No filme "Memento" de Christopher Nolan, a personagem principal é um investigador de seguros num caso de perda de memória recente que poderia ser coberta ou não pelo seguro de saúde. A investigação de sinistros não tem a complexidade narrativa do filme, mas tem o mesmo objectivo que é saber se um sinistro aconteceu ou se é um enredo para lesar a seguradora.
As fraudes são transversais a todos os tipos de seguros e afectam tanto os de viagem até aos de vida. No entanto, em termos de tipologia de seguros, o ramo automóvel é o mais frequente em número de casos e, pela sua dimensão, em valor. Seguem-se os seguros multirriscos em que se destacam os denominados riscos eléctricos, que tem a ver com avarias e danos de televisores, computadores, telemóveis e "tablets".
As fraudes mais comuns são o empolamento de dados. "O empolamento de danos continua a ser o tipo de fraude mais frequente. Este é um tipo de fraude que claramente se agrava em épocas de crise. Falta de manutenção de bens (carros, casas, embarcações, equipamento eléctrico) leva a que em caso de sinistro existe uma tentativa de aproveitamento de incluir danos não decorrentes do sinistro" explica Alda Correia da direcção de serviço ao Cliente Liberty Seguros e que superintende a UEI- GF Unidade Especial de Investigação, Gestão de Fornecedores e CACD.
Tentativa de incluir danos não provocados pelo sinistro são fraude mais comum.
Mas a crise também pode ter a sua quota parte no aumento de fraudes nos "sinistros com danos pré-existentes e actos maliciosos" como refere Alda Correia, que exemplifica: "hoje em dia, surgem cada vez mais participações fraudulentas de actos maliciosos. Na prática quando pretendem uma pintura nova no veículo, riscam o veículo por todo, mas de forma "cirúrgica"".
Cortar dedos por uma indemnização
Seguem-se depois os sinistros fictícios e dos furtos simulados e em que são mais comuns nos automóveis, habitações e comércio. Como refere Alda Correia "no que aos furtos diz respeito, as forças policiais juntamente com os seguradores têm feito um esforço de investigação e demonstrado que muitos são simulados (não só nos automóveis mas também habitações e comércio). Por isso o número de casos detectados aumentou". José Armínio, director de Serviços de Sinistros da Mapfre Portugal, diz que "existem os falsos despistes isolados, ou seja, são sinistros participados para receber o valor seguro. Por exemplo, falsos roubos ou "carjaking," garantia do valor em novo durante três anos, entre outros. Estas situações aparecem normalmente no vencimento das apólices e quando o veículo está prestes a atingir os três anos. O mesmo acontece em viaturas importadas cujo valor seguro é inflacionado pela retirada de quilómetros ao veículo".
O número de casos detectados por sinistros provocados intencionalmente tem vindo a crescer: automóveis e multirriscos (simulação de roubo, aproveitamento de um roubo para aumentar o valor do furto), no comércio (roubos e incêndios simulados), acidentes de trabalho (lesões que foram feitas a praticar desporto, a andar de bicicleta e que são incluídas no seguro até porque na segurança social se paga 65% mais IRS e o seguro paga 70% e é isento de IRS). Como refere José Armínio, "quando as pessoas estão de baixa pelo seguro e se apercebem que a empresa vai fazer despedimentos procuram prolongar o período de baixa e muitas vezes agravam a própria lesão ou provocam um sinistro para ir para a baixa. Há também casos de pessoas com dificuldades económicas que cortam dedos para receber indemnizações". Além disso, como diz Alda Correia, "na verdade, a fraude está em constante mutação nas suas técnicas e por isso a formação e informação é fundamental".