Opinião
O meu aeroporto
Desde que um candidato a presidente da Câmara Municipal de Coimbra pediu, sem se rir, um aeroporto internacional para a sua cidade que se acredita que tudo é possível em Portugal.
Empolgados pela ideia, candidatos às freguesias de A-dos-Pategos e do Xangaio também pensam pedir um aeroporto internacional para as suas localidades, para atrair turismo, ou, se tal não for possível, um heliporto ou mesmo um porta-aviões. Não é nada que admire: nos tempos áureos dos dinheiros comunitários fizeram-se polidesportivos encostados uns aos outros porque cada localidade se julgava com o direito de ter um. Pedir, ou mesmo exigir, é um direito. Mas muitas vezes isso parece ter nascido num qualquer "Verão do Amor", ao som das guitarras dos Jefferson Airplane, e sob o efeito de um qualquer LSD comprado na loja dos 300.
O que pede um autarca não é nada comparado com o que pode pedir um líder partidário. Basta escutar o que pedem PCP e BE, confundindo o OE com uma vaca leiteira. Isto quando se sabe que o caminho ainda é estreito entre o défice, a dívida e o olhar atento da UE e do FMI. Bastou escutar Jerónimo de Sousa na Festa do Avante!, pedindo mais impostos para o "grande capital" (que hoje, apesar da distracção do secretário-geral do PCP, é em grande parte estrangeiro) e mais distribuição de dinheiro, para se perceber que há quem patine na maionese.
O PS vai ter de negociar este OE à esquerda e esta quer mais distribuição. Mas o Governo não pode deixar de travar os gastos, para não se perder num labirinto. É um trilho apertado, especialmente numa altura em que PCP e BE esgrimem espadas para garantir o controlo político/sindical da grande unidade industrial nacional, a Autoeuropa. Onde podem, à custa da sua ganância ideológica, colocar Portugal novamente no assador de uma qualquer sucessora da troika. São estes desvarios que costumam acontecer em Portugal depois dos cíclicos apertos de cinto. Todos querem um aeroporto internacional à sua porta. Eu também.
Grande repórter