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Teletrabalho e escolas fechadas, parte II

Na prática, quando o Governo impede que uma mãe ou um pai, leal ao empregador, opte pelo apoio excecional à família (ainda por cima com uma penalização forte do vencimento), demonstra o desprezo que tem tanto pelas famílias como pelas empresas.

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Brrr, não há nada que mais desespere um jornalista do que denunciar segunda vez a mesma coisa: é sinónimo de que ninguém o escutou e que a sua queixa não chegou para emendar o mal. Venha o diabo e escolha qual das machadadas fere mais fundo o seu ego mas, narcisismos à parte, constatar que quem nos governa sofre de uma capacidade infinita de repetir erros, indiferente às consequências, é genuinamente frustrante.

Por isso aqui estou de novo com a sequela ao que aqui escrevi no dia 17 de março de 2020, mas mais irritada do que nunca, a protestar contra o absurdo de quem nos quer fazer acreditar que é perfeitamente possível teletrabalhar bem, enquanto se cuida a tempo inteiro de filhos com menos de 12 anos, sobretudo se forem mais do que um. E a situação é mais grave ainda, porque neste momento o teletrabalho é obrigatório, e as crianças nem sequer têm atividades online programadas.

Na prática, quando o Governo impede que uma mãe ou um pai, leal ao empregador, opte pelo apoio excecional à família (ainda por cima com uma penalização forte do vencimento), demonstra o desprezo que tem tanto pelas famílias como pelas empresas. Das duas uma, ou está a incitar os trabalhadores a embarretarem os empregadores, fingindo uma produtividade impossível, ou está explicitamente a declarar que as empresas se devem substituir, mais uma vez, à Segurança Social. Esperem, há uma terceira hipótese: quer mesmo que os pais deixem os filhos com os avós.

Revela também a noção que os senhores ministros (não) têm do que é uma empresa, o que aliás se compreende, sabendo que a esmagadora maioria sempre trabalhou para o Estado. Aposto que imaginam que o dinheiro do fim do mês para pagar salários e credores está sempre garantido como nos serviços públicos e que, portanto, produzir mais ou menos é só uma questão estatística ou, quando muito, só mexe com os lucros do patrão (aquele tipo sinistro que fuma charutos e anda de Ferrari). Nesta lógica, deixar de cumprir prazos contratados com clientes por falha da produção causa o mesmo incómodo que esperar três meses por uma resposta da repartição de Finanças.

Mas esta não é a minha única indignação da semana. Defensora acérrima da escola pública, fiquei de boca aberta contra a prepotência de impedir as escolas particulares de continuarem com o ensino online. É claro que as escolas privadas iam usar o facto de conseguirem manter as aulas virtuais como bandeira das suas ações de marketing, mas aquilo que lhes dá essa vantagem competitiva são as insuficiências da escola pública. Acabar com a concorrência, nivelando por baixo, em lugar de investir no que se tem para oferecer, é uma tática que revela que, mais uma vez, se está nas tintas para o cliente/aluno.

Mas a justificação do ministro Brandão Rodrigues fala por ele, ou seja, é incompreensível. Vejam lá se entendem: “Este ziguezaguear, não digo oportunismo, mas espreitar sempre à exceção ou tentar fazer diferente, é o que nos tem causado tantos problemas em termos societais.” Importa-se de repetir?

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