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Lipor inova com plataforma inteligente de resíduos

O reconhecimento obtido pela plataforma Wayste com o Prémio Nacional de Inovação despertou o interesse de vários municípios, em Portugal e no estrangeiro, que manifestaram intenção de adotar a solução desenvolvida pela Lipor para otimizar a recolha e monitorização de resíduos.

Existem diversos módulos novos a serem implementados entre os quais, os de disponibilização automática dos relatórios a efetuar junto de entidades como APA e ERSAR.
Existem diversos módulos novos a serem implementados entre os quais, os de disponibilização automática dos relatórios a efetuar junto de entidades como APA e ERSAR. Fotografias:DR
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Transformar a gestão dos resíduos através de tecnologia avançada e análise de dados em tempo real é o grande propósito da plataforma Wayste, desenvolvida pela Lipor – Associação de Municípios para a Gestão Sustentável de Resíduos do Grande Porto. Esta solução foi a vencedora do Prémio Nacional de Inovação na categoria Setor Público. Tudo começou quando a Lipor e os municípios associados efetuaram um levantamento sobre a robustez do seu sistema de informação e a fiabilidade dos dados que estavam a produzir. Esse estudo permitiu reconhecer uma série de melhorias a aplicar internamente, não só na gestão da informação de backoffice, como também na produção da informação no terreno, junto das equipas.

“Com este processo, identificou-se a necessidade de criar um sistema informático intermunicipal para efetuar a gestão de resíduos de forma automatizada, uma vez que as soluções apresentadas no mercado não respondiam às necessidades elencadas pela organização e municípios associados”, explicou ao Negócios José Manuel Ribeiro, presidente do Conselho de Administração da Lipor.

Para dar resposta a esta necessidade, foi criada a plataforma Wayste, que integra tecnologia RFID, um modelo de dados robusto e escalável e uma aplicação móvel, otimizando todo o processo de recolha e monitorização de resíduos, promovendo maior eficiência operacional, sustentabilidade ambiental e consciencialização dos cidadãos.

A iniciativa caracteriza-se por uma abordagem que integra um fluxo de informação em constante crescimento, apoiando o modelo de monitorização da gestão de resíduos nos municípios associados. Segundo a empresa, a operacionalização da Wayste foi possível através do desenvolvimento de um modelo de informação escalável e robusto, que permite a recolha de dados essenciais sobre as operações de recolha, assegurando a rastreabilidade dos resíduos e suportando a implementação do projeto PAYT (Pay-As-You-Throw).

“Não é possível gerir o que não se consegue medir. A digitalização e automatização de processos com o Wayste têm permitido aos municípios associados e à Lipor otimizar as suas operações e acelerar processos que anteriormente consumiam muito tempo dos técnicos. Além de ser possível tirar melhor rendimento dos circuitos, definir os Planos Estratégicos e novos projetos com base em dados fidedignos e responder de forma célere e criteriosa aos municípios, a utilização do Wayste tem permitido responder às entidades nacionais e financiadoras com um índice de confiança que anteriormente não existia”, detalhou José Manuel Ribeiro.

Gestão eficiente e detalhada

A plataforma utiliza tecnologia RFID de Ultra Frequência, que exige a instalação de um TAG RFID em todos os contentores, permitindo uma gestão que a empresa define como eficiente e detalhada. Além disso, foi desenvolvida uma aplicação móvel para Android que tem por objetivo facilitar operações como o registo de clientes e a georreferenciação de equipamentos. A solução possibilita ainda obter informações detalhadas sobre o ciclo de vida dos resíduos, desde a sua geração até à entrada na Lipor, promovendo uma comunicação e processamento de dados em tempo real.

Sobre os principais desafios que a plataforma ajuda a superar na gestão de resíduos urbanos, José Manuel Ribeiro explica que existe, a nível nacional, e existia na Lipor antes do Wayste, um défice no rigor e disponibilização dos dados. “O Wayste surge para preencher essa lacuna e, mais do que fornecer dados, pretende fornecer informação para que os atores do setor possam tomar decisões de forma mais célere e suportadas em evidências para que os resultados da Lipor e, por consequência, do país sejam melhorados”. Para isso, o modelo de dados criado foi desenhado para que qualquer entidade que gere resíduos em Portugal consiga utilizar a plataforma com o mínimo de customização.

“Foram identificados os sistemas de recolha existentes, fluxos a recolher, indicadores que são, por norma analisados e a alarmística que deverá ser gerada para cada evento e o rendimento atual tem sido bastante satisfatório tendo já absorvido inúmeras novidades no setor sem colocar em causa a orgânica do sistema. A realidade dos municípios da Lipor é bastante distinta e, muitas vezes, a realidade é diferente dentro do próprio município e em nenhum momento isso colocou em causa a utilização da plataforma”, ressalvou José Manuel Ribeiro. “A flexibilidade da plataforma, mas também da aplicação móvel com todas as suas funcionalidades permitem garantir que todos os circuitos são monitorizados independentemente da sua proveniência”.

Reconhecimento com duplo impacto

O presidente do Conselho de Administração admite que o reconhecimento que veio com a conquista do Prémio Nacional de Inovação, com toda a sua relevância e exposição, teve um duplo impacto. Primeiro, de reputação, “sedimentando uma vez mais a Lipor como uma organização inovadora e na linha da frente na gestão de resíduos em Portugal”. Em segundo, serviu para comprovar que “a aposta ousada e trabalhosa que a Lipor fez há uns anos foi a mais correta servindo de ânimo extra para a equipa de trabalho continuar no caminho da inovação”.

