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O futuro e o presente na conferência “Digital Life Design”

Inteligência humana assistida, inteligência artificial e “machine learning” são algumas das tendências do mundo digital. Que é o nosso mundo. O debate aconteceu durante a conferência “Digital Life Design”. David Bernardo, “partner” da consultora LITS ebusiness, esteve lá e conta o que ouviu.

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O evento vai para o seu 11.º ano e conta com as principais mentes que estão a mudar o mundo. Na impressionante lista incluíram-se Reed Hastings, fundador da Netflix, Marne Levine, COO do Instagram, Jan Koum, fundador do WhatsApp, Nathan Blecharczyk, fundador do Airbnb, e vários dos principais investidores do mundo, como é o caso de Jim Breyer. Líderes de indústrias mais tradicionais como banca ou seguros também estiveram presentes para entender como enfrentar muitos dos desafios que estão a ser apresentados pela mudança de paradigma de modelo de negócio. Estas líderes reúnem-se duas vezes ao ano para discutir o futuro do digital, o qual cada vez mais se mistura com o futuro do mundo.

O mundo como estamos a vê-lo vai mudar radicalmente nos próximos anos. Foi inspirador estar com pessoas que, certamente, terão muito impacto nas próximas décadas. Ao mesmo tempo, é interessante tentar perceber como a maioria das empresas e das pessoas se vai adaptar a estas mudanças. Existe uma grande probabilidade de que muitas empresas que hoje são consideradas líderes fiquem numa situação fragilizada. Ao mesmo tempo, o conjunto das quatro empresas (Google, Amazon, Apple e Facebook) vai provavelmente tomar um papel cada vez mais importante na economia mundial. Cada uma delas controla uma grande quantidade de informação e está a trabalhar no tratamento e utilização da mesma, ao mesmo tempo que expande as suas actividades para todas as áreas da economia. Com serviços gratuitos e considerados por muitos como entretenimento (Facebook, Google, Gmail, etc.), estas empresas têm penetrado em todas as áreas da sociedade.

Muitas das empresas actuais não entenderam ainda o que está a acontecer nos seus sectores e levam décadas de atraso a nível de estratégia, tecnologia e processos. Quando acordarem, para muitas, pode ser já demasiado tarde.
Foram muitos os temas tratados e, como é frequente neste evento, alguns começarão a ter sentido para o comum dos mortais decorridos três a cinco anos depois de serem aqui abordados. Entre os tópicos, destaco:

- Dados: se há algo de comum e que já nem sequer se discute é a importância dos dados, que são o cimento da nova revolução industrial que estamos a viver.

- Inteligência humana assistida, inteligência artificial e "machine learning". Para tomar decisões, cada vez mais se começam a de-senvolver sistemas de apoio à decisão humana. O Netflix, por exemplo, faz análises profundas sobre os conteúdos que podem funcionar para a sua audiência, mas deixa a decisão final para seres humanos. Ao mesmo tempo, está a trabalhar em inteligência artificial.

Os temas de segurança são muitos e com várias grandes figuras mundiais preocupadas com o tema (Elon Musk, Bill Gates, Stephen Hawking, etc.). A existência de máquinas mais inteligentes do que o Homem é apontada como um perigo considerável para a extinção do ser humano. Vários temas éticos se levantam também. Jim Breyer, um dos investidores iniciais no Facebook e o "venture capitalist" mais conceituado, apontou, durante a sua apresentação, esta área como "a que dará mais retorno aos investidores na próxima década". O chamado "machine learning" está já a ser utilizado por várias empresas para criar sistemas que aprendem sozinhos e que vão melhorando com a utilização.

