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A plataforma Wayste, desenvolvida pela Lipor, associação intermunicipal responsável pela gestão de resíduos de oito municípios do Grande Porto, foi apresentada como um caso de boa inovação, na conferência de lançamento da 3.ª edição do Prémio Nacional de Inovação. "Este tipo de iniciativas é um estímulo, uma forma de dar visibilidade ao que de bom fazemos e ao que de bom temos. E é também um incentivo para que outros sigam o mesmo caminho", afirmou José Manuel Ribeiro, presidente do Conselho de Administração da Lipor.
O desenvolvimento do projeto Wayste, que se baseia numa plataforma de Business Intelligence (BI), começou em 2016, com um levantamento detalhado sobre os circuitos de recolha nos municípios associados da Lipor, entidade que gere os resíduos de um milhão de pessoas no Grande Porto. "À época, os circuitos não eram monitorizados. Tínhamos apenas um dado: o peso recolhido. Não sabíamos mais nada", explicou. Além disso, os poucos registos existentes eram feitos manualmente, o que gerava ineficiências e perdas de informação.
A solução, que está a ser igualmente implementada na Galiza, passou pela introdução de tecnologia RFID, que permite monitorizar, em tempo real, as operações de recolha. "Começámos a testar o modelo de dados em 2017, criámos o data center e, em 2018, avançámos com os primeiros pilotos", revelou. Em 2019, para complementar os dados recolhidos pelas viaturas, foi desenvolvida uma aplicação móvel que permite registar recolhas, fotografias e alertas, bem como integrar informação sobre os clientes.
Os resultados começaram a surgir rapidamente. Em 2020, o Wayste foi reconhecido como uma boa prática pela European Circular Economy Stakeholder Platform, reforçando o seu impacto no setor. "Quatro anos depois do momento zero, conseguimos este reconhecimento. E, em 2024, com o lançamento da nova versão da plataforma, fomos premiados com o Prémio Nacional de Inovação do Setor Público, o que nos trouxe aqui hoje", destacou o responsável.
Uma ferramenta essencial para mudar comportamentos
Além da vertente operacional, José Manuel Ribeiro sublinhou a importância da tecnologia para influenciar o comportamento dos cidadãos. "A maioria dos casos de insucesso na gestão de resíduos acontece porque os sistemas não percebem a importância de estudar o comportamento humano. Só conseguimos convencer as pessoas se percebermos as suas motivações", afirmou.
Através do Wayste, a Lipor consegue analisar taxas de participação no sistema porta a porta, que já abrange 300 mil pessoas na região. "É a zona mais avançada de Portugal neste modelo. E saber como as pessoas aderem é crítico. Caso contrário, estamos apenas a enganar-nos", alertou.
Outro avanço importante é a monitorização em tempo real da operação, com análise detalhada do desempenho dos circuitos e da utilização dos contentores. "Nos próximos tempos, vamos começar a ver mais contentores de acesso condicionado, que funcionam com um cartão ou uma chave eletrónica, para incentivar a separação dos resíduos orgânicos", anunciou.
Os resíduos orgânicos recolhidos são transformados num corretivo agrícola de alta qualidade, certificado para agricultura biológica, comercializado sob a marca Nutrimais. "Há poucas organizações na Europa a fazer isto, mas a Lipor conseguiu inovar e criar valor a partir do que muitos ainda chamam lixo", destacou José Manuel Ribeiro.
A plataforma Wayste também permitirá implementar o sistema PAYT – Pay As You Throw, um modelo de tarifação que incentiva a redução de resíduos. "O PAYT introduz um princípio de justiça: quem gera menos resíduos, paga menos. A isto se chama justiça", concluiu José Manuel Ribeiro.