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Pedro Oliveira: “A inovação é um vetor fundamental de transformação”

A Nova SBE apoia as organizações no seu processo de inovação, começando pela avaliação da sua capacidade de inovar, em termos de barreiras e oportunidades, e delineando um plano de ação que fomente uma cultura de inovação e mudança.

09 de Janeiro de 2024 às 14:00
Pedro Oliveira, dean da Nova SBE Duarte Roriz
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A academia desempenha um papel fundamental na transposição de conhecimento e inovação para as empresas. A transferência de conhecimento ocorre através de várias formas de colaboração e interação entre o meio académico e o setor empresarial, seja por meio de licenciaturas, mestrados, formação de executivos, investigação e desenvolvimento (I&D), laboratórios de investigação e redes de partilha e transferência de conhecimento.

 

Falámos com Pedro Oliveira para conhecer o estado da inovação em Portugal e o papel que desempenham na promoção da inovação para criar culturas e perspetivas para desenvolver novos modelos de negócios, produtos e soluções.

 

O dean da Nova SBE deixa um alerta. A divulgação dos resultados do PISA de 2022 revelou quedas significativas nos índices de literacia matemática, leitura e literacia científica em Portugal. São más notícias para o futuro da inovação em Portugal, tendo em conta que o nível de formação da população é essencial para fomentar um ambiente inovador.

 

Que radiografia faz da inovação em Portugal?

O European Innovation Scoreboard fornece uma avaliação comparativa do desempenho dos Estados-membros da União Europeia (UE) em inovação. Com base nas pontuações obtidas, os países da UE dividem-se em quatro grupos de desempenho: Líderes em Inovação, Inovadores Fortes, Inovadores Moderados e Inovadores Emergentes. Nestes quatro grupos, Portugal aparece no 3.º grupo dos Inovadores Moderados.

Vivi nos últimos cinco anos na Dinamarca, que é o novo líder da UE em inovação, tendo superado em 2023 a Suécia, que esteve alguns anos na posição de liderança. Outros Líderes em Inovação são Suécia, Finlândia, Países Baixos e Bélgica. No 2.º grupo aparecem a Áustria, Alemanha, Luxemburgo, Irlanda, Chipre e França como Inovadores Fortes, com desempenho acima da média da UE.

Portugal está juntamente com a Estónia, Eslovénia, Tchéquia, Itália, Espanha, Malta, Lituânia, Grécia e Hungria no grupo dos Inovadores Moderados. Portugal tem um score abaixo da média deste grupo.

Finalmente, Croácia, Eslováquia, Polónia, Letónia, Bulgária e Roménia são Inovadores Emergentes.

As dimensões em que Portugal mais se afasta da média europeia são: sustentabilidade ambiental, e investimento empresarial. Portugal tem as piores pontuações nos indicadores de emissões para a atmosfera de partículas finas, despesa em inovação por trabalhador, e despesas de capital de risco.

A radiografia não é da Nova SBE, mas a minha opinião está muito alinhada com estes resultados. Talvez por ter vivido e trabalhado na Dinamarca, é muito visível que temos ainda muito a fazer em Portugal para ambicionarmos chegar ao grupo líder.

O resultado do Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional, mostra que a despesa em I&D das empresas representou 1% do PIB. Era muito importante que esta tendência se pudesse manter e que o investimento público também pudesse aumentar.

Quais são as principais barreiras que as empresas e os empreendedores enfrentam atualmente no que diz respeito à inovação em Portugal?

Um fator essencial para estimular um ambiente de inovação é o nível de formação da população e uma péssima notícia para o futuro da inovação foi-nos dada com a divulgação do chamado Programme for International Student Assessment (PISA), que avalia o conhecimento e as competências de alunos de 15 anos a matemática, leitura e ciências.

De um modo geral, os resultados do PISA 2022 desceram. Portugal deu um grande tombo em literacia matemática (-21 pontos) e de leitura (-15 pontos) e tropeçou ainda na literacia científica (-7 pontos). Isto são péssimas notícias.

Que recomendações faria para melhorar o ambiente de inovação em Portugal?

Apesar de nos últimos anos as dotações públicas nacionais em I&D terem diminuído, Portugal tem tido um desempenho interessante no que respeita ao investimento total em I&D, que tem aumentado consistentemente graças, principalmente, a uma subida do investimento privado em I&D. De facto, o crescimento da despesa em I&D nos últimos anos é particularmente expressivo no setor das empresas, tendo crescido cerca de 108% desde 2015.

De acordo com os resultados do Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional, a despesa em I&D das empresas atingiu os 2.154 milhões de euros, representando 1% do PIB.

Era muito importante que esta tendência se pudesse manter e que o investimento público também pudesse aumentar.

Além disso, e pela primeira vez, o ranking de despesa em I&D em Portugal é liderado por um grupo do setor da indústria farmacêutica. A BIAL foi a empresa que mais investiu em inovação, em 2021, num montante superior a 81,6 milhões de euros, tendo subido duas posições face ao ano anterior. O Grupo Altice Portugal manteve a segunda posição com 71,1 milhões de euros e a NOS, que ocupava o primeiro lugar nos últimos anos desceu para o terceiro lugar com 67,7 milhões de euros investidos.

