, Jerusalém; Igreja da Natividade, Belém), o acesso é tido como direito de soberania partilhado e contestado por poderes seculares e confissões religiosas.    

 

A visita em Setembro de 2000 ao Monte do Templo do então líder da oposição conservadora Ariel Sharon levou à eclosão da Segunda Intifada que se prolongou até ao início de 2005 e o temor de nova revolta palestiniana está desde então bem presente para os poderes israelitas.

 

Uma autoridade palestiniana manietada por Israel e um Hamas militarmente impotente numa Faixa de Gaza arruinada não contam, presentemente, com apoios militantes do exterior, e a dimensão limitada dos protestos árabes em Israel, Cisjordânia, Gaza e Territórios Ocupados reduz a capacidade de pressão dos movimentos palestinianos.

Apesar de estar em causa o controlo de acessos ao santuário de Al Quds a associação dos protestos à causa da independência palestiniana é desmotivadora.

 

A Palestina independente pouco atrai no Médio Oriente e Magrebe, e mobiliza ainda menos noutras áreas de influência muçulmana.

 

Erdogan, que seis anos depois levou Israel a pagar indemnizações e apresentar desculpas pela morte de oito turcos no ataque a um navio da missão de contestação ao bloqueio de Gaza, em 2010, destacou-se nos apelos de protesto, mas essencialmente para adiantar-se a críticas da oposição.

 

Para a maioria dos estados árabes, apelar à mobilização nas ruas e mesquitas em prol de Al Aqsa evoca, sobretudo, o risco de contestação como em 2010-2012 e ao Irão serve, essencialmente, como forma de contestar a conivência das monarquias sunitas com a "entidade sionista".

 

O temor que demonstra o frenesim diplomático prova, no entanto, outra verdade visceral: o insustentável "status quo" em Israel e na Palestina e o potencial de violência em torno dos seus santuários acabarão um dia, inesperadamente, e, possivelmente, de forma imprevista, por arruinar compromissos de paz precários e injustos.   

 

Jornalista

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