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Internacionalização da economia portuguesa: é possível pedir mais?

Face à globalização económica, a internacionalização tornou-se uma das estratégias mais importantes para as empresas que pretendessem potenciar o seu crescimento.

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Desde há cerca de dez anos que muito se tem falado da necessidade das empresas portuguesas internacionalizarem os seus negócios como forma de escaparem a um mercado interno estagnado, caracterizado por baixos níveis de investimento e crescimento económico e por uma desindustrialização crescente. A internacionalização é ainda vista por muitas empresas como uma forma de redução do risco através da pluralidade de países nos quais se implementaram. Dados os ciclos económicos, pretende-se que se compensem os resultados de uns países com os de outros e que se transformem desvantagens em vantagens. Com a possibilidade de encontrarem noutros países o acesso a fatores produtivos mais acessíveis e a custos mais reduzidos, as empresas veem na internacionalização a forma de reduzir custos e aproveitar economias de escala.

 

No entanto, para as nossas empresas tornou-se imperativo entrar no mercado global, não só numa ótica de sobrevivência, mas como parte da sua estratégia de crescimento pois, face à globalização económica, a internacionalização tornou-se uma das estratégias mais importantes para as empresas que pretendessem potenciar o seu crescimento.

 

A resposta dos empresários nacionais foi assinalável. Em 2008, o peso das exportações no PIB era de 32% subindo para 47% em 2018(1). No mesmo período, o número de empresas exportadoras cresceu de 54021 para 60577 empresas(1). Também são de assinalar as alterações ocorridas ao nível da estrutura das próprias exportações: enquanto em 2008 quase metade das exportações pertenciam à indústria transformadora e ao setor grossista e também os setores "tradicionais" representavam 22,9% das exportações portuguesas, em 2018 estes diminuíram para cerca de 12,4% das exportações. É também de destacar o papel do turismo como fomentador das exportações nacionais, apesar das exportações de bens, ou seja, excluindo os serviços (onde se inclui o turismo), apresentarem crescimentos de 50% em relação a 2008(1).

 

Recentemente, os números das exportações têm vindo a revelar alguma quebra. No passado mês de novembro de 2018, as exportações registaram uma diminuição de 8,7% (variação homóloga nominal). Em termos trimestrais a diminuição foi de 1% pela primeira vez nos últimos dois anos, principalmente devido à diminuição verificada nas exportações de Material de transporte (cerca de 29,4%) que podemos associar à greve dos estivadores no porto de Setúbal. Ainda em relação aos últimos desenvolvimentos, as empresas exportadoras perspetivam para 2019 uma desaceleração nas suas expectativas relativamente às exportações. Este pessimismo está aparentemente relacionado com o "efeito Brexit"(1).

 

A forte dependência de Portugal face ao exterior torna o país muito sensível a múltiplos fatores externos perturbadores. Entre esses, destacam-se a desaceleração do crescimento económico mundial, em particular na Europa, as tensões geo-políticas entre os EUA e a China, o Brexit e, finalmente, a possível instabilidade na Europa decorrente de resultados nas eleições europeias de maio que revelem uma importância crescente dos partidos de matriz anti-europeísta. Em relação ao turismo em particular, o regresso da atratividade de antigos destinos turísticos concorrentes de Portugal, pode ser uma ameaça a temer.

 

Que soluções?

 

Destacamos as seguintes: i) apoiar e incrementar os esforços de internacionalização, das empresas portuguesas, sobretudo a procura da diversificação de mercados e de produtos; ii) as empresas nacionais passarem cada vez mais a fazer parte das cadeias de valor internacionais, exportando produtos que importamos e aos quais seja acrescentado valor. Nesse âmbito, é fundamental atuar sobre os fatores que contribuam para reduzir o caráter periférico da economia portuguesa, apostando nas ligações infraestruturais e em plataformas logísticas; iii) continuar a apostar na inovação e na diferenciação dos produtos e serviços, aproveitando as ferramentas da transformação digital, como arma para concorrer nos mercados mais desenvolvidos e exigentes; iv) relativamente ao turismo, apostar no turismo de maior qualidade, associado à promoção de destinos regionais e produtos caracterizadores da cultura nacional e que possam constituir-se como embaixadores da marca Portugal; v) finalmente, a instabilidade politica e social vivida atualmente em países que tradicionalmente acolhem emigrantes portugueses e sabendo que estudos empíricos recentes confirmam que os emigrantes que retornam ao seu país de origem trazem consigo um conjunto de competências e experiência internacional essenciais nos processos de empreendedorismo internacional, dever-se-ia enfrentar essa possibilidade como uma oportunidade, mais do que encará-los como um fardo. Deveria, pois, reconhecer-se a relevância que as suas competências podem ter para os processos de internacionalização das empresas portuguesas, com políticas adequadas para os atrair e acolher.

 

(1)Dados do INE (www.ine.pt)

 

Docente e investigadora da Universidade Portucalense

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