Opinião
Os principais empresários do mundo querem deixar o planeta
Este ano fui novamente à conferência DLD - Digital Life Design, em Munique. Este evento, só por convite, reúne todos os anos 1.000 dos principais líderes do sector, como Satya Nadella, CEO da Microsoft, para discutir o futuro.
Falaram-se de várias das principais tendências que vão marcar os próximos anos:
Educação - a educação atual está fora de época e tem de ser alterada. Entre os principais temas discutiu-se como devemos educar as novas gerações para uma idade de inteligência artificial e como alterar o processo de aprendizagem nas salas de aula com novas tecnologias.
Inteligência artificial e "machine learning" - existe claramente um "boom", as opiniões divergem, enquanto uns dizem que estamos muito avançados, outros dizem que ainda estamos na fase inicial. No entanto, as soluções e os produtos estão já a tomar várias indústrias.
Automóveis que se conduzem sozinhos - a tecnologia existe, agora é uma questão de melhorar. Os temas principais estão novamente a sair da tecnologia para entrar em perguntas como: "O que acontece se o carro perante a inevitabilidade de ter um acidente tiver de optar entre chocar contra uma criança ou com dois idosos?", "Como se alteram as cidades e as estradas?".
Trump era um tópico obrigatório, mas mais interessante do que discutir o que o senhor faz ou deixa de fazer, a discussão foi com o responsável por parte da campanha e como conseguiram os resultados através da análise de dados.
Todos estes temas são relevantes, no entanto, algo me chamou a atenção. Apesar de a conferência ter sido mais intensa e divertida do que no ano anterior, o tom mudou consideravelmente. De um grande entusiasmo sobre o futuro começam a surgir chamadas de atenção aos grandes impactos que estão por chegar e como nos prepararmos para eles. Os principais temas do sector digital e da tecnologia já não são técnicos. Os grandes desafios atuais são éticos, políticos e sociais. O que fazer se a automatização pode causar até 60% de desemprego nos próximos anos 20 anos (Uber e carros com piloto automático??). Fala-se de singularidade, o momento em que as "máquinas" irão atingir a inteligência humana nas próximas três a quatro décadas. Como lidamos com seres mais inteligentes do que nós? Fazer edição genética com CRISPR é relativamente fácil e pode trazer muitos benefícios, mas ao mesmo tempo permite "bebés por medida" algo não muito diferente do que Hitler tentou fazer com a raça ariana. O ambiente parece-se ter degradado em vários lugares de forma irreversível e os temas de cibersegurança estão piores. Alarmista?... Vários dos homens mais ricos e bem-sucedidos do mundo estão a apostar tudo em colonizar novos planetas (Elon Musk, Jeff Bezzos e Richard Branson, entre outros). O mundo também nunca esteve tão conectado, mas ao mesmo tempo, temos governos que querem regionalizar e que não conseguem sequer legislar o Uber.
Quando perguntámos a vários conferencistas, entre as mentes mais brilhantes do mundo e que nos apresentam, com dados, a razão pela qual as coisas estão mal, "qual é a solução?", na sua maioria respondem que não sabem, mas que são otimistas e que as coisas vão resultar. Quando cientistas começam a recorrer à fé como solução, algo me começa a preocupar e muito.
Mais do que rezar e ser otimistas é hora de trazermos estes temas para a sociedade real e tomarmos responsabilidade perante o futuro.
Partner litsebusiness.com e professor de e-commerce e marketing digital na Nova SBE
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico