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"O impacto na indústria do turismo (com quebras entre 80-90% nas principais cidades), e nas viagens de negócios, será muito significativo e terá reflexo direto nos seguros de viagem. O efeito pandémico prevê-se que tenha ainda efeitos a curto/médio prazo em que as pessoas terão naturalmente uma menor propensão para viajar. A maior ou menor procura de seguros de viagem irá depender da capacidade de recuperação do setor turístico", refere João Lapa Pereira, consultor da i2S.
Sérgio Santos, gestor de produto do Grupo Ageas Portugal, reforça o ambiente de incerteza. "É difícil saber, com todas as certezas, os comportamentos reais dos clientes. Sobretudo neste contexto, em que a pandemia ainda está ativa, não podemos saber quando vão regressar as viagens a um ritmo pré-covid, porque as companhias aéreas e os países estão a reagir a ritmos diferentes. A juntar a isto, há ainda outro elemento muito difícil de calcular, que é o regresso da confiança dos turistas."
Para João Lapa Pereira "nem tudo são más notícias. Toda a envolvente da pandemia corresponde na prática a um enorme patrocínio publicitário de que as seguradoras podem e devem tirar partido. Mas para isso têm de adaptar o seu nível de oferta, alargando o âmbito das coberturas, os limites dos contratos, e melhorando a transparência do clausulado".
Negócio rentável
"Temos constatado uma procura maior pelos seguros de viagem. A pandemia veio reforçar a procura pelos seguros de viagem, não só para os países tropicais, mas também para os países onde se registou o maior número de casos infetados pela covid-19", sublinha Alexandre Ramos, CIO da Liberty Seguros e diretor executivo da Liberty na Europa. Refere como principais razões para os portugueses fazerem seguros de viagens os atrasos e cancelamentos de viagens e o extravio de malas e bagagens. Acrescenta ainda "que é expectável também um crescimento na aquisição de seguros de saúde antes de as pessoas irem de férias".
Em 2017 emitiram-se 83 milhões de novas apólices de seguros de viagens, segundo a EIOPA. Em Portugal o seguro de viagem tem pouco peso no volume total de negócios das seguradoras, mas caracteriza-se por uma rentabilidade bastante elevada fruto da sua baixa sinistralidade. "Com o crescimento exponencial que se tem verificado na venda de produtos turísticos tornou-se naturalmente num produto bastante apetecível, funcionando como oferta complementar, por exemplo, para as agências de viagens. Em muitos casos a complementaridade nem sequer é visível, uma vez que o seguro já se encontra integrado no pacote de produtos e serviços", assinala João Lapa Pereira.
Explica também que a distribuição em Portugal no que diz respeito ao seguro de viagem é ainda bastante diferente da que existe nos países mais avançados da Europa, com os agentes a deterem uma quota de mercado muito significativa entre 70-80%. O nível de comissionamento pode variar entre 15-20%, bastante longe dos níveis praticados noutros mercados, em que as taxas praticadas podem atingir 35-40%. A taxa de sinistralidade do mercado português ronda os 30-40% confirmando a rentabilidade do produto.
Prever o futuro
Segundo João Lapa Pereira, "principalmente para os produtos de massa, existe já hoje a nível europeu uma estrutura de distribuição dificilmente comparável com as estruturas tradicionais, em que os agentes eram os protagonistas enquanto aportadores do negócio".
A competição é intensa em que as novas tecnologias têm um papel essencial em novos modelos de negócio para responder a uma procura em que os consumidores cada vez mais bem informados, e exigem das seguradoras, em tempo real, produtos adequados ao seu perfil tendo em conta as suas características socioeconómicas.
Neste mercado têm entrado novos operadores como companhias aéreas e empresas de ferry, sites de comparação de preços, agregadores, bancos e supermercados com produtos de seguro de viagem online como uma atividade complementar. Mas, como diz Sérgio Santos, "os novos operadores, independentemente da sua área de negócio principal, permitem-nos inovar tecnologicamente e responder às necessidades específicas do cliente com uma oferta rica e atrativa em termos de preços.
"Tradicionalmente, as companhias de seguros sempre analisaram o risco olhando para o passado, para o histórico dos dados disponíveis e, de seguida, estabeleciam um preço. Hoje, os novos modelos não têm dados passados, são riscos que estamos a enfrentar pela primeira vez, como é o caso desta pandemia. Por isso, temos estado a criar modelos através da ajuda da tecnologia da inteligência artificial para tentarmos "prever o futuro", tentando criar modelos que ajudem a antecipar futuros riscos", refere Alexandre Ramos. Por isso tem estudado os seguros paramétricos para novos modelos de seguros de viagens.