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"A taxa de poupança em Portugal tem-se mantido historicamente baixa, quando comparada com aquela de outros países europeus, ao que não será alheio, com certeza, o facto de o rendimento disponível dos portugueses ser baixo, implicando, mesmo em termos relativos, poupanças inferiores àquelas de outros países europeus, para além de fatores culturais que implicam uma menor propensão para a poupança", explicou Carlos Maia, partner da PwC.
Durante as crises, os portugueses poupam mais e Carlos Maia deu o exemplo do período pandémico, em que a incerteza e os confinamentos e restrições levaram a que as taxas de poupança aumentassem. A taxa de poupança das famílias em 2020 atingiu 12,8% do rendimento disponível, um máximo desde 2002. Os dados do primeiro trimestre de 2021 mostram que a taxa de poupança em Portugal foi de 14,8%, comparando com 31,2% da Irlanda, 18,8% de Itália ou 14% de Espanha. Dados de 2020 mostram igualmente uma subida da taxa de poupança face ao período homólogo na ordem dos 5,8 pontos percentuais.
Mas estes indicadores "não devem traduzir, contudo, um aumento sustentado das poupanças dos portugueses", adverte Carlos Maia. De facto, no primeiro semestre na economia portuguesa, o consumo privado cresceu 4,3% sustentado pelo crescimento do rendimento disponível e pela redução gradual da taxa de poupança, como frisava o Banco de Portugal.
As poupanças dos particulares distribuem-se em 50% pelos imóveis, segue-se o património aplicado em "numerário e depósitos", categoria cujo peso se cifrou nos 23,7% no final de 2020. A categoria "seguros e pensões" concentrava 7,7% do património dos particulares no final de 2020, enquanto nos anos anteriores o seu peso oscilava entre os 8,5% e os 10%, segundo uma análise da ASF.
Reforço da poupança
O longo inverno das baixas taxas de juro também é uma justificação, tal como a falta de incentivos das políticas públicas que as compensem para tornar mais aliciante a poupança. Mas para Valdemar Duarte, diretor-geral da Ageas Pensões, a "necessidade de políticas públicas não é tanto para compensar os efeitos das baixas taxas de juro, mas fundamentalmente para compensar a imobilização da poupança por prazos prolongados inerentes à poupança para a reforma".
Na sua opinião, as políticas públicas, muitas vezes têm mesmo o efeito contrário, sobretudo quando se transmite a ideia de que poupar para a reforma não é uma necessidade e, em simultâneo, se estimula o consumo.
O papel do digital
As políticas públicas de incentivo à poupança, os benefícios fiscais, bem como um incremento da literacia financeira, dando um maior conhecimento às pessoas da importância, das ferramentas e dos produtos que têm à sua disposição, "poderão ajudar no aumento sustentado da taxa de poupança", defende Carlos Maia.
A digitalização pode ter impacto no desenho de novos produtos financeiros e é uma prioridade para impulsionar a poupança para a reforma. No entanto, como sublinha Valdemar Duarte, de acordo com um inquérito pan-europeu da Insurance Europe, entidade setorial que integra a associação portuguesa de seguradores, 45% dos portugueses não poupam para a reforma, mas a sua maioria afirma não ter rendimentos que lhes permita poupar.
Paralelamente a isso, de acordo com o mesmo inquérito, concluiu-se que a maioria dos portugueses prefere receber informação sobre produtos de poupança em formato digital em vez de papel. "Isto leva-nos à clara conclusão sobre a importância da digitalização, situação transversal a muitos outros temas, permitindo que a informação chegue ainda mais rápido ao seu recetor. E esta digitalização responde precisamente à necessidade de implementação de novas estratégias", considera Valdemar Duarte.