Opinião
O grande jogo entre Índia e China
Nas múltiplas fronteiras dos Himalaias, discute-se as zonas de influência no oceano Índico. China e Índia são os dois protagonistas deste novo grande jogo.
Pode parecer um conflito muito longínquo, mas a crescente guerra de palavras entre a China e a Índia (especialmente numa altura em que o afastamento do primeiro-ministro do Paquistão pode trazer o regresso dos militares ao poder e aumentar assim a pressão sobre o disputado território de Caxemira) é preocupante. As linhas de demarcação fronteiriça entre os dois países continuam sem estar definidas e a esfera de influência, em pequenos estados nos Himalaias, também não. Na semana passada, Pequim desenhou a linha vermelha: que a Índia deve deixar "território chinês" sem condições. Um dos alvos favoritos das críticas chinesas a Nova Deli é o Conselho de Segurança Nacional da Índia, Ajit Doval, que depende directamente de Narendra Modi, o primeiro-ministro indiano. No fundo, o alvo é Modi. O teatro de contestação entre os dois países é a região de Doklam, entre o Sikkim, o Tibete e o Butão, considerado por Pequim como um aliado da Índia. Tropas indianas foram, de resto, enviadas para ali. Este conflito representa também a clara concorrência entre as duas mais populosas nações do planeta. Este confronto, para já de palavras, enquadra-se na mais vasta alteração de poderes na região, sobretudo com as iniciativas económicas da Rota da Seda da China e o seu crescente poder naval no oceano Índico. E isto cria complicações para a Índia, ela própria uma potência na auto-estrada marítima da Ásia. Pequim é cada vez mais o centro nevrálgico destas mutações, que colocam Nova Deli numa posição menos importante, o que já se reflecte em países tradicionalmente na órbita da Índia como o Sri Lanka. A China, com as suas linhas económicas e de comboios rápidos ou vias marítimas, está a criar uma rede de conexões fortes de Dacca a Bandar Abbas. Isso entra em choque com as teses da elite que ocupa o poder em Nova Deli, que vê o oceano Índico como uma esfera de influência para o país.
Isto é, o conflito nos Himalaias é apenas a ponta do icebergue de uma disputa que se vai intensificar nos próximos tempos entre dois enormes países que estão em graus diferentes de crescimento económico. E que acabam por ser concorrentes numa zona que está demasiado fragilizada. O peso económico da China, através da sua iniciativa de criação de ligações infra-estruturais, coloca pressão sobre a Índia, que tem como problema fundamental o Paquistão, que é uma barreira terrestre para a sua ligação à Europa e à Ásia Central. Um novo grande jogo está a desenvolver-se.
Timor-Leste: a vitória da Fretilin e o futuro
As contas estão feitas: a Fretilin ganhou as eleições em Timor-Leste, com 23 deputados, o que poderá levar Mari Alkatiri, o seu líder, para o cargo de primeiro-ministro. O CNRT ficou em segundo, e da junção dos dois partidos poderá nascer um governo de ligação. Será curioso ver a posição que tomará a terceira força mais votada, o Partido de Libertação Popular (PLP), liderado pelo ex-Presidente, Taur Matan Ruak, que tem sido um forte crítico das decisões dos dois primeiros partidos na gestão das receitas do Estado em Timor-Leste. De resto, o PLP desafiou abertamente os grandes projectos de desenvolvimento dos anteriores governos, que depende em cerca de 90% das receitas do petróleo.
E, na realidade, os resultados reforçam a "união real" entre Fretilin e CNRT no país, que durante a campanha eleitoral evitaram criticar-se um ao outro. Há quatro meses o CNRT apoiou claramente o candidato da Fretilin, Francisco "Lu-Olo" Guterres, que venceu. A grande surpresa eleitoral foi o Khunto, um partido sem experiência política, que tem fortes ligações a grupos de artes marciais e que tiveram implicações em algumas instabilidades no passado. Mas é um partido que apela aos mais jovens.
Para lá das cumplicidades políticas, o que parece estar cada vez mais em causa é o modelo de desenvolvimento de Timor-Leste. Dependente do petróleo, o fundo soberano (que verá valer 16 mil milhões de dólares) poderá secar se se mantiver a aposta em grandes projectos de infra-estrutura. A isso acresce o maior campo de petróleo e gás, Bayu-Undan, que deverá secar em 2023. Este dado terá repercussões muito fortes na economia de Timor-Leste e, por acréscimo, nas relações políticas e sociais da jovem nação. O que pode vir a ser preocupante num futuro próximo.
S.Tomé/China: OE rectificado
A Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe aprovou o Orçamento Rectificativo para 2017 com os votos do partido no poder, Acção Democrática Independente, que visava enquadrar os financiamentos resultantes da nova cooperação com a República Popular da China. A proposta do Orçamento Rectificativo 2017 foi considerada "inevitável" pelo governo face à vontade expressa pela China de iniciar um novo ciclo de cooperação. O apoio é estimado em pouco mais de 146 milhões de dólares. O enquadramento orçamental das verbas da cooperação chinesa estará em conformidade com as recomendações do FMI, visando ajustar as despesas às receitas e prevendo uma redução do défice orçamental para 1,8% do PIB em 2017.
China: apoio a Bissau
A China vai doar 26 milhões de dólares para financiar a construção do porto de pesca de Alto Bandim, em Bissau. O início dos trabalhos, de acordo com o documento ora firmado, está previsto para dentro de três meses e as obras terão a duração de dois anos. n
Portugal: primeiro voo de Hangzhou
O primeiro voo proveniente de Hangzhou, com escala em Pequim, aterrou quarta-feira no aeroporto de Lisboa. Portugal recebeu em 2016 cerca de 200 mil turistas chineses, tendo o embaixador de Portugal na China, Jorge Torres-Pereira, afirmado há dias que o país pode, com esta ligação aérea, ter como objectivo chegar a um milhão de turistas chineses por ano. Estes voos estão a ser realizados pela companhia aérea Beijing Capital Airlines, do grupo HNA, sendo a frequência actual de três voos por semana, podendo mais voos ser adicionados no próximo Inverno. O grupo HNA, com sede na ilha de Hainan, tem uma participação indirecta na companhia TAP, através da companhia aérea brasileira Azul, onde controla 23,7% do capital social.