- Alimentação é outro dos temas na ordem do dia e é apontada como a principal medicina do futuro. Ao mesmo tempo que produzimos mais comida, a qualidade da mesma parece ser cada vez pior. A idade média de uma maçã num supermercado nos Estados Unidos é de um ano, e até lá chegar foi mergulhada em cera, para parecer mais bonita, e congelada. Sam Kass, o ex-chef da família Obama, comentou que, antigamente, uma maçã por dia mantinha-nos longe dos médicos. Hoje, uma maçã por dia causa-nos diabetes. Oliver Bate, CEO da Allianz, desvalorizou o uso de "wearables" tipo Apple Watch ou "fitbit" para medir o exercício físico já que poderiam impactar menos de 1,5% dos problemas de saúde. O grande segredo está na nutrição que, combinada com análise da genética do indivíduo, pode levar a uma redução dramática dos custos de saúde e, ao mesmo tempo, a um aumento da longevidade. Estão a ser desenvolvidos vários aparelhos para ligar aos telemóveis que vão analisar, em tempo real, a comida que comemos e o seu valor nutritivo.

- "Last mile": uma das grandes diferenças entre as lojas físicas e o comércio electrónico é a capacidade de o cliente receber o produto na hora. Esta barreira está a ser ultrapassada por várias soluções e empresas focadas no "last mile" (última milha que chega a casa do cliente). Outra das soluções controversas a ser implementada é a entrega através de "drones".

- "True customization": "3D scanning" e "3D printing", combinadas com aplicações de desenho e afins, vão permitir a criação de produtos completamente personalizados. Nas palavras de Lapo Elkann, fundador da Italia Independent e herdeiro da FIAT, temos finalmente a capacidade de assistir à personalização verdadeira dos produtos. Com um telemóvel, o cliente vai poder fazer um "scan" do seu rosto e, com isso, ter uns óculos desenhados e fabricados só para ele numa impressora 3D.

- Entre as principais indústrias consideradas ameaçadas, estão os bancos e as seguradoras. Theodor Weimer, presidente do banco alemão HypoVereinsbank, mencionou a dificuldade destas grandes empresas de inovar devido à falta de capacidade para atrair talentos com experiência em Fintech - Financial technology. Mencionou também que, por exemplo, o negócio dos meios de pagamento já foi perdido pelos bancos para empresas como a Paypal. A solução encontrada por vários destes meios tem sido: "Se não podes vencê-los, junta-te a eles", pelo que estão não só a comprar start-ups de Fintech, como também a fazer alianças com estas novas empresas.

Outro dos temas mencionados também pelo CEO da seguradora Allianz foi o do excesso e inadequação de regulamentação que estes sectores têm e que não lhes permite inovar ao mesmo tempo que as start-ups no sector. Seguros personalizados segundo o perfil exacto de cada pessoa estão também cada vez mais na ordem do dia. A tecnologia para que cada condutor pague o valor de seguro de acordo com o modo como conduz (velocidade, comportamento, etc.) já está disponível e deve entrar no mercado em breve.

- Cibersegurança continua na ordem do dia. O tema, no entanto, passou de estar tão enfocado nas empresas (que, se ainda não acordaram para o facto, devem fazê-lo já) e começámos a ter temas de segurança nacional e terrorismo. O grupo ISIS tem já utilizado várias destas ferramentas e estratégias nos seus ataques. Novas aplicações da "Internet of Things", "drones" e carros com piloto automático estão também na ordem do dia, já que a capacidade de rupturas na segurança destes sistemas pode ter consequências catastróficas.

- O mundo do trabalho vai mudar substancialmente. Para começar, fala-se em números, pois, na próxima década, até 60% dos empregos actuais poderão desaparecer no que é referido como a Quarta Revolução Industrial. Ao mesmo tempo desta revolução industrial, o tipo de trabalho está a alterar-se consideravelmente. Trabalho mais flexível e remoto é uma das principais tendências.

No entanto, este tipo de realidade vem cada vez mais levantar questões sociais sobre o que fazer com os futuros desempregados.

Outra questão levantada é como ajustar a educação actual a um mundo profissional com estas características.

Se toda esta evolução e tecnologia parecem extremamente estimulantes, o impacto social e as questões éticas levantadas são inéditas na História da humanidade e requerem educação, legislação, muito bom senso e "boas intenções" para construir um futuro positivo.

O digital deixou de ser separado do resto da sociedade para ser parte integrante do ADN da humanidade. Bem-vindos ao presente.
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