José Manuel Ribeiro avançou que “desde o reconhecimento com o Prémio Nacional de Inovação, houve vários contactos para a adoção da plataforma por outras entidades, tanto a nível nacional como internacional. A Lipor espera fechar algumas parcerias brevemente.”

Os desafios da implementação

A implementação da solução nos municípios trouxe associados alguns reptos, até porque, explicou o executivo, a Lipor, enquanto associação de municípios, convive com oito realidades que nem sempre são similares. “Nesse sentido, o maior desafio foi integrar todas as particularidades dos municípios associados numa plataforma que corresse de forma orgânica não só para os referidos Municípios, mas que respondesse também a eventuais necessidades de outras entidades”.

Outro grande desafio identificado por José Manuel Ribeiro foi desenhar os sistemas móveis de forma que permitissem capturar toda a informação relevante do circuito de recolha, sem condicionar em demasia a operação das equipas de recolha. “Os municípios da Lipor já tinham um alto grau de maturidade na sensibilidade da importância dos dados e isso, juntamente com a disponibilidade apresentada, foi um vetor que facilitou a implementação do projeto em larga escala”.

A receção da plataforma pelos funcionários municipais e operadores de recolha tem sido, nas palavras do presidente do Conselho de Administração, “um processo”. “As equipas de recolha são normalmente constituídas por elementos que não estão familiarizados com estes conceitos e que, portanto, poderão ter a resistência inicial à mudança”, começou por explicar. “Com o devido acompanhamento no terreno, várias sessões de formação e com a constatação de que a utilização deste sistema lhes traz vantagens porque torna-se percetível, por exemplo, que os alertas são respondidos com outra celeridade, as equipas acabam por adotar bem o sistema e ir dando feedback de melhorias que consideram importantes”. Para José Manuel Ribeiro, a chave da aceitação está, na realidade, mais relacionada com o acompanhamento próximo e a prova de que o que as equipas registam tem significado e é usado pelo município.

Principais funcionalidades inovadoras da aplicação móvel

Sem entrar em grandes detalhes, a principal funcionalidade do Wayste é o seu módulo de estatística altamente desenvolvido e que fornece ao utilizador uma visão bastante detalhada da operação, desde uma visão macro até ao detalhe do rendimento do ponto de recolha. Tudo isto é acompanhado de um sistema de mapeamento que permite identificar, de forma simples, os padrões de participação de clientes. Tudo isto permite alimentar as equipas de sensibilização com informação direcionada para que a sua atuação seja mais proveitosa o que, em última instância, “melhorará o desempenho do município”, explica José Manuel Ribeiro.

Internamente, existe também um grande cuidado com o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) e muitas das funcionalidades implementadas vêm no sentido de reforçar a segurança dos dados e privacidade dos utilizadores.

Sistema de incentivo em escala

Questionado sobre até que ponto a plataforma tem contribuído para aumentar a consciencialização ambiental dos cidadãos, José Manuel Ribeiro relembra que a monitorização e os sistemas de análises instalados na plataforma torna possível a criação de perfis de participação dos clientes. “Isso permite, em primeiro lugar, um contacto direto com eles para melhoria dos seus comportamentos, mas também desenhar novos projetos com base na informação que se vai produzindo para que seja possível ter um maior impacto nas zonas alvo identificadas”. E esta atividade, explica o responsável, compreende parâmetros de escala superior como localização de equipamentos, mas também permite ir ao detalhe de qual a hora com maior rendimento para se efetuarem ações de sensibilização ou qual a volumetria de equipamento com que o cidadão tende a participar mais em projetos de recolha.

Em termos de gestão de resíduos, o Wayste “aprimorará a análise do desempenho dos pontos de recolha e clientes, mas irá também, com o desenvolvimento da APP do cidadão atuar noutras áreas ligadas com sustentabilidade, com o objetivo final de premiar boas práticas que os cidadãos pratiquem”. O propósito será, assim, criar um sistema de incentivo com escala e atratividade suficiente para moldar comportamentos do cidadão.

No que diz respeito aos próximos passos no desenvolvimento da plataforma, existe um plano de atividades previsto para os próximos dois anos. “Existem diversos módulos novos a serem implementados, entre os quais, os de disponibilização automática dos relatórios a efetuar junto de entidades como APA e ERSAR, que muito facilitará o trabalho dos municípios associados”. José Manuel Ribeiro avançou ainda que a introdução de modelos preditivos e de inteligência artificial nas análises efetuadas na plataforma será também o foco central da equipa de desenvolvimento no futuro próximo.

 

Não é possível gerir o que não se consegue medir. A digitalização e automatização de processos com o Wayste tem permitido aos municípios associados e a Lipor otimizar a sua operação e acelerar processos que anteriormente retiravam muito tempo aos técnicos.

 

José Manuel Ribeiro presidente do Conselho de Administração da Lipor.

 

 

Desde o reconhecimento com o Prémio Nacional de Inovação, houve vários contactos para a adoção da plataforma por outras entidades, tanto a nível nacional como internacional. A Lipor espera fechar algumas parcerias brevemente. José Manuel Ribeiro
presidente do Conselho de Administração da Lipor.

 

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