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A tecnologia está a mudar os seguros

O modelo de negócio é o mesmo: a protecção dos riscos através do um prémio. Só que as tecnologias estão a mudar o "back-office", com mais produtividade, e a relação com o consumidor com o uso do preço adaptado ao perfil de cada consumidor e ao seu comportamento.

04 de Abril de 2017 às 10:18
Santi Cianci, CEO da Generali Portugal, assinala que a tecnologia está a permitir acelerar a gestão de sinistros. Bruno Simão
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"O sector dos seguros é muitas vezes visto como tradicional, mas na verdade é um dos mais inovadores. Dada a natureza da nossa actividade, que é a protecção de riscos, temos de antecipar tendências e procurar soluções antes mesmo de elas serem requeridas pelos clientes" diz Santi Cianci, CEO da Generali Portugal.

As técnicas de "data mining", "machine learning" e "big data" estão a ser usados e terão uma aplicação crescente no futuro. Segundo Gastão Taveira, CEO da i2S, "toda a área de 'business analytics' foi alterada e potenciada com os conceitos de 'big data' e 'predictive analytics'". Acrescenta que a "'machine learning' é uma área em fortíssimo desenvolvimento e cujo impacto iremos sentir de forma crescente. As tecnologias de 'machine learning' vão permitir a melhoria da selecção de riscos e subscrição, tarifação, etc". A sua previsão é que "em conjunto, estas tecnologias irão permitir o desenho de produtos muito melhor adaptados às necessidades de segmentos específicos, incorporando a alteração mais frequente de coberturas e preços e tarifas muito mais ajustadas a riscos cada vez mais segmentados. Estas tecnologias vão potenciar o 'usage based pricing' (um preço adaptado ao perfil de cada consumidor e ao seu comportamento)".

Diferenciação e riscos da tecnologia

Santi Cianci, CEO da Generali Seguros, mostra como o caminho se faz na prática do negócio. Até há alguns anos, os preçários das seguradoras eram muito idênticos para todos os clientes, em que o agravamento do preço dependia de factores como a idade e sinistros passados. "Com as novas soluções tecnológicas, este paradigma está a mudar drasticamente. A criação de base de dados com informação sobre sinistros permite uma melhor percepção do risco e da sinistralidade, oferecendo a possibilidade de as seguradoras terem uma melhor quantificação dos riscos a que estão expostas. Por outro lado, as ferramentas de telemática e afins dão a possibilidade de definir padrões de comportamento a nível individual, sendo assim também possível uma adequação do prémio ao risco de forma personalizada" refere Santi Cianci.

Consciente da tecnologia como forma de diferenciação tanto dos "back-offices" como das soluções, a casa mãe, Generali, adquiriu a MyDrive Solutions, start-up inglesa fundada em 2010, que está entre as empresas líderes no uso de ferramentas de análise de dados para definir perfis de estilos de condução. "Esta análise permite identificar produtos inovadores e à medida dos clientes e oferecer preços favoráveis aos condutores de menor risco" refere Santi Cianci. Por isso não surpreende que a Generali tenha integrado a lista das 50 empresas mais inovadoras do mundo de acordo com o MIT Technology Review, sendo a única seguradora a fazer parte deste ranking.

A criação de base de dados com informação sobre sinistros permite uma melhor percepção do risco e da sinistralidade. Santi Cianti
CEO da Generali Seguros

A tecnologia comporta novos riscos como o uso dos dados pessoais e os padrões éticos que exigem, o potencial de exclusão de determinados consumidores em função das suas características e os riscos cibernéticos associados aos elevados volumes de informação detidos pelas empresas de seguros. "A tecnologia tem grandes vantagens, para as pessoas e para as empresas, mas como tudo na vida acarreta riscos. No mundo em rede, em que todos estamos ligados, é necessário adoptar medidas de protecção que minimizem as possíveis ameaças" admite Santi Cianci. E neste campo, as seguradoras são tanto clientes como fornecedoras, como refere o gestor de origem italiana, pois "investimos em soluções tecnológicas e sistemas de informação robustos que são "state-of-the-art" em termos de segurança. Por outro disponibilizamos seguros cibernéticos, de forma a minimizar os impactos de eventuais ataques".

Relação com o consumidor é chave

A digitalização da economia diz-se que vai obrigar a repensar os modelos de negócio das seguradoras, o modelo de relacionamento com os consumidores, e o suporte tecnológico das várias componentes da cadeia de valor do sector. Para Santi Cianci, "a relação com o consumidor é fundamental nos seguros, pelo que as companhias e os seus canais têm de se adaptar às tendências e hábitos de consumo". Os clientes são muito diferentes e uns preferem as plataformas digitais para as suas compras de apólices e outros não prescindem de apoio presencial. As seguradoras têm de estar onde está o cliente, por isso, a tecnologia e o mediador são aliadas neste processo.

Mas como refere "mais do que a tecnologia, o que faz a diferenciação é o serviço personalizado ao cliente". "No que diz respeito à gestão de sinistros, a tecnologia está já a desempenhar um papel importante, pois permite acelerar os processos e desmaterializá-los, com ganhos de produtividade assinaláveis. Já as novas ferramentas previsionais e de 'big data', a par do cruzamento de dados, tem o condão de lançar alertas para potenciais situações de fraude, a qual é um dos principais problemas do sector dos seguros a nível mundial".


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