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Em 2023, os setores exportadores têm desafios acrescidos

No próximo ano, haverá um cenário marcado por elevados preços da energia, provável imposição de poupança de energia na Europa, o possível abrandamento ou queda da procura externa, e a perspetiva de taxas de juro mais altas.

21 de Setembro de 2022 às 16:00
Carlos Andrade, economista-chefe do Novo Banco
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As exportações portuguesas tiveram um desempenho muito positivo em 2021-2022, sobretudo tendo em conta o contexto particularmente difícil. O ano passado foi marcado pela pandemia e pela escassez de recursos produtivos e de mão de obra, com um aumento dos preços das matérias-primas e consumos intermédios e a forte subida dos custos de transporte. Depois, em 2022, com os primeiros impactos da guerra na Ucrânia, registou-se um aumento dos custos da energia, refere Carlos Andrade, economista-chefe do Novo Banco.

Em 2021, as exportações de bens e serviços cresceram 13% mas é necessário ter em conta a quebra das exportações em 2020, que encolheram 10,2%. No segundo trimestre de 2022, a procura externa líquida teve o principal contributo para a variação trimestral do PIB, anulando o efeito da queda da procura interna. "Este desempenho confirma a extraordinária capacidade de adaptação e a resiliência das empresas portuguesas em contextos adversos. E confirma um foco crescente das empresas portuguesas nos mercados externos, que as obriga a um trabalho contínuo de procura de ganhos de competitividade", sublinhou Carlos Andrade.

Em 2019, o peso das exportações de bens e serviços no PIB tinha atingido um máximo de 43,5%. Com a pandemia, esse peso recuou para cerca de 37% em 2020. Em 2021, recuperou para 42%. No conjunto dos dois primeiros trimestres de 2022, atingia 49%. "Não devemos extrapolar para o conjunto do ano, mas não deixa de ser significativo", afirmou Carlos Andrade. O economista-chefe do Novo Banco assinalou ainda que se as exportações de serviços de turismo têm tido um desempenho muito forte, com a atividade no setor a recuperar os níveis pré-covid-19, de acordo com os dados de julho, as exportações de bens cresceram no segundo trimestre de 2022, em volume, 14,1% em termos homólogos e 5% em cadeia, variação trimestral.

Desaceleração das exportações

Entre os principais setores exportadores estão os produtos metálicos, os produtos químicos, os produtos alimentares e agrícolas, as máquinas e equipamentos, o papel e celulose, os plásticos e moldes e os produtos minerais. Mas, como salientou Carlos Andrade, "as exportações na balança de pagamentos tecnológica aumentaram 19,5% em junho de 2022, em termos homólogos". Acrescentou que, "nos serviços, um ponto interessante a notar é o aumento das exportações de serviços de turismo para os EUA, em parte beneficiando do efeito cambial favorável, mas, também, da ‘descoberta’ de Portugal como destino turístico por parte dos americanos".

Para 2023, na opinião de Carlos Andrade, os setores exportadores têm desafios acrescidos com os impactos dos elevados preços da energia, com a possível imposição de poupança de energia na Europa, com o provável abrandamento ou queda da procura externa, dada uma possível recessão na Zona Euro e com a perspetiva de taxas de juro mais altas.

"Neste contexto, espera-se uma desaceleração das exportações. Em todo o caso, as empresas portuguesas estão habituadas a responder a situações de crise", disse Carlos Andrade. Recorreu ao passado para mostrar como o setor exportador português teve uma forte resiliência em períodos difíceis anteriores, como a crise da dívida soberana e o ajustamento da troika, ou a pandemia da covid-19. "Espera-se também que a execução do Plano de Recuperação e Resiliência possa acelerar e focar-se no objetivo de ser um apoio importante à competitividade externa das empresas portuguesas", concluiu Carlos Andrade.

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