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28 de Dezembro de 2012 às 12:28

Há sempre alguém que diz não

O ano vai fechar deixando-nos como nunca nos vimos, desde 1974. O infortúnio que nos atingiu ameaça tornar-se ainda mais gravoso.

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O ano vai fechar deixando-nos como nunca nos vimos, desde 1974. O infortúnio que nos atingiu ameaça tornar-se ainda mais gravoso. E o primeiro-ministro, com aquele ar de cangalheiro que transporta, agora, no rosto cansado e envelhecido, foi às televisões avisar-nos de que a sova vai continuar. O discurso de Natal é um tratado de hipocrisia, e arrepia os sentimentos das pessoas de boa consciência. O homem é useiro e vezeiro neste tipo de conversas sem tino e desbragadas. Há semanas, atirou-se aos reformados, dizendo, sem pudor nem escrúpulo, que as verbas que recebem são superiores aos descontos que fizeram. O despautério é insultuoso para os que trabalharam uma vida, e sofrem as mais terríveis provações. Além de incompetente, Passos é de uma ignorância atroz. O pior é que arrasta o País neste vórtice de imbecilidades.


Entretanto, o dr. Cavaco, um dos grandes responsáveis pelo estado a que Portugal chegou, mantém o mutismo escandaloso, cumpliciando-se com as manobras do Executivo. A coisa está tão feia que D. Manuel Martins, antigo bispo de Setúbal, criticou, numa notável entrevista ao "Jornal de Notícias", os poderes constituídos, incluindo a Igreja católica. O purpurado, afirmando que o Governo está cheio de ineptos sem experiência, acusou os seus membros de estarem a arrastar a pátria para zonas imprevisíveis, cujo regresso é problemático.


Reprovando a Igreja pelo atraso persistente em relação ao movimento do mundo e das ideias, D. Manuel Martins, que assistiu e combateu, em Setúbal, o Governo de Mário Soares, pela fome e pelo desespero que habitavam na região, não tem por hábito calar-se perante as injustiças. Voltou agora à carga, com a veemência inabalável do seu carácter. O Governo é incompetente porque aos seus membros falta experiência, e não consegue dar resposta aos problemas que nos afligem, exactamente por isso mesmo. Vaticina uma remodelação ou, mesmo, a substituição desta gente, por outra, mais capaz e com sentido de missão.


A entrevista contrasta, vivamente, com as declarações, extremamente moderadas, do cardeal-patriarca de Lisboa e, também, do discurso, de quase aceitação, de D. Manuel Clemente, bispo do Porto, este último constituindo, para mim, uma surpresa pouco agradável. O País está de pantanas, com esta governação miserável, e aqueles dois purpurados parecem ausentes das realidades.


Estamos a dobrar o ano e as indicações que se nos deparam são de molde a aumentar a nossa inquietação. Mentira sobre mentira, Passos Coelho disse que vamos melhorar e que haverá oportunidades para todos os portugueses. Não vai melhorar e, pessoalmente, não quero nenhuma das "oportunidades" que Passos oferece. É todo aldrabice, a adicionar ao descrédito total do Governo.


Há dias, conversando com o meu amigo Luís Fontoura, homem honrado e culto, contei-lhe o que Aquilino Ribeiro me disse, num já longínquo dia. O grande escritor e grande patriota admitiu: "Portugal vai ser uma província de Espanha, e a mais pobrezinha. Você vai ver." Estou a começar a ver que a triste profecia do autor de "Quando os Lobos Uivam" começa a cumprir-se, devido à negligência política, cultural e cívica deste biltres que nos governam; repito, sopesando bem as palavras: destes biltres que nos governam.


Apesar de tudo, das ameaças e dos perigos iminentes que pesam sobre nós, temos de continuar a resistir. Envelhecemos, mas não envilecemos. E, como cantou Manuel Alegre: "Há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não."
Bom ano para si e para os seus, meu Dilecto.

 

b.bastos@netcabo.pt

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