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Cutipol: a inovação e a arte da cutelaria

Em 2022 produziu cerca de 2,7 milhões de peças em 29 modelos diferentes, excluindo variações de acabamentos e cores. Estes números implicam inovação, industrialização mas com um cunho das manualidades, do savoir faire da cutelaria.

Filipe S. Fernandes 19 de Outubro de 2023 às 14:00
Loja da Cutipol no Chiado, Lisboa
Loja da Cutipol no Chiado, Lisboa Goncalo M. Catarino
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O fundador da Cutipol, José Ribeiro (1929-2012), tinha como lema: "se tem talheres Cutipol, é porque se come bem". Por isso sempre sempre tiveram em atenção "o canal Horeca e o retalho premium como parte da estratégia de posicionamento e promoção da marca", como explica João Pedro Ribeiro, gestor de operações da Cutipol. A empresa foi a vencedora do Prémio Exportação e Internacionalização na categoria de PME Bens Transacionáveis da 12ª edição dos Prémios Exportação & Internacionalização, referente a 2022, uma iniciativa do Jornal de Negócios e do Novo Banco, em parceira com a IberinforPortugal.

"Fazemos um esforço constante para sermos competitivos, priorizando as entregas a esses clientes, mesmo que isso por vezes contrarie o nosso planeamento de produção. Todos os nossos representantes sabem que desenvolvemos todos os esforços para corresponder às expetativas do canal Horeca (hotelaria e restauração), indo de encontro aos altos padrões de exigência que são solicitados", considera o gestor.

A área de hotelaria e restauração, onde têm registado um aumento de encomendas, tem implicado a adaptação às suas necessidades apresentando variações de modelos exclusivos e lançando novos produtos. Esta área tem impacto no stock disponível para os distribuidores, na garantia de qualidade e no suporte contínuo ao cliente, incluindo a formação. "Do ponto de vista do marketing, produzimos normas e conteúdos para que esses clientes possam adaptar aos seus mercados e distribuir aos consumidores finais, assegurando a integridade da marca Cutipol", afirma João Pedro Ribeiro.

Quem mais contribui para o volume de negócios da Cutipol, como reconhece o gestor, são as redes de distribuição retalhista, sobretudo nos mercados americano, japonês e alemão. "Não se trata de coincidência, são das economias do mundo com maior poder de compra, o que nos tem permitido mitigar o risco de portfólio", refere João Pedro Ribeiro. No trabalho de desenvolvimento de uma rede mais ampla, a Cutipol tem hoje dois segmentos importantes de mercado que resultam das suas lojas próprias no Chiado (Lisboa), e no Aviz (Porto) e, mais recentemente, a loja online. Como diz João Pedro Ribeiro, têm como estratégia chegar diretamente ao do consumidor final através da venda e promoção direta, para aumentar a rentabilidade, melhorar o serviço de vendas, promover e desenvolver a marca.

O berço da Cutipol

As Caldas das Taipas, na região de Guimarães, têm uma tradição industrial de cutelaria desde o século XVII e foi o berço onde nasceu a Cutipol. Nos anos 1950, José Ribeiro (1929-2012), industrial cutileiro de Guimarães, fundou a Artinox e, em 1963, a Cutipol, nome escolhido a pensar na exportação, e que passados 60 anos representa 90% do volume de negócios. A seu lado, tinha a mulher Alice Marques (1931-2017), que tinha a área da gestão e era a alma da organização.

Os primeiros tempos da Cutipol não foram fáceis mas distinguiu-se desde logo pelo saber fazer, pela qualidade da produção, dos materiais e dos acabamentos, tendo começado a colocar produtos nos mercados europeus e a colaborar nos anos 1970 com a distribuidora portuguesa Braz & Braz. A partir de 1976, e pela mão do designer Joaquim Ribeiro, um dos nove filhos de José Ribeiro e Alice Marques, e que trocou a arquitetura pelo design, a Cutipol torna-se conhecida pela originalidade das suas coleções. Foi a inovação que permitiu antecipar-se à concorrência no mercado e passar a exportação de 30% para os atuais 90%, distribuídos pelo maior número possível de mercados para reduzir riscos e quebras.

Em 1994 Joaquim Ribeiro, responsável pelo design dos modelos, mudou a imagem de marca da Cutipol: "comecei a desenhar modelos que não existiam no mercado". Nessa altura a empresa vendia sobretudo faqueiros de estilos clássicos europeus com uma atenção especial para o acabamento e pormenor, começou a apresentar-se com produtos próprios e diferentes. E quase duas décadas depois, em 2016, o modelo Goa recebeu um prémio do Japan Institute for Design Promotion e tornou-se o modelo de cutelaria com mais réplicas a nível mundial.

