Opinião
O Sexo já não é taboo, agora é a hora da morte
Há 11 anos um fundo de private equity contactou-me para falar com uma das empresas que tinham comprado, uma das maiores agências funerárias da América Latina. A minha reação imediata foi, funerárias na internet... , qual é o sentido? Admito que na época, como a maioria das pessoas, tinha algum desinteresse/receio do tema.
Mas devido a várias situações próximas, combinadas com morar no México, com a sua cultura de "dia de muertos" (imortalizada em vários filmes de James Bond a Coco), o sector começou a chamar-me a atenção, o que culminou com o lançamento de um fundo este ano dedicado a este sector Afterlifeventures.com
Desde quando é que um seguro de vida é para quando se vive? Ao contrário, é para quando se morre. Mas falar de morte assusta. A sociedade foca-se na vida e na busca da beleza e na juventude eterna. Os funerais são cada vez mais rápidos para evitar lidar com a dor. Mas os estudos indicam que não falar da morte e não fazer bem o luto tem impactos mais negativos do que positivos.
Quando o tema é ignorado em vida quem paga são os que cá ficam. E não é só dinheiro, pois um funeral pode custar muitos milhares de euros e até acima de 10.000 euros e é dos créditos imediatos mais pedidos. Na escala de stress de Holmes and Rahe, o nível mais elevado de 100 é quando morre alguém próximo e 3 em cada 4 herdeiros têm problemas com a família por heranças. A maioria das pessoas não tem testamento e poucas recorrem a apoio psicológico tanatológico (até a palavra é estranha). E o que fazer com as inúmeras contas em bancos e redes sociais do falecido? Muitas pessoas perdem o acesso a coisas tão simples como o Netflix, ou tão complicadas, como não conseguir aceder às contas bancárias e pagar as despesas da família. Nesse momento, em que o enfoque deveria ser o processo de luto e estar com os seus, são "bombardeadas" por problemas jurídicos e têm de lidar com entidades que, com frequência, se tentam aproveitar do momento de debilidade. Em média, as famílias gastam 540 horas para lidar com os temas "burocráticos" e 4.000 euros (para além do funeral). Quem parte e deixa tudo organizado pode poupar 70% do tempo e 60% dos custos.
E se algo colocou todo este processo em evidência foi a pandemia, o que chamou a atenção de empresas, agora chamadas de "funeral tech", em todo o mundo. No Reino Unido (Beyond Life, Farewill), Espanha (Funos), Alemanha (Mymoria) entre outros países. O primeiro investimento de Afterlifeventures.com foi em www.catrina.co . Um conjunto de pessoas do sector funerário, juntou-se com pessoas de tecnologia e design (Amazon, LITS adventures, etc) para tentar fazer a morte uma parte mais natural da vida. Não torna-la mais fácil, mas menos difícil. Catrina.co foi fundada em 2021, já levantou 10 milhões, conta com mais de 1.000 funerárias e vai estar na maioria da América Latina (México, Colômbia, Argentina, Chile, Peru e Panamá) até ao final do ano.
Como fazer que as pessoas ativamente tomem ação sobre o seu maior medo e um dos grandes taboo? O sexo que estava nesta situação passou a ser falado abertamente e de uma forma normal. Este é o grande desafio destas empresas que estão a tentar utilizar a tecnologia em conjunto com a psicologia. A solução passa por criar uma experiência mais simples e transparente, mas acima de tudo, uma solução mais humana.