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O impacto dos millennials
Não é só a tecnologia que está a mudar, os clientes também. A análise às necessidades dos clientes mostra que estes querem transparência, flexibilidade, individualização e acesso facilitado. As novas gerações fazem outras exigências. No Insurance World Report, feito pela Capgemini e a EFMA, a satisfação dos clientes com as empresas de seguros a nível global era de 74%, mas só 33% dos millennials, que neste momento já representam 25% da população mundial, se diziam satisfeitos com as seguradoras tendo em conta os canais digitais e tradicionais apontou Luís Cardoso.
A transformação digital vai ter impacto nos recursos humanos. "Hoje em dia é possível substituir grande parte das funções numa seguradora por máquinas com inteligência artificial tanto em tarefas mais administrativas como outras mais exigentes" assinalou Luís Cardoso. Ao mesmo tempo que vai exigir pessoas com novas competências, como sublinhou Rogério Dias, director-geral da Generali.
Revolução legislativa
"Se há um sector que tem sido objecto de revolução legislativa é o sector segurador" disse Nuno Luís Sapateiro, associado sénior da PLMJ. Depois da nova lei da actividade seguradora, adaptação de Solvência II, em vigor há um ano, "vamos ter nova legislação na distribuição de seguros, na protecção de dados pessoais, o regime dos PRIIPS (pacotes de produtos de investimento de retalho e de produtos de investimento com base em seguros) que vai ter impacto nas seguradoras por causa dos produtos complexos e dos 'unit-linked'".
O debate
O tema "A Proposta de Valor da Actividade de Seguros - Raio-X da Actualidade" foi debatido por:
• José Galamba de Oliveira, presidente da APS (Associação Portuguesa de Seguradores);
• Luis Cardoso, director de Inovação e Projectos da Liberty Seguros;
• Nuno Luís Sapateiro, associado senior da PLMJ;
• Rogério Dias, director-geral da Generali;
• Moderação a cargo de André Veríssimo, subdirector do Jornal de Negócios.
Mas também nos aspectos legais a tecnologia e as suas mutações têm impacto. "Todas estas directivas e restante legislação estão construídas com base numa adequação à realidade, mas depois a tecnologia altera a realidade e podem ter de ser objecto de alterações" deu nota Nuno Luís Sapateiro.
Os desafios práticos do sector também passaram pela análise de José Galamba de Oliveira. Nos últimos dois anos a produção do ramo Vida passou de 10,4 mil milhões de euros em 2014 para 6,6 mil milhões em 2016, embora nos últimos dois trimestres a tendência pareça ter-se invertido. Esta queda está relacionada com vários factores como o envelhecimento, a baixa prolongada das taxas de juro, mas tem sobretudo a ver com a baixa taxa de poupança dos portugueses.
Resultados técnicos
"As seguradoras estão a fazer o trabalho de casa juntamente com a APS porque o sector tem um papel na captação de poupança de longo prazo que depois é reinvestido na economia e dá uma estabilidade de financiamento que é importante" informou Galamba de Oliveira.
"A poupança vai ser uma das áreas a sofrer impacto pela inovação. Recentemente apareceu uma nova seguradora que se propõe fazer poupanças com base nos arredondamentos dos pagamentos" alertou Luís Cardoso. "São soluções disruptivas que vamos começar a ver e que nos vão permitir tanto uma relação mais directa com o cliente, como modelos de negócios diferentes".
O presidente da APS salientou que "há uma recuperação dos resultados técnicos do ramo não vida, sobretudo acidente de trabalho e automóvel, mas continua a ser uma preocupação para o sector. Frisou que "a consolidação do sector não está terminada" mas que esse não é um problema, porque é do interesse do sector "a procura de mais eficiência e de rentabilidade para ter capacidade de investir e de saber como é que se medem esses novos riscos e se oferecem novos produtos e serviços".
Ditos
A opinião do painel
O desafio da governação das seguradoras
"O maior desafio das seguradoras é o da 'governance' e das políticas de governação" afirmou Rogério Dias, director-geral da Generali. Na análise de Gabriel Bernardino, presidente da EIOPA, um ponto crítico de implementação do Solvência II nos vários mercados europeus "prende-se com a necessidade de dotar a empresa de um efectivo sistema de governação, que integre considerações ligadas ao risco, ao capital e ao impacto nos consumidores nas tomadas de decisão estratégicas da empresa. Nesta área, em que a cultura empresarial desempenha um papel muito relevante, há ainda um longo caminho a percorrer".
33%
Satisfação
Um estudo feito pela Capgemini e a EFMA conclui que apenas 33% dos millennials diz estar satisfeito com os serviços das seguradoras.
Dotar a empresa de um efectivo sistema de governação dever ser uma prioridade para as seguradoras.
"O pilar I é quantitativo e se houver capitais suficientes à partida resolvessem os principais problemas. O 'governance' não é uma questão de capital, é de estruturação e de organização interna. E há a necessidade de haver uma 'compliance' forte para assegurar que estes sistemas do 'governance' são devidamente observados" disse Nuno Luís Sapateiro.
Responsabilidade transversal
"Hoje fala-se na alteração cultural das organizações em nome da rapidez e da simplicidade. Só que alterações culturais das organizações não se fazem apenas com simplicidade mas também com controlo, que virá das novas funções dos actuários, da 'compliance', da regulamentação que vem alertar os seus gestores para alterarem os procedimentos internos" referiu Rogério Dias.
"Existe uma ideia quase enraizada de que a responsabilidade acaba no conselho de administração, que é o órgão decisório. Solvência II com as funções-chave e os directores de topo alargou o leque e tornou transversal a responsabilidade ligada às questões da idoneidade, repartição de funções, dos códigos de conduta" disse o advogado da PLMJ. O tema da subcontratação é algo crítico por deixar bem claro que tudo o que é subcontratação e que saia da esfera directa da seguradora têm de ser devidamente sujeita a uma triagem interna e até externa quiçá da ASF exemplificou Nuno Luís Sapateiro.