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Dar de mamar não é um capricho

O primeiro leite, que a DGS tão levianamente sugere que se deite para o lixo, é só o maior shot de defesas contra todas as doenças, um bebé a sugar ao peito, a melhor forma de evitar uma hemorragia pós-parto e uma fonte de oxitocina, a hormona que “cola” as relações para a vida.

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A diretora-geral da Saúde tem conquistado a minha admiração, pelo trabalho infatigável e pela clareza – sem alarmismos – com que comenta a situação de todos os dias. Andar à procura de incoerências naquilo que diz, quando as evidências científicas mudam necessariamente de um momento para o outro, é um exercício que, por vezes, parece de má-fé. Ou, apenas para encher noticiários.

Dito isto, era urgente que clarificasse as orientações da DGS para o parto e pós-parto das mães, explicando porque é que neste caso se foge das indicações não só da OMS, que tão insistentemente tem afirmado seguir, mas também de organizações internacionais reconhecidas, como a Associação Americana de Pediatria, ou a reputada Academy of Breastfeeding Medicine, só para citar algumas.

É que enquanto a OMS recomenda que a amamentação seja privilegiada, já que não há qualquer evidência científica da presença do vírus no leite materno, as orientações da DGS para casos suspeitos ou confirmados de covid-19 determinam de forma contraditória:

“Como não existe evidência sustentada de risco de transmissão viral através do leite materno, nas situações de separação mãe-filho, está recomendada a extração do leite com bomba e o seu desperdício até a mãe ter dois testes negativos.”

Não é um assunto menor, nem em termos de saúde pública, nem tão-pouco na vida das mulheres que estão a dar à luz em plena pandemia, nem, sobretudo, na vida dos recém-nascidos. Gostamos de desprezar o instinto materno mais básico, o de precisar de estar e proteger a cria, como se fosse um resquício do animal que já não somos, convencidos de que a sofisticação médica pode perfeitamente substituir o toque, o cheiro, e o contacto, mas o que a ciência nos mostra – já para não falar no coração! — é que nada daquilo que se passa entre a mãe e o bebé nestes primeiros dias de vida é um acaso. O primeiro leite, que a DGS tão levianamente sugere que se deite para o lixo, é só o maior shot de defesas contra todas as doenças, um bebé a sugar ao peito, a melhor forma de evitar uma hemorragia pós-parto e uma fonte de oxitocina, a hormona que “cola” as relações para a vida. Mesmo que a mãe esteja demasiado doente para amamentar, e exista, de facto, a impossibilidade de a manter próxima do filho em segurança, nada justifica que o filho não beba o seu leite. E é isto que é urgente que não se perca na voragem desta pandemia.

Embora a DGS refira que, “é necessário que as instituições de saúde tomem decisões individualizadas, tendo em conta a vontade da mãe, as instalações disponíveis no hospital e a disponibilidade das equipas de saúde”, temo que com tantas informações contraditórias alguns profissionais de saúde, pressionados e cansados, sejam mais papistas do que o Papa, sacrificando inutilmente um momento tão fundamental para toda a família. Mais ainda, criando mais uma vez em Portugal, como já está a acontecer, um serviço para aqueles que conseguem aceder a um hospital particular, onde neste momento os pais estão a ser admitidos, e criadas as condições para os bebés ficarem junto das mães, em detrimento dos hospitais públicos, onde o que os espera dependerá da sensibilidade de quem definiu o protocolo daquela maternidade.

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