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03 de Janeiro de 2013 às 23:30

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A união monetária parece evoluir para uma versão simultaneamente mais integrada, porque existem mecanismos de apoio, controlo e governânciae os bancos dependem de supervisores e fundos de recapitalização transnacionais.

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O ano agora iniciado apresenta alguns aspectos mais positivos que o ano transacto. Internamente, confirma-se que a capacidade de ajustamento do sector privado é mais rápida que o previsto, conduzindo a necessidades de financiamento externo nulas. Desta forma, inverte-se a tendência dos últimos anos. Na vertente externa, após o início de 2012 eivado de receios sobre o futuro da área do euro, lentamente, as autoridades europeias têm vindo a tomar decisões orientadas para o fortalecimento do espaço europeu.


Instituíram-se mecanismos de vigilância e controlo orçamental mais prospectivos e mais apertados. A identificação de desequilíbrios estende-se, agora, à esfera externa e à competitividade. O Banco Central Europeu anunciou a possibilidade de compras ilimitadas de dívida pública de estados com dificuldades de financiamento. O mecanismo ou fundo temporário de apoio financeiro a estados sem acesso a crédito será brevemente convertido em mecanismo permanente e as condições de financiamento foram melhoradas, repassando-se, para os países sob programa de ajustamento, os fundos sem penalizações associadas. Finalmente, os países europeus acordaram a criação de uma união bancária, entrando a supervisão europeia em vigor em Março de 2014.

Não obstante: os mercados financeiros permanecem fragmentados, as condições de acesso a financiamento de estados e bancos mantêm-se muito díspares, a despeito da redução da percepção de risco, impondo importantes desvantagens competitivas para empresas e famílias dos países em ajustamento. Os esforços europeus progridem no sentido de regresso a uma forma de mercado pré-crise, em que a confiança entre agentes económicos de diferentes países é restaurada.

Estes progressos não parecem, contudo, destinar-se a fazer retornar a Europa a um estado imediatamente anterior à crise, em que os países eram indistintos em termos de avaliação da capacidade creditícia. Na medida em que os países mais afectados pela crise da dívida trilham um decréscimo de desequilíbrios, a tendência europeia parece apontar na direcção de menores interligações entre estados e sistemas bancários. O ajustamento em curso na Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha ou Itália destina-se a reduzir as necessidades de financiamento externo destas economias, mediante incremento da poupança local, e menor nexo de causalidade entre crise bancária e de dívida soberana. Pretende-se que: os portugueses comprem mais dívida portuguesa, que os espanhóis adquiram mais dívida espanhola,... Dívida pública ou privada. Deseja-se que as economias sejam mais auto-suficientes; pretende-se renovar o interesse de residentes por dívida interna, o que tem sido conseguido com sucesso em Itália e Espanha. O modelo de financiamento europeu, para onde se parece caminhar, aponta para maior auto-contenção e independência. Anseia-se por não activação dos instrumentos comuns de apoio, pela ênfase em acções preventivas.

A união monetária parece evoluir para uma versão simultaneamente mais integrada, porque existem mecanismos de apoio, controlo e governância e os bancos dependem de supervisores e fundos de recapitalização transnacionais, e mais individualista, no sentido em que se espera que cada país seja menos desequilibrado e dependente dos restantes para se financiar, repousando crescentemente na poupança doméstica. Não se trata de prosseguir no regresso ao passado recente, em que todos os estados eram percebidos como iguais. No essencial, engendra-se uma forma mais contida de fragmentação, desejavelmente menos disruptora que a actual, mas reveladora das idiossincrasias dos estados.

Economista


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