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24 de Outubro de 2016 às 19:15

A tragédia de duas cidades

Mossul e Aleppo vivem horas decisivas, entre bombardeamentos aéreos, luta sangrenta e "danos colaterais" nos civis. O que virá depois do fim dos combates?

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Mossul, no Iraque, e Aleppo, na Síria, têm tudo que ver. Fazem ambas parte de um conflito mais generalizado no Médio Oriente, onde todos os caminhos parecem ir dar ao Daesh, mas que tem ligações mais vastas e contraditórias. No terreno, os que atacam ambas as cidades dependem do apoio aéreo estrangeiro (russo, em Aleppo, americano em Mossul). E não deixa de ser curioso a forma como a situação da população civil é vista de modo diferente consoante a cidade a que os ataques são dirigidos: os feitos a Aleppo são "crimes", os feitos a Mossul são "libertadores", com danos colaterais porque os Daesh usa "escudos humanos". Seja como for, os ataques aéreos substituíram os cercos de outras eras: as cidades são destruídas do ar. Há um ponto em comum: Mossul e Aleppo são cidades maioritariamente habitadas por sunitas e quem as controla são extremistas: o Daesh em Mossul e a Nusra (na zona leste de Aleppo). Pela frente têm sobretudo forças governamentais, onde o peso xiita é fulcral. A divisão étnica e religiosa é total e, talvez por isso, Bagdade e Damasco necessitam do apoio externo. Sejamos claros: em Aleppo, as tropas que estão na frente são principalmente milícias xiitas recrutadas no Líbano, no Iraque e no Afeganistão e pagas pelo Irão; no caso de Mossul, as tropas atacantes são ainda mais variáveis, entre o exército regular (de maioria xiita), as milícias xiitas e os curdos.

Aqui sobra a questão: Bagdade diz que em Mossul entrará o exército e não as milícias. Os americanos (que devem ter cerca de 5.000 militares na zona) não entrarão em combate directo e os turcos (que estiveram a treinar uma milícia sunita) também ali deverão ter cerca de 1.500 militares. Em Mossul, haverá um combate sangrento e dificilmente os "ataques cirúrgicos" dos aviões americanos não deixarão um rasto de sangue entre os civis, porque a zona central só cairá debaixo de intenso fogo aéreo. No fundo, americanos e russos infligirão pesadas baixas civis. A queda de Mossul cercará ainda mais o Daesh (que emigrará cada vez mais para o Sudoeste Asiático, para a Europa e para a África central). O "califado" de Abu Bakr al-Baghdadi perderá a cidade onde foi proclamado. E depois? Como irá o vitorioso Iraque, dominado pelos xiitas, conviver com os sunitas, algo fundamental para a estabilidade? E é isso que Bagdade nunca conseguiu nestes anos. A vitória militar necessitará de uma vitória política a seguir. E esse será o novo problema do Iraque.

Líbano: a questão presidencial

O Líbano, no meio das inúmeras guerras que estão a destruir o Médio Oriente, parece hoje um oásis de paz, onde alguns equilíbrios se vão mantendo depois de uma história recente recheada de conflitos e destruição. Não deixa de ser curioso por isso que o antigo primeiro-ministro, Saad Hariri (sunita, cujo pai Rafiq, então primeiro-ministro, terá sido assassinado em 2005 por acção dos serviços secretos sírios), tenha defendido que Michel Aoun, antigo adversário político e um aliado do Hezbollah, seja o próximo Presidente do país. O processo advinha-se complicado: segundo a Constituição do Líbano, o Presidente deve ser um cristão maronita, o primeiro-ministro um sunita e o líder do Parlamento um xiita. Mas este, Nabih Berri, líder dos xiitas do Amal, já disse que não quer Aoun como Presidente. O pacto político libanês é, como já se provou, muito instável. Mas Hariri parece saber o que pretende, depois de ter visitado França e a Arábia Saudita. Aoun, por seu lado, quando foi general combateu os sírios (com o apoio de Saddam Hussein) e teve de se exilar. Voltou como amigo de Bashar al-Assad. A decisão de Hariri pode ajudar a desbloquear a confusão política existente naquilo que foi a Paris do Oriente e que continua a ser das mais fascinantes cidades do Médio Oriente.

Hariri disse que "esta decisão vem da necessidade de proteger o Líbano, o Estado e o povo, mas é uma decisão que depende de um acordo". Especula-se que Hariri poderá tornar-se primeiro-ministro se esta solução se concretizar, mesmo com resistência de membros do seu próprio partido. Aoun é um veterano com mais de 80 anos e há muito sonha ser Presidente, cujo poder é limitado. A próxima reunião do Parlamento está agendada para 31 de Outubro e o Presidente deve ser eleito por dois terços dos 128 deputados.

Coreia: ciclo de cinema em Lisboa

Realiza-se no cinema Nimas, em Lisboa, a Mostra de Cinema Coreano, que permitirá conhecer a realidade cinematográfica daquele país. O evento decorre de 27 de Outubro a 3 de Novembro, com 10 filmes, entre os quais estarão "A nossa Sunhee" de Hong Sang-soo, "JSA (Joint Security Area)" de Park Chan-wook, "Sonho (Dream)" de Kim Ki-duk. O destaque do programa vai para a película centenária "Para Além do Tempo" de Im Kwon-taek, considerado o pai do cinema coreano contemporâneo.

Macau: plataforma de serviços

Macau pretende fazer o aproveitamento integral do princípio "um país, dois sistemas" e dos emigrantes que regressam para acelerar a sua transformação num centro mundial de lazer e turismo e numa plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa, disse o chefe do executivo de Macau, Chui Sai On, durante a "Reunião conjunta dos dirigentes executivos da região Pan-Delta do Rio das Pérolas 2016". Chui Sai On mencionou ainda como objectivos o desenvolvimento do sector de convenções, de medicina tradicional chinesa e das indústrias criativas a fim de participar, com as províncias "irmãs", na estratégia nacional "uma faixa, uma rota." Chui disse também que na cooperação com as províncias do Pan-Delta do Rio das Pérolas é necessário organizar os recursos turísticos.

China: investe no metro

O investimento da China em sistemas de metropolitano deverá atingir 148 biliões de dólares em 2020, já que o Governo está a acelerar a aprovação desses projectos. Desde Setembro, Pequim aprovou mais de 100 biliões de yuan de projectos de comboios urbanos nas cidades de Baotau, Urumqi e Xiamen. Neste momento, 40 cidades chinesas estão a construir sistemas de metro e 60 outras estão a desenvolver planos para o fazer.

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