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O novo (sub)ciclo político

Este novo subciclo, que não é uma originalidade desta aliança parlamentar, não significa necessariamente o fim prematuro do Governo. Mas a viagem vai ser muito mais atribulada.

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Entrámos num novo ciclo político em Portugal. Bom, na verdade estamos ainda no mesmo ciclo - aquele que foi determinado pelo acordo político entre o PS, o BE e o PCP -, por isso é melhor corrigir: entrámos num novo, e mais turbulento, subciclo político em Portugal.

 

O ciclo mudou porque os acordos assinados no final de 2015 estão esgotados. Encontrar chão comum para o Orçamento em 2019 e para novas políticas públicas é mais difícil do que cumprir um guião assente sobretudo na reversão de medidas extraordinárias de austeridade.

 

O ciclo político mudou porque a relação de forças entre os partidos também mudou. O PS continua a precisar do BE e do PCP para aguentar o Governo. Mas o PS vale mais hoje nas urnas do que valia em Dezembro de 2015. O BE e o PCP aparentemente não ganharam e isso coloca pressão sobre as conquistas a reivindicar pelas respectivas lideranças.

 

O ciclo mudou porque o teste da estabilidade e da responsabilidade, que era crucial não só para o PS, mas também para o PCP e o BE, foi passado com sucesso. O incentivo para manter tudo colado existe, mas já não é tão forte e cai em cima do desgaste de dois anos de governação e de silêncios comprometidos de partidos que vivem do protesto.

 

O ciclo mudou porque o PSD de Passos Coelho - um PSD incoligável com qualquer PS, resistente nas urnas ao efeito da austeridade e aglutinador das esquerdas - está a desaparecer para dar lugar a uma nova liderança.

 

O ciclo mudou porque o Presidente da República, que até este Verão foi pondo sempre o braço sobre os ombros do Governo, assumiu um papel mais exigente e escrutinador após os erros estrondosos de Costa na resposta aos incêndios. Marcelo diz que quer estabilidade (poderia dizer o oposto?), mas vai apertando o caderno de encargos para o Governo em áreas de natural tensão com a esquerda (como a competitividade).

 

Vamos ter, por isso, um caminho mais atribulado. Isto é visível já na contestação dos professores ou no chumbo à sobretaxa negociada com o Bloco para as energias renováveis. É visível nas afirmações duras de membros do PCP e do BE no fecho do debate sobre o Orçamento e nos sinais do Governo de que está aberto ao diálogo com a direita (pura retórica para posicionar o PS ao centro).

 

Este novo subciclo - que não é uma originalidade desta aliança parlamentar, basta lembrar a crise Passos/Portas a meio dessa legislatura - não significa necessariamente o fim prematuro do Governo. Com as coisas a correrem bem na economia há margem e terreno para cedências, como o investimento nos serviços públicos, por exemplo. E, sobretudo, há dificuldade em encontrar pretextos para romper a aliança - como romper se não há crise económica, se o desemprego desce e os direitos aumentam?

 

Assumindo que o contexto económico se mantém, só romperá quem calcular que o ganho político é superior ao custo. Ninguém consegue prever hoje seriamente quando isso vai acontecer ou se vai acontecer. O que parece mais certo é que a convivência à esquerda vai ser mais acidentada e que haverá terreno para uma maior diferenciação entre os três partidos e um menor clima de "unidade nacional" entre o Parlamento, o Governo e Belém. Isso torna tudo mais assumido - e mais interessante.

 

P.S. - Os media foram uma pequena parte do universo empresarial de Belmiro de Azevedo, mas a marca de Belmiro não foi pequena nos media. Num país pequeno e medroso, a sua atitude não intervencionista como accionista e fundador do Público - jornal essencial nos media portugueses e de que nunca desistiu - foi tão rara como a liberdade com que sempre criticou quem quis criticar. Além do legado empresarial, esta é a marca que mais valorizo naquele que foi um dos maiores empresários portugueses.

 

Jornalista da revista Sábado

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