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O Titanic da educação

O problema é que quem vai ter de lutar para respirar são os alunos, que julgava-se pudessem ser a razão de ser de haver escolas e docentes. Podem vir a não ter exames, nem notas, nem aulas.

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No melhor diálogo desse filme decrépido como é "Titanic", alguém pergunta: "Este barco pode afundar-se?" E um marinheiro responde: "é feito de ferro, senhor. Asseguro-lhe que pode afundar-se." O sector da educação, mais do que todos os outros, é o nosso Titanic. A educação também é feita de ferro e, por isso, vai-se afundando todos os dias defronte dos nossos olhos. Longe vão as reformas revolucionárias, como as de Veiga Simão, antes do 25 de Abril. Ou mesmo o tempo das paixões, como no consulado de António Guterres. Agora a educação é apenas um albergue espanhol, onde um orçamento descomunal serve para tudo: reformas curriculares quando um ministro quer ficar na história, acordos ortográficos feitos à medida de interesses económicos, burocratas, docentes tratados como "man-power" e sindicatos que defendem sobretudo os interesses do partido a que pertencem. Pelo meio ficam os alunos, o elo mais fraco da cadeia alimentar em que se transformou o Ministério da Educação. O relatório do IAVE, divulgado ontem pelo "DN", exemplificava o estado de sítio em que vive a nossa educação: 45% dos alunos do 2º ciclo não conseguiam localizar Portugal no continente europeu utilizando os pontos da rosa-dos-ventos.

 

É por isso que, no meio deste confrangedor panorama, se assiste a um tumulto que promete: os sindicatos de professores (cada vez mais) contra o ministro da Educação. Na base do diferendo, o tempo de serviço congelado. Entre nove e dois anos há um fosso do tamanho do Alqueva: todos se podem lá afogar. O problema é que quem vai ter de lutar para respirar são os alunos, que julgava-se pudessem ser a razão de ser de haver escolas e docentes. Podem vir a não ter exames, nem notas, nem aulas. Ou seja: para que é que os professores os tentam motivar a estudar, se depois isso pode não servir para nada? Com que cara responderão os docentes se um aluno lhes perguntar isto? Talvez como o mestre da lucidez fundida, Arménio Carlos: perdeu dinheiro com a greve? Mande a conta ao Governo.

 

Grande repórter

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