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Os trabalhadores da Autoeuropa merecem horário zero

Os trabalhadores da Autoeuropa marcaram nova greve para fevereiro de 2018. O argumento é o mesmo da anterior: não concordam com a laboração ao sábado e com a remuneração proposta.

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Vamos enquadrar o problema. Palmela, com os turnos de laboração existentes, consegue fabricar 198.500 veículos anuais. Quando o modelo T-Roc foi pensado, a previsão apontava para uma procura que poderia ser satisfeita com os turnos existentes. Mas a expectativa de vendas aumentou e passou a ser preciso novo esquema de produção para chegar a 240 mil veículos anuais (17 turnos semanais).

 

As divergências entre trabalhadores e administração conduziram à primeira greve, em agosto. Depois disso, a Volkswagen mudou as condições e aceitou pagar os sábados a 100% (como obriga a lei) acrescido de um bónus de 25%. A proposta também foi rejeitada.

 

Na sequência do chumbo a administração impôs unilateralmente o trabalho ao sábado, decisão com a qual os trabalhadores discordam. Daí Fernando Gonçalves, coordenador da comissão de trabalhadores, diz que a proposta cria uma situação diferente de outras fábricas do grupo: "Parece que temos de ser a cobaia para algo diferente". E acrescentou: "Nos acordos de outras fábricas, quando é preciso trabalhar aos sábados, paga-se".

 

As justificações sabem a desculpa (o argumento do salário não colhe: o ordenado médio em Palmela está nos 1.300 euros e vai subir). Porque como o próprio Gonçalves já reconheceu, os trabalhadores não querem trabalhar ao sábado porque prejudica a família. Pergunta: quem trabalha por turnos no comércio, jornalismo, polícia, tribunais, hospitais e em outras atividades, não "prejudicando" a família?

 

A Autoeuropa, como já aqui dissemos, está a brincar com o fogo. Não que a Vokswagen vá acabar já com a produção do T-Roc em Palmela: o investimento está feito e o planeamento logístico (fornecedores) também. Mas a empresa sente que lhe tiraram o tapete depois de ter investido 600 milhões de euros na reconversão da fábrica, e já estudou outras soluções para levar o acréscimo de produção para a unidade de Osnabruck (40 mil veículos). O que, a concretizar-se, poderá ser o início do desinvestimento em Palmela quando se aproximar o fim do ciclo do T-Roc.

 

O que é espantoso nisto tudo é que os trabalhadores já se esqueceram que a fábrica esteve para fechar há quatro anos. E que, para evitar despedimentos, foi preciso colocar 400 trabalhadores em outras fábricas do grupo, na Europa. Ninguém parece preocupado com o impacte, para o país e para a região, de uma saída da VW de Portugal. Até o Governo, que anda muito preocupado em vender ao país um conto de fadas (parece que de repente se tornaram ricos, como me comentava um investidor estrangeiro esta semana), só há poucas semanas se assustou com o extremar da situação na Autoeuropa. Pode ser que no dia em que os trabalhadores tiverem horário zero, percebam a estupidez do que andam a fazer...

 

Jornalista de Economia

 

Este artigo está em conformidade com o novo acordo ortográfico

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