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A nossa casa comum e a economia social*

Há quase cinquenta anos, Paulo VI ilustrava-nos que "por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, [o ser humano] começa a correr o risco de a destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação".

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João Paulo II em "Redemptor hominis" afirmou que os humanos não parecem "dar-se conta de outros significados do seu ambiente natural, para além daqueles que servem somente para os fins de um uso ou consumo imediatos".

 

Na sequência, em 2007, num discurso dirigido ao Corpo Diplomático, Bento XVI, exortou à correção dos "modelos de crescimento que parecem incapazes de garantir o respeito do meio ambiente".

 

Também na sua mensagem de 2012 para o "Dia de Oração pela Salvaguarda da Criação", o Patriarca Bartolomeu, líder da Igreja Ortodoxa de Constantinopla, revelou a sua preocupação, afirmando que nós "todos, na medida em que causamos pequenos danos ecológicos … [damos] a nossa contribuição - pequena ou grande - para a desfiguração e destruição do ambiente".

 

Por sua vez, o atual Dalai Lama, Lhamo Dondrub, afirmou recentemente que "gradualmente, graças ao que nos informa a comunidade científica, através da consciencialização, ficamos a saber que o ambiente é uma questão que diz respeito à nossa própria sobrevivência. Não à minha, não à de uns milhares de pessoas, mas à sobrevivência de quase sete mil milhões de pessoas".

 

Na perspetiva islâmica do tawhid, o ser humano, dotado de arbítrio moral, deverá tratar de forma sustentável a natureza, preservando-a para as gerações futuras.

 

É de tudo isto que o Papa Francisco se ocupa na sua recente encíclica "Laudato Si", onde lança um "urgente desafio de proteger a nossa casa comum [que] inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral".

 

Este apelo premente segue e apoia o trabalho desenvolvido por mais de 20 agências da ONU que se preocupam com a aplicação universal dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, basilares para um maior equilíbrio entre a natureza e os humanos e dos próprios humanos entre si. Essas mesmas agências da ONU, constatando o atraso na aplicação daqueles 17 objetivos e reconhecendo a necessidade de repensar o desenvolvimento, apelaram à participação ativa das organizações da economia social e criaram a "UN Inter-Agency Task Force on Social and Solidarity Economy" que inclui representantes de cooperativas, mutualidades, fundações e associações de todo o mundo, disponíveis para promoverem ações de sensibilização sobre esta questão.

 

A Associação Mutualista Montepio Geral, a maior associação e organização mutualista nacional e uma das maiores a nível europeu, e todo o Grupo Montepio (Banco, Seguradoras, Residências, Fundos de Pensões, Gestão de Ativos, …), o maior grupo da economia social portuguesa, partilham totalmente estes princípios e procuram estabelecer compromissos de desenvolvimento sustentável.

 

Neste sentido, têm vindo a ser definidos, em cada ano, desde 2014, objetivos, ações e metas de sustentabilidade, cuja realização é monitorizada, por se tratar de uma área de responsabilidade social e societal de grande relevância no seio do Grupo.

 

A razão de ser do Montepio Geral é, ao fim e ao cabo, desde há 178 anos, a sustentabilidade social intergeracional.

 

* Trata-se de um dos últimos textos elaborados com a participação de Jorge de Sá.

 

A economia social está de luto

 

Faleceu Jorge de Sá. Recebemos a notícia, no início da manhã da passada quinta-feira, dia 4 de abril. Foi um choque, inesperado e de uma imensa tristeza. Um sentimento de vazio apoderou-se dos nossos corações.

 

Não queríamos acreditar. Ainda na véspera tinha estado a agendar reuniões e a preparar iniciativas. Ainda há poucos dias, tinha estado a fazer uma brilhante intervenção sobre a "identidade da economia social", na Azambuja, durante a jornada de reflexão da Confederação Portuguesa da Economia Social (CPES).

 

Jorge de Sá, professor universitário e investigador, era um cidadão ativo e uma referência da economia social, com uma presença dinâmica em várias frentes e entidades: membro do Conselho Nacional para a Economia Social, presidente do CIRIEC Internacional e do CIRIEC Portugal, vice-presidente da Associação Portuguesa de Mutualidades, vice-presidente da assembleia geral da CPES, membro da "Task Force" das Nações Unidas para a Economia Social e Solidária, entre outros.

 

Jorge de Sá deixou de estar entre nós, mas está em nós, ativistas da economia social. As suas ideias e a sua visão permanecerão vivas entre todos aqueles que com ele conviveram e dele receberam o seu saber, ânimo e força na promoção e concretização dos ideais da economia social.

 

Administrador da Associação Mutualista Montepio Geral

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