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O tempo em que os ex voltam às empresas

O senhor Jeff Bezos, o bilionário que criou a Amazon, voltou ao palco da gestão da empresa para fazer face aos desafios da pandemia, exemplo seguido por outros ex dos negócios.

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Um cenário de caos instalado, aviões em terra, o barril de petróleo ao preço da coca-cola, e todas as certezas mortas e enterradas, deve ser irresistível para quem gosta de provas de obstáculos e vive da adrenalina.

 

Confesso que me divertiu esta ideia de um mercado invadido por múmias ressuscitadas, com mais ou menos botox, e fico cheia de vontade de assistir às cenas dos próximos capítulos. Será que terão mesmo capacidade de reinventar e inovar? E se os resultados forem desastrosos alguém terá coragem de lhes dizer, ou deixam-nos acreditar que operaram um milagre? Além do mais, o assunto interessa-me. Chegada aos 60 anos, preciso de conhecer a taxa de sucesso de um segundo round ainda na mesma reencarnação. 

 

Intuitivamente parece-me que têm tudo para ganhar, porque a ciência da tomada de decisões confirma que os adultos mais velhos decidem mais depressa do que os mais novos, e já o próprio Jeff Bezos, na sua versão de jovem empresário, defendia que a velocidade é o que mais importa nos negócios. Ou seja, mais vale voltar atrás do que ficar à espera de um estudo aturado que chega sempre tarde demais. Diz ele.

 

Menos mal, mas a idade ajuda também a qualidade das decisões? Já agora, dava jeito. Pelos vistos há toneladas de investigadores que andaram à procura da resposta para esta pergunta. Conclusões? Sabe-se que os adultos mais velhos (70 anos), processam a informação uma vez e meia mais lentamente do que os jovens adultos (30 anos), mas a verdade é que ela não lhes parece fazer falta para a decisão final. Substituem-na pela estratégia de raciocínio e, sobretudo, pela experiência. Aparentemente a base de dados acumulada aliada a um cérebro bem oleado, dá bons resultados, ainda por cima associada a uma maior lucidez nas análises custo-benefício, uma outra qualidade da velhice. Por exemplo, num dos estudos, as cobaias mais velhas revelam-se mais predispostas a mandar às urtigas o preço do bilhete de cinema, abandonando a sala se o filme for uma seca, do que as mais jovens, que sofrem as estopinhas só para tentarem justificar a si mesmas o investimento feito.

 

Mas não são só vantagens. Os mais velhos são mais avessos ao risco. E, eventualmente, mais a leste das novas realidades. Ou seja, podem decidir com base na experiência, mas a sua experiência já não ser relevante. Além disso, é provável que estejam mais casmurros, mais vaidosos, incapazes de ouvir os outros e de aceitar que as suas opiniões sejam desafiadas. Isto digo eu. 

 

Mas se seguirem as regras que Jeff Bezos criou para "decisões de alta qualidade a alta velocidade", a coisa deve resultar. Ditam que se deve 1) fugir a tomar decisões sempre da mesma forma; 2) decidir mal se tenha 70% da informação que desejávamos. Chega, porque não decidir sai mais caro do que decidir mal; 3) dizer aos que discordam que provavelmente têm razão, mas que o que se lhes pede, naquele momento, é que apesar disso se comprometam com a aposta que está em cima da mesa; e 4) detetar e reagir imediatamente ao "desalinhamento grave" dentro da equipa. Não ficar à espera de acordo, nem perder tempo a convencer cada pessoa da sua decisão. Dite o rumo e entregue a missão ao mais capaz.

 

Caramba, apesar de só ter mais quatro anos do que os 56 do senhor Jeff, vou precisar pelo menos de mais uns 20 para chegar aqui. Mas estou segura de que então, sim, estarei pronta a iniciar a minha carreira no mundo dos negócios! Com ou sem pandemias. 

 

Jornalista

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