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O mundo a depender da China

As empresas farmacêuticas chinesas forneceram mais de 90% dos antibióticos americanos, vitamina C, ibuprofeno, entre outros, nos últimos anos, de acordo com Yanzhong Huang, um dos principais responsáveis pela saúde mundial no Conselho das Relações Externas.

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A dependência da China em diversos países é algo que já se verifica desde a sua entrada na Organização Mundial do Comércio visto que muitas empresas realocaram as suas operações naquele que é o país com o maior número de habitantes do mundo. No entanto, nos tempos em que vivemos hoje, onde a capacidade de produção e transporte encontram-se bastante limitadas, sente-se o perigo do mundo depender da China. 

 

A enorme dimensão e população da China bem como uma distinta capacidade de produção contribuem para um aumento do seu domínio e controlo na economia global. Nos últimos anos, a sua influência aumentou, juntamente com a sua economia, à medida que os Estados Unidos e a Europa foram recuperando de crises financeiras devastadoras. Esta situação afetou vários países, em especial os EUA, tendo em conta o seu foco de manter uma posição dominante no mundo. Após a entrada da China na W.T.O. (Organização Mundial do Comércio) em 2001, as suas exportações duplicaram em apenas três anos e quase triplicaram após quatro anos. Diversos fabricantes no mundo inteiro deslocaram as suas operações por completo para a China, enquanto os consumidores de todo o mundo passaram a receber o que procuravam a um preço bastante inferior.

 

No entanto, em tempos de crise como a que vivemos hoje, é quando mais se verifica uma maior dependência da China. A pandemia da Covid-19 representa um desafio incomparável para os sistemas de saúde europeus e um grande choque para a economia do continente. Consequentemente, a questão que surge é que lições de política industrial devem ser retiradas da dramática falta de oferta de equipamento médico e da escassa autonomia da Europa para a produção de bens essenciais?

 

A Europa enfrenta graves limitações na aquisição de medicamentos hospitalares cruciais necessários para combater o presente vírus, uma vez que se regista uma diminuição da capacidade global de transporte aéreo de mercadorias. O mesmo acontece nos EUA, que embora continue a ser considerado um líder mundial na descoberta de medicamentos, grande parte da produção foi transferida para o estrangeiro. A China desempenha um papel fundamental na cadeia de abastecimento global de produtos farmacêuticos. As empresas farmacêuticas chinesas forneceram mais de 90% dos antibióticos americanos, vitamina C, ibuprofeno, entre outros, nos últimos anos, de acordo com Yanzhong Huang, um dos principais responsáveis pela saúde mundial no Conselho das Relações Externas. Segundo um artigo do Financial Times, a Índia, que é um dos maiores exportadores mundiais de medicamentos, depende aproximadamente 70% da China para os seus ingredientes farmacêuticos. Alguns especialistas afirmam ainda que para muitos antibióticos e outros medicamentos que reduzem a febre, a dependência chega a ser de quase 100%.

 

As pessoas que se manifestam em favor da redução do domínio da China, utilizam a epidemia do coronavírus como exemplo para realçar o que dizem ser uma vulnerabilidade perigosa que poderá deixar grande parte do mundo sem medicamentos em caso de guerra, conflito comercial ou pandemia. Os planos de emergência para obter o equipamento necessário à presente situação demonstram a forma como o agravamento da epidemia tem vindo a sobrecarregar a capacidade da UE e dos EUA em materiais ligados à saúde e a expor a sua dependência de fontes externas, fora de controlo, para alguns produtos. "O surto de coronavírus tornou claro que devemos combater as vulnerabilidades da cadeia de abastecimento dos Estados Unidos devido à dependência da China em sectores críticos da nossa economia" disse o senador da Flórida, Marco Rubio.

 

O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, afirma que "Devíamos começar a produzir medicamentos com mais frequência na União Europeia novamente." Esta crise é uma oportunidade para a Europa redefinir a sua estratégia futura. Várias empresas adaptam-se diariamente ao desafio com soluções novas e criativas, e Portugal não tem ficado atrás no desenvolvimento de alternativas. Chegou o momento de debater a forma como as nossas futuras economias trabalham em paralelo com a China para a obtenção de bens necessários, e possivelmente repatriar parte da sua produção para a Europa, de forma a que estejamos melhor preparados para um desafio de dimensão equivalente ao atual.

 

Membro do Nova Investment Club

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