Opinião
Desemprego Jovem em Portugal: beco sem saída?
Atualmente não é fácil ser jovem em Portugal. A crise financeira trouxe sérias consequências, com 3 em cada 10 trabalhadores com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos incapazes de encontrar trabalho em 2014.
E isto não reflete todos os problemas que os jovens enfrentam no mercado de trabalho. Muitos disseram que gostariam de trabalhar, mas que desistiram de procurar trabalho.
Trabalhadores jovens são essenciais
Estudos demonstram que uma taxa de desemprego persistentemente elevada corrói a coesão social, destrói a confiança nas instituições públicas e desfaz as prestativas económicas e sociais de um país. Além disso, um estado social com uma população envelhecida como o de Portugal precisa que toda a mão-de-obra jovem tenha facilidade em arranjar emprego, quanto mais não seja para financiar a segurança social e assegurar as pensões prometidas aos trabalhadores atuais.
A crise financeira piorou uma situação que já era má
É muito fácil culpar a crise financeira pela situação atual. No entanto, a elevada taxa de desemprego jovem em Portugal é em parte uma herança do pré-crise. Já em 2007, a taxa de desemprego jovem rondava os 17%, e desde aí tem vindo a aumentar. As pressões resultantes da crise financeira pioraram, claramente, a situação e em 2014 a taxa de desemprego jovem era de 35%, mais do dobro.
E porque ficou assim tão mau?
Recentemente o FMI publicou um estudo onde analisa o desemprego jovem na Europa. O estudo conclui que o declínio do crescimento representa cerca de 70% do aumento da taxa de desemprego jovem em Portugal. Jovens trabalhadores são três vezes mais sensíveis às alterações económicas que os restantes trabalhadores. Isto deve-se sobretudo a condições laborais mais frágeis: os jovens trabalhadores têm uma probabilidade três vezes superior de serem contratados em regime temporário, e o emprego jovem está concentrado em sectores mais suscetíveis a flutuações do ciclo económico, tal como a construção.
O que deverá ser feito?
A principal solução para os jovens voltarem ao mercado de trabalho reside claramente num crescimento mais robusto. De acordo com o estudo, um ponto percentual a mais no crescimento anual do PIB estaria relacionado com a redução de 1 ponto percentual na taxa de desemprego jovem.
No entanto, um crescimento mais robusto em Portugal só acontecerá se as empresas se virarem para o mercado externo. Ilustrando simplificadamente a direção que o novo modelo de crescimento deve tomar, a antiga receita de construção de estradas e importação de carros tem que ser substituída por uma de exportação de carros e de construção de uma Administração Pública mais eficiente. Por outras palavras, mais empresas têm que ser capazes de competir nos mercados internacionais, e para o conseguirem é necessário um melhor ambiente empresarial.
Ao mesmo tempo, Portugal precisa que o crescimento seja transversal na zona euro. Isso inclui: apoio ao investimento privado através de uma política monetária agressiva, balanços financeiros dos bancos limpos de modo a reavivar o crédito e maior investimento público nos países com capacidade financeira para o fazer.
Como em Portugal o elevado desemprego jovem antecede a crise e o abrandamento económico, mais crescimento, per si, não pode ser a única solução. O estudo do FMI identifica uma série de reformas no mercado de trabalho que podem ajudar a reduzir o desemprego jovem.
Por exemplo, ao diminuir o custo da contratação para as empresas, aumenta-se a procura de trabalhadores. De igual modo, a redução da carga fiscal para níveis históricos, poderia resultar numa redução de 2-4 pontos percentuais na taxa de desemprego jovem.
A pesquisa sugere ainda que salários mínimos demasiado elevados, comparativamente ao salário mediano na economia, tendem a excluir os jovens do mercado de trabalho. É também prejudicial o aumento do salário mínimo que ultrapasse o aumento da produtividade dos jovens não qualificados. Por exemplo, se trouxermos o salário mínimo português para mais perto da sua relação histórica com o salário mediano, poderíamos ter uma redução da taxa de desemprego jovem de 6 pontos percentuais.
As leis laborais que protegem funcionários com contratos de trabalho permanentes, mas deixam de fora alguns trabalhadores, normalmente os jovens e os pouco qualificados, de modo a suportarem o peso dos ajustes do mercado de trabalho, também agravam o desemprego jovem.
Por último, medidas como a formação profissional para melhorar a preparação e qualificação para o mercado de trabalho, nomeadamente o programa Impulso Jovem, poderão também aligeirar a elevada taxa de desemprego jovem.
Soluções multifacetadas precisam-se!
A resposta à elevada taxa de desemprego jovem em Portugal passa por impulsionar o crescimento económico e implementar reformas no mercado de trabalho. Durante os últimos anos, Portugal agiu já de forma determinada em algumas áreas, mas mais precisa de ser feito para voltar a pôr os jovens a trabalhar
Angana Banerji é Economista Sénior no Departamento Europeu do FMI e Albert Jaeger é o Representante Residente do FMI em Lisboa.
Nota: O artigo tem por base o recém-publicado IMF Staff Discussion Note 14/11, "Youth Unemployment in Advanced Economies in Europe: Searching for Solutions", de Angana Banerji, Sergejs Saksonovs, Huidan Lin e Rodolphe Blavy.
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico