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A nova guerra das estrelas da Europa

Em 1977, passam agora quatro décadas, duas descargas eléctricas devolveram alguma energia à cultura urbana ocidental e delimitaram o novo mundo económico, social e económico em que ainda vivemos.

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George Lucas estreava o primeiro filme da saga "Star Wars". Os Sex Pistols lançavam o seu primeiro álbum. Aparentemente nada de comum havia entre os dois factos. Mas, cada um à sua maneira, mostravam que as águas calmas em que navegava a cultura precisavam de uma tempestade que agitasse as ideias. "Star Wars" trouxe para o cinema o fascínio dos efeitos especiais, mostrando o poder tecnológico que iria, nos anos seguintes, transformar a nossa existência. Os Sex Pistols transportavam a ideologia DIY (Do It Yourself), que se transformaria na cultura existencial dominante nas décadas seguintes, com o renascer do individualismo. As duas visões de futuro também se confrontavam: enquanto os punks gritavam "no future!", George Lucas dizia-nos que o futuro, para lá da hegemonia tecnológica, voltava a trazer-nos as duas faces da mesma moeda: o Bem e o Mal são irmãos gémeos. Se os Sex Pistols apostavam no ruído para chocar a sociedade da melodia, "Star Wars" deixava-nos nas mãos do hipnotismo tecnológico. Tantos anos depois percebemos que a visão do mundo de George Lucas triunfou: a tecnologia tornou-se o guia espiritual da nossa sociedade de consumo. O ruído dos Sex Pistols ou foi absorvido pela sociedade ou atirado para as suas margens. A sociedade deslocou-se para o mundo virtual, como até hoje é visível na distribuição musical. O ruído é como a dor: as sociedades só gostam de o ver do outro lado da fronteira. Basta olharmos para a crise da emigração ou para os que ficaram excluídos da sociedade digital para percebermos isso.

 

Estamos novamente num limiar de mudança. A destruição da classe média, pilar da democracia e do Estado social, coloca desafios crescentes. Por outro lado voltámos à lógica de tribo. A eleição de Donald Trump nos EUA é um sintoma disso. Um mundo multipolar coloca-se defronte dos nossos olhos e as recentes sanções à Rússia, aliadas às rotas económicas da seda da China mostram que novas alianças se estão a forjar. E isso implica a destruição da célebre parceria EUA/Europa, que foi o pilar das sociedades mundiais no último século. As sanções económicas dos EUA à Rússia colocam um dilema à Europa, porque elas atacam a estratégia energética do Velho Continente: que é mais importante, uma aliança com os cada vez mais proteccioistas EUA, ou uma abertura à China, à Rússia e a outros? É um dilema estratégico que vai definir os próximos tempos, agora que estamos no limiar de uma nova revolução energética (aliada aos problemas ambientais que só alguns americanos não vêem).

 

A decisão dos EUA de aplicar mais sanções à Rússia vai obrigar a Europa a aproximar-se desta e da China. Ao colocar sob pressão as fontes de energia europeias (porque prevê sanções a empresas europeias ligadas à construção de pipelines para trazer energia da Rússia para a Europa), os EUA dão um tiro no pé. E nesse aspecto os EUA também ferem a Turquia, velho aliado. O tempo de "Star Wars" e dos Sex Pistols teve o seu auge com os reinados de Reagan e Thatcher e estabeleceu a nova paz da economia de mercado no mundo. Mas agora são os outros (China, Rússia) que defendem o comércio livre. Não deixa de ser um paradoxo.

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