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01 de Abril de 2015 às 00:01

A ofensiva Saudita

A Arábia Saudita ao ensaiar uma estratégia de liderança de um bloco alegadamente confessional não pode sujeitar-se a uma precária trégua de compromisso em que o seu músculo militar dê parte de fraco.

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A recusa de Obama em intervir militarmente na Síria e a opção por negociar um acordo nuclear com o Irão levaram a Arábia Saudita a assumir uma estratégia ofensiva para defesa dos seus interesses de segurança.

 

Em Setembro os sauditas deixaram claro que iriam pressionar no sentido da queda do preço do petróleo contra a concorrência das novas explorações de xisto norte-americanas ao mesmo tempo que delapidavam as receitas do Irão.

 

Agora, Riade está prestes a enviar tropas para impedir a queda do porto de Áden e assegurar o controlo do estreito de Bad al Mandeb, liderando uma coligação sunita de combate às tribos houthis do Iémen apresentadas como uma força xiita ao serviço do Irão.

 

O baluarte sunita

 

A Arábia Saudita interveio militarmente no Bahrain, em 2011, em defesa da dinastia sunita al Khalifa contra a revolta da maioria xiita e tem alardeado oposição a pretensões hegemónicas iranianas no Iraque, Síria e Líbano, ao mesmo tempo que condena o jihadismo da "Al Qaeda" e do Califado Negro de al Baghdadi.

 

As opções da administração democrática do Iraque ao Afeganistão, passando pela Líbia, confirmaram os temores de boa parte das elites sauditas de que os Estados Unidos enveredaram por negociar concessões com o Irão no quadro de uma estratégia de obtenção de equilíbrios entre diversas potências regionais que os eximam de intervenções militares.  

 

A arrastada desordem no Iémen já levara os sauditas a atacar os houthis na sua  fronteira sul em 2009 e 2010 e justifica presentemente bombardeamentos aréos e um bloqueio naval que, insuficientes para mudar a relação de forças no terreno, implicam a rápida mobilização para uma investida terrestre.

 

Salman al Saud, no trono desde Janeiro, surge como patrono de iniciativas diplomáticas autónomas para constituir uma aliança militar sunita de estados dependentes financeiramente de Riade, caso sobretudo do Egipto, seus parceiros do Conselho de Cooperação do Golfo (com excepção do Omã) e alargada ainda ao Sudão, Jordânia, Djibuti, Marrocos e Paquistão.

 

O eixo de convergência sunita representa de facto um confronto indirecto com o Irão que do apoio mitigado aos houthis – árabes xiitas zaidis que, designadamente, negam a infabilidade dos imãs que sucederam a Zaid ibn Ali, morto em 740,  reconhecidos, por sua vez, pelos crentes nos "Doze Imãs" da corrente em que se filia a elite teocrática de Teerão –  passou a ser visto como elemento fulcral na batalha pelo controlo do sul-sudoeste da Península Arábica.

 

A guerra como forma de existência     

 

Guerra generalizada com fortíssimo sectarismo confessional no mais miserável dos países árabes é o que se pode esperar da intervenção directa estrangeira.

 

As tribos houthis, com apoio saudita, jordano e britânico, lideraram a revolta no Iémen do Norte (os domínios no noroeste da dinastia al Qasimi desde 1918) contra os republicanos que derrubaram a monarquia em 1962.

 

O deposto Muhammad al Badr tornou-se, então, num dos inimigos figadais de Gamal Abdel Nasser que enviou tropas em apoio dos republicanos numa guerra de contra-guerrilha, inicialmente centrada nas montanhas do Norte, que em 1965 chegou a mobilizar cerca de 70 mil militares egípcios, um terço das forças armadas do Cairo.

 

Nasser, humilhado na Guerra dos Seis Dias com Israel, acabou por retirar também do Iémen do Norte no fatídico ano de 1967 e os compromissos que se seguiram entre monárquicos e republicanos foram sempre marcados por fortes tensões tribais e regionais.

 

Após o Reino Unido abandonar também em 1967 a Federação da Arábia do Sul não tardou que a novel República Popular Democrática, englobando Áden e sustentada pela URSS, entrasse em guerra com o Norte em 1972 e a unificação dos dois estados em 1990 não poria fim ao ciclo de hostilidades.

 

Prova de força

 

À guerra civil intermitente juntou-se uma década de terrorismo jihadista culminando em 2009 na criação da Al Qaeda na Península Arábica, e em Março último apoiantes do Califado Negro reivindicaram atentados a mesquitas em Sanaa que provocaram 130 mortos.

 

O ódio confessional, num país onde predominam sunitas e as confissões xiitas representam cerca de 30% da população, foi acentuando-se desde a deposição do autocrata Ali Abdullah Saleh em 2011 e marcou as novas vagas de confrontos entre facções até à presidência de compromisso de Mansur Hadi eleito em 2012.

 

No ódio a Hadi os houthis, que agora encontra um aliado no antigo inimigo Abdullah Saleh, prosseguem o combate contra a Al Qaeda e tribos sunitas das regiões centrais e sul, e após terem capturado a capital Sanaa em Fevereiro ameaçam Áden.

 

Tal como nos anos 60 as muitas guerras tribais do Iémen vão agravar-se pelo confronto de potências externas e a Arábia Saudita ao ensaiar  uma estratégia de liderança de um bloco alegadamente confessional  não se pode sujeitar a uma precária trégua de compromisso em que o seu músculo militar dê parte de fraco.       

                                  

Jornalista

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