Outros sites Medialivre
Notícia

Portugal é um país treinado em crises e riscos

Os programas comunitários de resposta à crise pandémica podem contribuir para a solução de um problema atávico da economia portuguesa que é a alavancagem das empresas portuguesas.

15 de Dezembro de 2020 às 12:00
António Ramalho, CEO do Novo Banco, sublinhou que nesta pandemia os bancos se revelaram preparados para ser um suporte real de apoio à economia. Mariline Alves
  • Partilhar artigo
  • ...
Durante este período de crise sanitária, "a banca desempenhou a sua função", afirmou António Ramalho, presidente executivo do Novo Banco, durante o debate digital "O Desígnio das Empresas Portuguesas", que se realizou durante a entrega dos Prémios Exportação & Internacionalização, uma iniciativa do Jornal de negócios e do Novo Banco, com a colaboração da Iberinform, que vai na 10.ª edição.

Para António Ramalho, "algum do esforço que os contribuintes fizeram ao serviço da banca resultou, uma vez que os bancos estavam preparados para ser um dos principais fatores operacionais e reais de suporte à economia". Deu como exemplos a capacidade de resposta nas moratórias, nas linhas de crédito com garantia do Estado entre 70 e 90%, e até na gestão operacional dos lay-offs. "Foi este tripé que acabou por conseguir assegurar alguma serenidade num período particularmente difícil da pandemia."

Ninguém vai esperar por nós se não tivermos a capacidade de mantermos políticas de atração de mercado.  Luís Palha da Silva
Presidente da Pharol e membro do júri 
Novos riscos surgiram nesta pandemia, tanto de incerteza como de assimetria das sequelas destes riscos. António Ramalho
CEO do Novo Banco
Cerca de 60% das empresas exportadoras são clientes do Novo Banco, e António Ramalho considerou que o pós-pandemia traz riscos acrescidos e oportunidades diversas, como a "a globalização, porque, hoje em dia, os riscos recentes nas cadeias de valor, nomeadamente de fornecimentos, exigem uma maior cautela e uma maior proximidade das soluções da cadeia de valor". Frisou ainda uma segunda oportunidade que "é a necessidade de flexibilidades adicionais dentro desta cadeia de valor para timings e diversificação de mercados, que começam a encomendar hoje com menos amplitude, targets mais pequenos e especialização mais específica". Finalmente referiu que "novos riscos surgiram nesta pandemia, tanto de incerteza como de assimetria das sequelas destes riscos, mas portugueses têm convivido com as crises, isto não os assusta. Portugal é um país treinado em crises e em riscos".

As três lições da crise

Luís Palha da Silva, presidente da Pharol e membro do júri dos Prémios Exportação e Internacionalização, falou das lições que a crise que trouxe à luz. A primeira, que considerou "atávica na economia portuguesa em geral e em todos os setores, que é a elevada alavancagem dos diferentes balanços. Nas empresas, sem um balanço forte não é possível aspirar a ter uma sustentabilidade das exportações. Ninguém vai esperar por nós se não tivermos a capacidade de manter políticas de atração de mercado, de investimento em marcas, canais de distribuição. Fortes balanços, capitalização das empresas, é por isso bastante importante". Referiu ainda que "não sabemos qual é a dimensão dos recursos que virá para a capitalização das empresas, mas sabemos que haverá uma forte contribuição da União Europeia para esse desiderato".

Luís Palha da Silva, presidente da Pharol e membro do júri.

Os outros aspetos têm a ver "alguma recentragem das empresas nos mercados mais próximos e que controlam de forma mais próxima", e com a necessidade de futuro mas que requer muito investimento que são "as marcas fortes".

Miguel Oliveira, CEO da Tech4Home

Gestor global, Miguel Oliveira, CEO da Tech4Home, empresa eletrónica que cria, desenvolve e comercializa telecomandos e soluções de tecnologia avançada para as empresas de televisão paga mundiais, falou da experiência de exportação de 90% dos seus cerca de 40 milhões de euros de volume de negócios previstos para 2020.

Ainda não se falava da covid-19 e já a Tech4Home se deparava com o encerramento das fábricas com que operava na China. Depois mercados fundamentais como os Estados Unidos, França e outros países europeus foram muito afetados, e houve quebras de encomendas.

Do lado positivo, "sentimos quebras de fornecimento que tiveram impacto, embora não tenham sido muito grandes, porque a China rapidamente conseguiu reativar as suas empresas", diz Miguel Oliveira. Por outro lado, tentaram colmatar as quebras de encomendas, com "novos mercados e novos clientes porque, apesar de a pandemia afetar todo o mundo, o certo é que os países foram afetados de forma diferente. Felizmente, o setor das telecomunicações, em que operamos, não foi dos mais afetados e este ano ainda vamos conseguir aumentar as exportações".

As 12 melhores das mais de três mil avaliadas "Estamos hoje com o nível de exportações de 2011, mas recordemos que foi em 2011 que se iniciou os Prémios Exportação & Internacionalização, no qual 161 empresas foram premiadas, empresas que se dedicaram à exportação e a internacionalização que são as duas faces da mesma moeda, então as exportações passaram de menos de 30% para 44% do PIB em 2019", afirmou António Ramalho, presidente executivo do Novo Banco, durante a 10.ª edição dos Prémios Exportação & Internacionalização, iniciativa do Jornal de Negócios e do Novo Banco, em parceria com a Iberinform Portugal.

Como membro do júri, Luís Palha da Silva, presidente da Pharol, salientou que o júri considerou que "olhar para 2019 sem levar em linha de conta a situação em que se vive atualmente não teria sentido". Por isso determinaram que a exportação tinha de ser sustentável, "e não podia ser um fogacho de um só ano". Assim, todas as empresas que receberam os prémios demonstraram ter não só um nível de balanço e de solidez financeira que permite pensar que "mesmo em momentos de maior aperto de tesouraria serão capazes de satisfazer as suas encomendas". O segundo aspeto foi ter em conta a dimensão e a diversificação dos mercados.

Para esta 10.ª edição dos prémios, em que se premiaram 12 empresas, partiu-se de um universo de mais de 385 mil empresas, que apresentaram as suas demonstrações financeiras anuais de 2019 através do IES (Informação Empresarial Simplificada). Destas, mais de 57 mil registaram exportações e para a atribuição dos prémios foram avaliadas e analisadas 3.149, explicou António Monteiro, country manager da Iberinform.
Mais notícias