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A reforma de Montenegro

Sérgio Leone, que descobriu Clint Eastwood, dizia que ele era um actor com dois registos: um com chapéu e outro sem chapéu. E que, quanto menos falasse, mais os espectadores gostariam dele.

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Clint, cuja carreira política nunca foi além de presidente de um município rural nos EUA, equivocara-se com as suas qualidades. Diziam os críticos que quando conversava com uma cadeira perdia, porque esta tinha maior expressividade e melhores argumentos. Neste compasso de espera da política portuguesa, onde quase todos jogam à defesa, assistimos a muitos momentos Clint Eastwood, onde se aplica a elasticidade da sétima arte à política. Há dias, Luís Montenegro, político arguto que foi o mais afinado e abnegado defensor no Parlamento das políticas da troika e de Passos Coelho, foi orador num almoço do International Club de Portugal. Não desiludiu, nem na forma, nem no conteúdo. Montenegro não é um turista político: investe no poder. Sem o dizer, já mostrou que quer atingir o estado superior de lenda urbana. Ou seja, acredita que o ceptro do PSD pode estar nas suas mãos.

 

Este não é o tempo de abrir jogo: as cartas devem-se guardar até ao momento certo. Montenegro, crente à sua maneira em Pedro Passos Coelho, mas não um devoto, apoia o líder enquanto se ajuda a si próprio. É uma atitude sábia. Enquanto isso vai apresentando as suas ideias de "reforma" política e económica: um só IVA e, mais imaginativo, um modelo eleitoral próximo do da Grécia. Para Montenegro, o partido vencedor deveria ter uma prenda de 50 deputados, porque assim, argumenta com brilhantismo dialéctico, se "aproximariam" eleitores de políticos. É claro que a ideia é um equívoco, como Montenegro sabe. Ela apenas traria, no limite, governos sólidos (ou não, como se viu na Grécia). Não há aqui qualquer elixir divino para aproximar eleitores e políticos. Pelo contrário: passariam a ser eleitos alguns deputados através de uma fórmula química, uma espécie de enxofre artificial. Não é, claro, assim que os políticos seriam a voz do país real.

 

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