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O mistério da falta de médicos

O número de médicos em Portugal é elevado face à média da OCDE, 5,4 por 10 mil habitantes, “mas não sabemos onde é que estão, porque não estão no público nem no privado”, afirmou Óscar Gaspar.

Filipe S. Fernandes 16 de Novembro de 2022 às 16:00
Maria de Belém, ex-ministra da Saúde Mariline Alves
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"É verdade que o número de médicos em Portugal é elevado face à média da OCDE, 5,4 por 10 mil habitantes, mas, com franqueza, não sabemos onde é que estão, porque não estão no público nem no privado. No privado, não conseguimos contratar anestesistas, pediatras, por exemplo", afirmou Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa da Hospitalização Privada (APHP).

Os recursos humanos são uma questão essencial na saúde e afeta o público, o privado, o social e não é exclusivo de Portugal porque abrange outros países europeus, como assinalou Maria de Belém, ex-ministra da Saúde. Citou um relatório de outubro de 2022: "Todos os países da região europeia da OMS enfrentam graves problemas relacionados com os seus recursos humanos na área da saúde", sobretudo devido ao envelhecimento dos profissionais de saúde".

Mas para Maria de Belém Roseira, o problema mais grave do Serviço Nacional de Saúde é "o abandono muito acelerado de pessoas do SNS cruzado com o desinvestimento que se fez do ponto de vista da obsolescência dos equipamentos. Trabalhar no SNS é pesado, é mal remunerado, é muito exigente do ponto de vista pessoal e profissional porque obriga a noites, a fins de semana, e as pessoas cada vez mais pedem para trabalhar das 9h às 17h". Por isso, "os mesmos médicos hoje estão menos disponíveis do que estavam há 10 anos e isto é um problema do setor da saúde, que vai precisar de mais profissionais de saúde", concluiu.

Cinco especialidades

"Criámos a ideia de que há falta de médicos, quando do ponto de vista absoluto não é assim, há um conjunto de cinco especialidades que estão a ser afetadas pelo envelhecimento", avisou Adalberto Campos Fernandes, professor associado convidado da ENSP, mas acrescentou que a falta de médicos no SNS também se deve a modelos organizacionais. Mesmo considerando que a missão e as responsabilidades de um hospital público são diferentes às de um hospital privado, a organização dos privados é mais simples e, em média, têm menos 30% em staffing.
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