Opinião
China e EUA: a grande muralha
Pequim pode limitar importações de tudo, de filmes de Hollywood até produtos farmacêuticos. E isso seria um rude golpe para a economia americana.
As palavras agressivas de Donald Trump sobre a China durante a campanha presidencial não ficaram esquecidas. Mesmo se tivesse existido um amaciamento com as reuniões entre Trump e Xi Jinping. Mas a verdadeira guerra comercial que os EUA lançaram contra as importações de outros países parece agora ter atingido algo há muito esperado: a China. Tudo começou com o anúncio de taxas de importação sobre o aço e o alumínio que atingiram muitos países aliados (da União Europeia ao Canadá) e pouco Pequim. Foi o primeiro sinal de que a economia global não irá ficar igual. Trump teve de recuar: isentando o Canadá e o México e depois outros países. A sua tese é que os EUA têm sido enganados e acredita piamente que os americanos têm um défice comercial porque para ele qualquer acordo tem de ter como resultado um "zero". O que, numa economia como a americana, isso é uma ilusão. Porque ela está ligada a factores políticos, culturais e militares que têm de ser incluídos nesse balanço. Algo que Trump não faz. Agora é a vez da China, que reagiu com prudência à ambição de Trump de taxar em milhares de milhões de dólares as importações chinesas. Ao contrário da UE que actuou dando o exemplo de alvos de retaliação, a China apenas mostrou o seu descontentamento. A UE sabia os alvos: a Harley-Davidson tem o seu QG em Wisconsin, o lugar por onde foi eleito Paul Ryan. E o bourbon é uma exportação vital para o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, do Kentucky.
Mas a Ásia tem trunfos mais fortes - é um dos maiores clientes dos agricultores americanos. Se a China cancelar todas as encomendas de aviões Boeing, poderá eliminar 180 mil empregos nos EUA. E criar taxas em produtos da Apple, General Motors ou Walmart poderia fazer severa mossa em Wall Street. Para já não falar do volume alucinante que a China detém de dívida pública americana (tem 1,2 triliões de dólares de títulos do Tesouro) que, a ser colocada no mercado, poderia ter um efeito terrível em toda a economia global. Pequim pode limitar importações de tudo, de filmes de Hollywood até produtos farmacêuticos. E isso seria um rude golpe para a economia americana. E se o Japão se sentir ameaçado (tem 1,1 triliões de dólares de títulos do Tesouro americano), tudo se poderá complicar a sério. Que deseja então Trump?
O Irão e o complexo John Bolton
É cada vez mais evidente a mudança da política americana face ao Irão. Voltou a ser um dos inimigos declarados da administração Trump, ao mesmo tempo que se assiste a um alinhamento profundo com a Arábia Saudita, como se viu durante a visita do príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman a Washington há poucos dias. Agora, com o afastamento de um dos últimos "moderados" da administração, o general McMaster, e a chegada de John Bolton, um "falcão" conhecido pelas suas frases bombásticas e pela sua visão radical sobre o Irão e a Coreia do Norte, ao Conselho Nacional de Segurança, parece evidente que as relações entre os EUA e o Irão vão piorar.
Bolton criticou de forma audível o acordo nuclear de 2015 com o Irão e sempre pediu medidas agressivas contra Teerão. Agora, com a sua nomeação para conselheiro de segurança, Trump parece ter decidido que o Irão é um inimigo a abater. Ninguém imagina qual serão os próximos passos de Trump no escaldante conflito do Médio Oriente, mas poucos duvidam de que Bolton atirará mais gasolina para o fogo. Mas apesar de esta atitude bélica dos EUA ir causar problemas nas esperanças iranianas de um maior desenvolvimento económico e abertura ao mundo, muitos acreditam que são os EUA que têm mais a perder. Resta saber o que irá fazer a União Europeia, que tem apostado de forma clara, no acordo e nas perspectivas económicas que se abrem às suas empresas no vasto mercado iraniano. Há já muitos investimentos feitos e se os EUA decidirem por uma opção militar (ou alinharem com Riade numa opção local), isso levantará questões muito importantes. A hipótese de se matar a janela de diálogo aberta é clara. Para Bolton, o Irão é o pior inimigo dos EUA. E Trump pensa o mesmo. Defende acções militares contra as instalações nucleares iranianas como fez Israel em 1981 no Iraque. Com Bolton e Mike Pompeo no departamento de Estado, Trump parece estar a desenhar um gabinete de guerra. Resta saber se o primeiro alvo é o Irão.
Timor-Leste: menos gastos públicos
A economia não-petrolífera de Timor-Leste recuou 1,8 por cento em 2017 devido, sobretudo, à redução significativa dos gastos públicos, que continuam a ser os principais motores da economia do país, segundo um relatório do Banco Mundial. O relatório comprova o impacto que a crise política de Timor-Leste está a ter na economia timorense, com os gastos do executivo a caírem 24 por cento em 2017 face a 2016. A economia não-petrolífera, que havia crescido cinco por cento em 2016, recuou 1,8 por cento em 2017. O relatório prevê que a economia regresse a níveis positivos em 2018, com o PIB não-petrolífero a crescer 2,8 por cento e com a previsão de um regresso do investimento privado no curto prazo. A queda na produção petrolífera e a redução na exportação de café em 2017, devido a piores condições climáticas, também afectaram a economia timorense. O rendimento nacional bruto, que caiu de 4,5 mil milhões em 2011 para 2,3 mil milhões em 2016, recuperou ligeiramente para 2,9 mil milhões em 2017.
China/Angola: mais agricultura
A decisão do governo de Angola de encarar o sector agrícola como uma das prioridades de desenvolvimento nacional está a fazer com que empresas chinesas se posicionem para entrar no país, segundo o portal China-Lusophone Brief. Num artigo intitulado "Pode a agricultura de Angola aprender com a experiência de Moçambique", o CLBrief (www.clbrief.com) cita o Instituto Nacional de Estradas de Angola para referir a importância de recuperar mais de 7.000 quilómetros de estradas que são fundamentais para a distribuição de produtos agrícolas e que neste momento são um estrangulamento ao desenvolvimento do sector. Em Janeiro, a CITIC e a Companhia China Huashi Enperprises anunciaram planos para desenvolver o agronegócio e projectos de água na província angolana de Huíla num dos primeiros investimentos chineses no sector. Entretanto, a empresa de Hubei Wanbao Grains and Oils anunciou que vai investir 250 milhões de dólares numa área de 20 mil hectares para cultivar cereais e arroz, no Vale do Limpopo, perto do Xai Xai, no Sul de Moçambique. O governo de Moçambique deverá igualmente aprovar um projecto de produção de feijão e milho das empresas chinesas PowerChina International Group e Xinjiang Production and Construction Corporation que vai ocupar uma área de 3.000 hectares junto ao rio Limpopo.