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Jerónimo de Sousa: "Aos chineses o que é dos chineses"

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, é contra as privatizações e contra a venda do Novo Banco a capital estrangeiro.

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"A Portugal o que é de Portugal. Aos chineses o que é dos chineses".  O PCP discorda da venda do Novo Banco, independentemente da nacionalidade do capital. Nem capital chinês, nem capital americano. "Preferia capital português, ou seja, capital público. Não aceitamos a sua venda [do Novo Banco]", afirma Jerónimo de Sousa.


A proximidade ideológica entre a China e o PCP não é razão para  uma mudança de posição e Jerónimo de Sousa sublinha que esta mensagem já foi transmitida ao PC chinês. "Fizemos questão em sublinhar junto dos chineses, designadamente numa viagem que lá fizemos, que estamos em desacordo com as privatizações e que defendemos, digamos, a nacionalização e o controlo público de empresas estratégicas para o país. A Portugal o que é de Portugal, aos chineses o que é dos chineses".

 

"Já basta tudo aquilo que tem acontecido no sector financeiro,
na banca particularmente.
Não tem de ser
o povo português a pagar os desmandos
da banca." 
Jerónimo de Sousa

Para o secretário-geral dos comunistas trata-se de uma questão de princípio. "Quando somos contra esta entrega ao capital estrangeiro, não deixamos, nem Angola, nem a China, de fora".


No caso concreto do colapso do BES, que conduziu à criação do Novo Banco, o secretário-geral do PCP considera que "deu o que deu" por três razões. "Por acção dos seus detentores, por falta de acção e de supervisão do Banco de Portugal e por falta de acção e de fiscalização do Governo".


Na Redacção Aberta do Negócios, Jerónimo de Sousa revela o conteúdo do programa eleitoral do PCP em matéria de sectores estratégicos, que é apresentado esta terça-feira. O programa defende "o reforço da regulação, o controlo público da banca e nacionalizações com a negociação em relação aos respectivos titulares, tendo em conta o interesse nacional."


Além da banca, a energia é um desses sectores. "Por cada mil euros que hoje uma EDP ou outra empresa ganha só 19 euros ficam cá no nosso país." Para o líder dos comunistas, o facto de sectores "fundamentais para o crescimento e desenvolvimento do país  estarem a ser entregues ao capital estrangeiro" é um "condicionamento tremendo".


Trabalhadores não vão com sorrisos para as greves

É com a convicção comunista que Jerónimo de Sousa fala do mal que as privatizações trazem: menos direitos, menos liberdades e redução de postos de trabalho. "O que tem acontecido é isto e os trabalhadores têm essa consciência". E acrescenta a pergunta: "alguém acredita que a concessão dessas empresas [de transportes] vai permitir um acesso mais fácil e mais barato para os utentes?".


"Neste quadro, consideramos que a resistência às privatizações é do interesse dos trabalhadores, é do interesse dos utentes e é do interesse nacional". Por isso, o PCP está solidário e "naturalmente" mobiliza os seus militantes para a luta. A greve é uma forma de luta "superior", "um princípio fundamental". Jerónimo de Sousa, que é do tempo em que fazer greve era crime, não gosta por isso de ouvir Sérgio Monteiro, o secretário de Estado dos Transportes, "com aquele ódio em relação à greve", que é, no seu entender, um "ódio à democracia".


O secretário-geral do PCP acredita mesmo que "são os trabalhadores que sofrem em primeiro lugar as consequências da sua decisão de recurso à greve. Deixam de receber. Você nunca vê um trabalhador ir com um sorriso nos lábios para a greve". No entanto, é um direito que "não pode banalizado", avisa. Mas não fala em banalização quando se pergunta, na Redacção Aberta do Negócios, se não é isso que se está a passar nos transportes em Lisboa. "Já perderam muito salário com essas lutas e eles não são masoquistas". Deixa já o desejo de se fazer, "mais à frente", o balanço da luta face ao que os transportes se tornaram. "Quando se luta, nem sempre se ganha, mas quando não se luta perde-se sempre", conclui.

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