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Pedrógão em 5G

As comunicações 5G no seu formato final permitem um nível de disrupção tecnológica que permitirá dotar as sociedades de um alcance único na gestão de situações de crise, onde a complexidade de variáveis e tempo de resposta são cruciais.

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Todos os anos, os incêndios florestais são uma realidade que nos deixa, enquanto cidadãos e comunidade, sentimentos de profunda impotência e frustração.

 

Estes sentimentos foram exponenciados pela tragédia de Pedrógão e os últimos acontecimentos deste verão trouxeram à memória a imagem ainda recente de uma estrada infernal.

 

Já muito se escreveu sobre incêndios e a razão de retomarmos este tema prende-se com uma nova visão de ataque a este flagelo nacional, combinando o que de melhor se faz por terras Lusas com a disrupção digital alavancada pelas novas capacidades de comunicações 5G.

 

E a pergunta de um milhão que se coloca é: "E como se pode materializar?"

 

Imagine que no "teatro de operações" temos à disposição um conjunto de ferramentas adicionais que cobrem necessidades básicas atuais. Comecemos com a utilização de UAV (Unmanned Aerial Vehicles) com capacidade para sobrevoar, a grande altitude e durante mais de 8 horas, a área de incêndio, e de captar, em tempo real, imagens em alta resolução, enquanto sensoriza o meio envolvente e reforça o sinal de comunicações. Adicionemos esquadrões de drones não tripulados, com cargas de material anti-incêndio, que permitem o sempre ambicionado efeito carrossel na cadência de ataque às frentes de incêndio, libertando os operacionais no terreno das terríveis frentes de ataque. No terreno, "wearables" que permitem analisar, em tempo real, os sinais vitais dos bombeiros e restantes operacionais, analisando e prevendo o seu nível de fadiga e de necessidade de descanso, complementados com capacetes com capacidade para realizar vídeo-chamadas com os restantes elementos no terreno enquanto efetuam a leitura de gases inflamáveis e a necessidade de utilização de máscaras.

 

Localizadores de veículos (ex. carros de combate, ambulâncias, proteção civil...) com informações detalhadas sobre o seu estado, combustível e autonomia, nível de água ou de material anti-incêndios que permitam que sejam geridos como uma rede de veículos inteligentes. Para ajudar a entender o ambiente circundante, sensores florestais e estações meteorológicas que analisam o meio envolvente e transmitem dados em tempo real como humidade, vento, temperatura e probabilidade de chuva, enquanto alimentam modelos preditivos que, com apoio da Realidade Virtual 3D, permitem ao centro de comando simular e antecipar o movimento das chamas, posicionando de forma atempada as forças no terreno. Tudo isto complementado por kits distribuídos junto de populações em risco, com coletes sensorizados que podem ser vestidos em situação de crise e permitem a identificação precisa da localização.

 

A conjugação destas ferramentas ou outras semelhantes para o apoio nas tomadas de decisão em tempo real serão um "game changer", nomeadamente no efetivo combate aos incêndios. Adicionalmente, e segundo o relatório da Comissão Técnica Independente de análise aos incêndios de Pedrógão, o custo social total dos incêndios em Portugal no período 2000-2016 ascendeu aos 6 mil milhões de euros e os casos descritos, embora parecendo saídos de um filme de ficção cientifica, são tangíveis, fáceis de pôr em prática e com um custo de implementação extremamente baixo quando comparável com estes números. 

 

Suportados por uma largura de banda +10 vezes superior à atual, com uma latência <1 MS e com a capacidade para suportar um milhão de "devices" por KM2, as comunicações 5G no seu formato final permitem um nível de disrupção tecnológica que permitirá dotar as sociedades de um alcance único na gestão de situações de crise, onde a complexidade de variáveis e tempo de resposta são cruciais. É tempo, como sociedade, de o fazermos.

 

Principal Diretor da área de Comunicação, Media e Tecnologia da Accenture Portugal

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