A inovação não implica a massificação da industrialização. Muitas das suas peças são, atualmente, realizadas com elevado envolvimento manual na pequena fábrica onde colaboram cerca de 127 pessoas. Na opinião de Joaquim Ribeiro, a sustentabilidade da Cutipol baseia-se na criatividade e na inovação, mas a peça chave de todos os esses elementos é o design, que se reflete na gestão de produção industrial.

O "savoir faire" da cutelaria

Esta ligação estreita permite a otimização dos equipamentos, a avaliação da das novas tecnologias emergentes no mercado, no sentido de melhorar a produtividade, a qualidade e a exploração de novas abordagens ao design. Além disso, como sublinha João Pedro Ribeiro, o departamento de manutenção e inovação "tem capacidade em adaptar as máquinas às singularidades do nosso processo produtivo, o que, não só nos permite uma maior liberdade na concretização das formas imaginadas, como também representa um fator importante de competitividade económica que contribui para a sustentabilidade da nossa empresa".

Depois existe o elemento da manualidade que "desempenha um papel muito significativo na produção dos nossos talheres. Permite-nos executar processos que, por enquanto, as máquinas não conseguem reproduzir com a perfeição desejada. Acrescenta também uma flexibilidade à produção, possibilitando a criação de lotes "just in time", aumentando a versatilidade na realização de diversos processos, ao mesmo tempo que mantemos uma capacidade de resposta eficaz na entrega aos nossos clientes finais". Este elemento baseia-se no "savoir-faire" da cutelaria e implica a preservação de técnicas de produção na arte da cutelaria.


"O pessimismo está guardado para 2024 com expectativas negativas"

O gestor de operações da Cutipol assume que o maior desafio da empresa será manter as encomendas e lidar com o aumento dos custos que se adivinham.

Para a Cutipol, 2022 acabou por se revelar um pouco acima das expectativas com um aumento de 3% no volume de negócios, com ligeira melhoria de resultados, apesar do comportamento do preço das matérias-primas e da energia, para o que contribuiu "a notoriedade da marca, a diversificação de mercados e a apresentação de novas propostas", reconhece João Pedro Ribeiro, gestor de operações da Cutipol.

Este ano o crescimento deverá ser semelhante, com evoluções diferentes nas matérias-primas, com uma redução de custos, e com os gastos de pessoal a aumentar, "numa tentativa de conseguir que os nossos trabalhadores tenham um aumento real nos seus vencimentos, face ao aumento generalizado do custo de vida", refere João Pedro Ribeiro.

"O pessimismo e as expectativas negativas estão guardados para 2024". João Pedro Ribeiro, salienta que "as políticas monetárias dos bancos centrais continuam restritivas. O custo com a habitação absorve uma grande parte do rendimento disponível das famílias, o que limita consideravelmente o consumo. Com as notícias recentes das exportações a abrandar, a ameaça de cenário de recessão na UE bem como nos EUA para o ano de 2024, o índice de confiança dos consumidores em queda, o nosso maior desafio será manter as encomendas, de forma a preencher a capacidade instalada e continuar a otimizar e racionalizar os processos para lidar com o aumento dos custos que se adivinham".

João Pedro Ribeiro sublinhou os tempos incertos em que se vive mas reforçou que "a Cutipol tem uma identidade muito bem formada, um rumo traçado, e o objetivo é o seu desenvolvimento em termos de marca, de mercados, de crescimento de vendas e de melhoria de produtividade".

A notoriedade dos chefs

De uma forma recorrente, nos últimos quinze anos, está nas mesas mais prestigiadas de restaurantes, chefs estrelados tanto em Portugal como no Globo. Para João Pedro Ribeiro a razão desta procura está na notoriedade da Cutipol, e no alto nível de especialização que oferecem nas gamas de produtos. Exemplifica com a existência nas coleções de detalhes como conjuntos de pauzinhos asiáticos, garfos para ostras, facas de bolo japoneses ou até uma colher de molho individual para acompanhar os arrozes de peixe ou marisco.

Por outro lado, a Cutipol tenta criar uma relação próxima de parceria, "oferecendo um serviço personalizado que marcas de grande dimensão não conseguem, permitindo a adaptação de novas peças ou acabamentos, atendendo às necessidades dos chefs mais exigentes que procuram peças com identidade para adornar os seus pratos favoritos. No final, estabelecer parcerias com chefs acaba por ser uma escolha lógica, dadas as afinidades de valores entre ambas as partes", conclui João Pedro Ribeiro.

A Cutipol foi a vencedora do Prémio Exportação e Internacionalização na categoria de PME Bens Transacionáveis da 12ª edição dos Prémios Exportação & Internacionalização, referente a 2022, uma iniciativa do Jornal de Negócios e do Novo Banco, em parceira com a Iberinform Portugal.
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