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11 de Outubro de 2016 às 19:36

A desgraça que foi Trump

A guerra estoirou às claras entre os republicanos e Clinton é cada vez mais favorita, mas o abalo que Trump trouxe augura violentos conflitos políticos.

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Ao apelar à concentração de esforços para a manutenção da maioria republicana no Congresso, o líder da Câmara de Representantes, Paul Ryan, selou a ruptura com Trump numa manobra tardia que está longe de ganhar a aprovação dos apoiantes do partido.

 

Dois terços dos eleitores republicanos continuam dispostos a votar Trump o que obriga o Comité Nacional Republicano a manter o financiamento e a suportar a logística da campanha do milionário de Nova Iorque, aliás prejudicado por recursos muito inferiores aos de Clinton.

 

O líder republicano do Senado, Mitch McConnell, teve o cuidado, tal como Ryan, de evitar negar explicitamente o apoio a Trump, mas conta-se também entre os congressistas que se distanciam do candidato a exemplo de luminárias do mundo conservador como John McCain ou o clã Bush.

 

A elite conservadora do partido hesita, contudo, em dissociar-se abertamente de Trump, ainda que um terço dos membros republicanos da Câmara repudiem o candidato.

 

Ryan tenta minimizar o efeito negativo que a erosão de Trump acarreta a candidatos republicanos, inclusivamente para quem nega publicamente o apoio ou evita participar em acções da campanha presidencial.

 

Aumento da abstenção em prejuízo de candidatos republicanos é, por outro lado, possibilidade forte em diversas circunscrições e a contestação radical alastrou muito além dos herdeiros do Tea Party a novas frentes proteccionistas e xenófobas.

 

A maioria republicana de quatro mandatos no Senado está claramente em risco a menos de um mês da votação, mas na Câmara de Representantes é deveras difícil que os democratas (188 mandatos) venham a conseguir ultrapassar a actual bancada republicana (247 mandatos).

 

O Colégio Eleitoral poderá pender a favor de Clinton, mas cerca de 40% do eleitorado, incluindo a maioria dos brancos, irá por Trump, o que indica um elevado grau de polarização política entre a minoria disposta a votar.

 

Hillary, por sua vez, subiu nas sondagens, só que a intenção de voto continua a escapar-lhe entre as faixas mais jovens, enquanto cerca de metade dos seus eleitores apenas a apoia para impedir a vitória de Trump, de acordo com um inquérito Reuters/Ipsos.

 

Se Clinton suceder a Obama claudicará de apoios e, sobretudo, ninguém nutrirá ilusões quanto à determinação por reformas de fundo por parte de uma democrata conservadora, cultora de práticas de dúbia moralidade.

 

Suspeita, ódio, lamento e enfado por escândalos pretéritos, presentes, futuros, reais e imaginários, perseguirão inapelavelmente Hillary e Bill.

 

A Trump, sem aliados de vulto, faltará possivelmente o interesse e o empenhamento por um combate político prejudicial aos negócios, e outros demagogos não tardarão a ocupar o palco.

 

A candidatura do desbocado milionário poderá, contudo, vir a revelar-se tão marcante quanto o legado de viragem conservadora que Barry Goldwater representou para os republicanos na década de sessenta.

 

A tormenta no partido republicano é sinal de batalhas iminentes que vão muito para além das lideranças no Congresso.

 

As muitas Américas ressabiadas, temerosas, xenófobas, desorientadas, abandonadas, perdedoras e vingativas que se reconhecem nas tiradas de Trump estão por lá.

 

As outras Américas claudicam de ideias e revelam-se incertas quanto ao que o país valha num mundo que já não reconhece a hegemonia que Washington reivindicou em tempos.    
  

Jornalista

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