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Num mundo cada vez mais orientado para a inovação, a capacidade de medir e criar métricas relevantes é crucial para o sucesso dos projetos. Em Portugal, a inovação tornou-se um motor essencial do crescimento económico e da competitividade. Contudo, a simples implementação de ideias disruptivas não é suficiente; é imperativo compreender e avaliar o impacto das inovações.
A criação de métricas adequadas proporciona uma visão clara dos avanços e permite tomar decisões informadas refletindo os resultados tangíveis e o impacto nas pessoas e nas operações. Medir adequadamente significa antecipar desafios, ajustar estratégias e, acima de tudo, aprender com cada iteração. Este é o ponto de partida da entrevista com Sílvia Garcia, administradora da ANI – Agência Nacional de Inovação e jurada do Prémio Nacional de Inovação (PNI), que explica como medem a capacitação do Sistema Nacional de Inovação (SNI) e os resultados da promoção da valorização de tecnologia e de políticas de inovação.
Como medem o impacto da inovação que a ANI apoia?
Medimos a procura pelas iniciativas, seja em número de participantes, de candidaturas recebidas, de volume do investimento proposto ou do número de empresas e de entidades candidatas. Analisamos a trajetória das tendências destas procuras e acompanhamos a evolução das patentes submetidas pelas entidades de interface, como os Centros de Tecnologia e Inovação (CTI) e os laboratórios colaborativos (CoLAB). Também monitorizamos a evolução dos doutorados nas empresas, através de dados declarados ao Sistema de Incentivos Fiscais à Investigação e Desenvolvimento Empresarial (SIFIDE).
Quais são as principais barreiras que as empresas e os empreendedores enfrentam atualmente no que diz respeito à inovação em Portugal?
A orientação para a inovação deve ser uma necessidade para qualquer empresa, como a qualidade ou a gestão são. É muito importante que a inovação seja cada vez mais entendida como um investimento. Para tal, é importante incentivar novas competências científicas e a aceitação de novas tecnologias, algo que requer o compromisso de todos: governo, indústrias, empresas, escolas e universidades. Apesar de a nossa estrutura industrial ser constituída por um conjunto de setores ditos "tradicionais", estes apresentam níveis de inovação muito elevados: indústrias do calçado, dos têxteis, dos moldes. No fundo, podemos dizer que estes setores são agentes de inovação e de promoção da inovação. O sistema científico e as empresas têm de estabelecer relações mais estruturais, sistémicas e sistemáticas e é aqui que a ANI tem concentrado os seus esforços.
Estamos no bom caminho?
Acho que estamos no bom caminho no que toca a este tema. Portugal tem, hoje, um dos mais vibrantes ecossistemas de empreendedorismo europeus (ganhámos recentemente o título de Lisboa: Capital Europeia da Inovação pelo iCapital, um programa do EIC gerido em Portugal pela ANI), decorrente dos investimentos realizados na última década em qualificação de recursos humanos, infraestruturas e tecnologia, que proporcionam enormes oportunidades para quem pretende lançar ou investir em novos negócios.
Como colabora a ANI com as instituições de ensino e centros de investigação para aumentar a inovação?
A ANI é responsável pela capacitação do Sistema Nacional de Inovação (SNI) e pela promoção da valorização de tecnologia e de políticas de inovação. No ano em que fazemos 30 anos de agências de inovação, mantemos este papel de agregador do Sistema Nacional de Inovação, tendo como principal objetivo promover as atividades de transferência de tecnologia, potenciando a sua valorização e permitindo uma maior e melhor articulação entre o conhecimento e as empresas. Um papel crucial que temos cumprido de forma eficaz, ajudando a criar valor a partir do conhecimento e da inovação, através de várias iniciativas.
Pode enumerar essas ideias?
Através do programa BfK – Born from Knowledge, a ANI tem vindo a apoiar e incentivar investigadores e estudantes que pretendam dar o salto para o empreendedorismo. Um empreendedorismo de base académica, científica e tecnológica, que torna estas startups mais robustas do ponto de vista técnico. O BfK Ideas é um concurso nacional de ideias de negócio oriundas das universidades e politécnicos. O BfK Rise é um programa de aceleração, com mentorias e capacitação dos projetos com maior potencial. O BfK Awards é uma distinção que se associa a outros parceiros, em que distinguimos startups "nascidas do conhecimento" científico e/ou tecnológico num estado mais avançado.
Para além do BfK – Born from Knowledge, a ANI e a Portugal Ventures têm a Call INNOV-ID, que já vai na sua 4ª edição, para financiar startups tecnológicas em fases de pre-seed, seed ou early stage. Finalmente, ao nível do Horizonte Europa, a ANI promove o Pilar 3 dedicado às empresas e ao empreendedorismo, com programas como o EIC Accelerator, EIC Pathfinder e EIC Transitions, bem como o EIT – European Institute of Technology.
Qual é a importância do Prémio Nacional de Inovação?
Portugal tem em frente inúmeros desafios, não só do ponto de vista económico, como do ponto de vista social e demográfico, no sentido de relançar a economia. A inovação, mas sobretudo o reconhecimento da inovação, pode ser a chave para promover estas alterações, retendo talento e permitindo o aumento da competitividade das empresas, nomeadamente ao nível do desenvolvimento de produtos e serviços diferenciados de alto valor acrescentado, mas também de captação e retenção de talento.
Neste sentido, o PNI apresenta-se como uma iniciativa diferente que obriga as empresas a sair da sua zona de conforto e que, ao distinguir nas categorias de personalidade, seja no segmento de negócio ou da tecnologia, celebra e assinala o papel essencial da inovação nesta geração, passando uma mensagem de força, essencial para impulsionar o crescimento económico e estimular a melhoria da qualidade de vida nacionais.