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As Caixas de Crédito Agrícola Mútuo autónomas e independentes, modelo sólido de banca local

Por força dos elevados capitais próprios, não necessitamos do recurso ao mecanismo de grupo ou da prestação de garantias recíprocas para flexibilizar a aplicação de critérios prudenciais.

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Perante uma provável concentração da banca em Portugal – com a criação de um grande banco nacional, como há semanas foi defendido por uma empresa de consultoria de negócios, e com a crescente relevância da "espanholização" do nosso setor financeiro – existem cinco instituições de crédito, fortemente capitalizadas, que – possuindo capitais exclusivamente nacionais – resistem ao modelo das fusões. Com presença e atuação locais, junto das pessoas que servem e dos projetos empresariais que apoiam, estas cinco instituições concedem financiamento a projetos de agronegócio, respeitando as políticas de "green finance", e apoiam empreendedores talentosos, fundadores de start-ups e fintechs inovadoras que, a partir de realidades locais, se projetam na conquista de escala, dimensão e ambicionam internacionalizar-se.

São essas instituições as Caixas de Crédito Agrícola Mútuo do Bombarral, Chamusca, Leiria, Mafra e Torres Vedras. Nas suas respetivas localidades são as realidades bancárias mais significativas e mais próximas, eficientes e eficazes na prestação da atividade bancária às populações. A dimensão – como o passado demonstra – nem sempre é sinónimo de bancos sólidos. Mas, para anteciparmos a história que ainda está por escrever, olhemos para aquela que já está escrita. E aí, o que constatamos? Que há um legado centenário, acarinhado e desejado pelas populações, que merece ser preservado e que tem imenso futuro. Algumas destas Caixas de Crédito Agrícola foram pensadas ainda no tempo da monarquia. Já não há portugueses vivos desse tempo, mas a memória destas Caixas Agrícolas atravessa gerações de clientes. Desenvolveram-se com a implantação da República, viveram em ditadura, acolheram Abril e, desde então, resistiram – com sucesso – a três incursões do FMI no nosso país, sobrevivendo a bancarrotas que marcas tão significativas deixaram na globalidade do nosso sistema financeiro. Lembremo-nos de outros protagonistas, apenas aparentemente mais sólidos, e do que deles nos sobra hoje: faturas que pagamos e continuaremos a pagar.

Caixas com escala reduzida. Mas com risco reduzido, também! Não é do interesse público ter na banca um setor com reduzido risco, fortemente capitalizado e com avultada liquidez? O negócio destas cinco Caixas não é apenas conceder crédito. Muito menos é apenas perseguir resultados, como se estes fossem o alfa e o ómega da atividade bancária.

As Caixas estão preocupadas em ser próximas, e não em parecer ser próximas. Estas Caixas de Crédito Agrícola acumulam, no seu conjunto, 479 anos de experiência. Instituições alicerçadas nos valores fundacionais do cooperativismo e do mutualismo, sem pressões acionistas para resultados fáceis e imediatos, fortemente capitalizadas, que orientam o seu esforço e trabalho no reforço da atividade comum, na solidariedade e dinamização económica das comunidades locais.

Com meia centena de agências em oito municípios que apresentam, global e consistentemente ao longo dos anos, contas e resultados francamente positivos, estas cinco Caixas Agrícolas têm vindo a apostar numa crescente partilha de serviços e de soluções de gestão. Sem nunca descurar a solidez financeira – é assim desde sempre – e sem nunca perderem autonomia e independência, o que elimina a possibilidade de serem capturadas por interesses alheios aos seus objetivos, estas Caixas, que são uma pequena parte da banca nacional, fazem efetivamente a diferença nos locais onde estão implantadas, apoiando os negócios de forma prudente e racional, com exigentes critérios de ponderação de risco.

Com estruturas de balanço caracterizadas por forte liquidez, por um predomínio claro dos depósitos de clientes como principal recurso de financiamento, e por uma comprovável robustez do balanço, os rácios de solvabilidade destas Caixas Agrícola constituem uma realidade evidente, que não é de hoje. É centenária.

Enquanto o país assiste a movimentos de concentração "que não de consolidação" e "espanholização da banca", as Caixas independentes afirmam-se na sua diversidade e pluralidade. Isso está impresso na nossa raiz ao longo da nossa existência. É por isso que cada vez faz mais sentido um modelo de negócio como aquele que desenvolvemos.

Os processos de fusão de instituições que não tenham diversidade, em geral associados a fusões transfronteiriças, não acarretam valor, antes o destroem. Estas Caixas Agrícolas não acreditam em estruturas de topo com custos elevados e que não fortaleçam a raiz, como vasos capilares de drenagem de excedentes e reforço da sua identidade.

O modelo defendido preserva a independência, conjugando-a com as responsabilidades de decisões de risco. Por força dos elevados capitais próprios, não necessitamos do recurso ao mecanismo de grupo ou da prestação de garantias recíprocas para flexibilizar a aplicação de critérios prudenciais.

Pretendemos desenvolver a nossa atividade melhorando reportes, adotando uma linguagem informática que permita sistemas de informação uniformes e defendemos a constituição de um mecanismo de proteção institucional que não colida com a sua natureza independente, antes permita mais um grau de supervisão. Nesse sentido, a flexibilização da política de investimentos – em ativos seguros – poderá ser um passo importante dado pelo supervisor. Sim, há muito futuro neste modelo de banca de proximidade, autónoma e independente que protagonizamos

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