Ao nível dos recursos humanos, a Altice Portugal é a empresa que tem mais profissionais alocados às áreas de inovação, com 673 colaboradores, seguida do Grupo Bosch com 572. O top 3 é fechado pela Sonae, com 496 pessoas em I&D. A BIAL tem 158 profissionais e a NOS conta com 240.


Como contribui a Nova SBE para a formação de líderes inovadores na sociedade e na economia portuguesa?

A Nova SBE tem uma das melhores ofertas de formação de executivos do mundo. De acordo com o ranking do Financial Times, a Nova SBE é hoje a 18.ª escola de formação de executivos, tendo melhorado essa posição em 2023 (de 22.º para 18.º).

Na Nova SBE, pretendemos apoiar as organizações no seu processo de inovação, começando pela avaliação da sua capacidade de inovar, em termos de barreiras e oportunidades, e delinear o seu plano de ação que fomente uma cultura de inovação e mudança.

Planeamos continuar a afirmar a liderança intelectual da escola nas suas principais áreas de intervenção, e continuar a apostar numa oferta de serviços diferenciada, como são os nossos projetos de transformação com as empresas, ou os programas para executivos. Queremos continuar a aumentar o nosso corpo docente e de investigação, e ser competitivos com o mercado para atrair talento internacional.

 

De uma maneira geral, o ensino em Portugal promove e incute uma cultura de inovação?

Penso que posso dizer que a Nova SBE tem uma forte vocação para a inovação, mas que infelizmente, se pensarmos no ensino superior em Portugal, essa vocação é rara noutras instituições. Acreditamos que a inovação é um vetor fundamental de transformação de qualquer setor, sobretudo em tempos de enorme disrupção de mercado, em que os desafios do digital e da sustentabilidade se impõem como imperativos. Também acreditamos que podemos fazer a diferença. E acreditamos no poder de ligar jovens e empresas, e empresas de vários setores entre si, para desenvolverem uma dinâmica de inovação contínua que permita torná-las mais resilientes e encontrar em conjunto soluções para tornar os desafios de futuro mais fáceis de ultrapassar.

Como promovem a colaboração entre diferentes setores da sociedade para a inovação?

Estamos a desenvolver quatro novos institutos de alto impacto, cruzando as áreas de gestão, economia e finanças com inovação, sustentabilidade, dados e tecnologia ao longo do meu mandato. Neste momento, temos já um Instituto em Empreendedorismo, o Haddad Entrepreneurship Institute, responsável pelo entrepreneurial mindset dos nossos alunos; o Westmont Hospitality & Tourism Institute, responsável por trabalhar o setor do turismo.

Pretendemos nos próximos anos lançar um Instituto em Data, Digital & Design (D3) em parceria com a Harvard University, um Instituto em Sustentabilidade, um Instituto em Políticas Públicas e Governo e finalmente um Instituto em Envelhecimento em parceria com a Nova Medical School. Estes institutos serão chave para a colaboração com setores vários da sociedade.

Outra ferramenta é o chamado "innovation ecosystem" (IECO) que não é mais do que um "ponto de encontro de inovação" através do qual se estabelecem parcerias com uma visão comum combinando diferentes gerações, indústrias, culturas e perspetivas para criar novos modelos de negócios, produtos e soluções.

 

Com que "ferramentas" apoiam a criação de novas empresas inovadoras?

Temos várias ferramentas que nos ajudam nesta dimensão de apoiar as empresas, sejam vários dos nossos programas de formação, incluindo programas de formação de executivos, e também programas de grau, como o nosso programa de mestrado.

Também através do nosso IECO (que já referi acima) as empresas, os gestores e também os nossos alunos podem explorar, falhar, aprender, melhorar e transformar ideias em soluções e soluções em resultados – tanto enquanto membro da equipa de inovação residente, como ao juntar-se a nós enquanto parceiro de um círculo de inovação.

Finalmente, estamos a montar na Nova SBE uma réplica do chamado "MIT Innovation Lab", em colaboração com o professor Eric von Hippel, o fundador do MIT Innovation Lab e considerado pai da Open and User Innovation.

 

Até que ponto a Nova SBE se posiciona como um centro de excelência na inovação?

Desde a sua génese, a Nova SBE fez uma aposta na produção de conhecimento que melhora a vida das pessoas através da investigação e divulgação da comunicação científica, de modo que esta possa servir um bem comum que é o nosso desenvolvimento enquanto país e o respetivo contributo para um futuro sustentável. Outro pilar fundamental é a inovação que está muito presente nos nossos programas de mestrado, licenciatura e doutoramento, para além da formação de executivos. A Nova SBE tem vários centros, programas e projetos focados em inovação. Por exemplo, o nosso Knowledge Center em Open and User Innovation, ou o nosso mestrado em Impact Entrepreneurship and Innovation (MIEI), e o chamado "Innovation Ecosystem" (IECO), que já referi acima.

 

Têm um papel ativo como parceiro do Prémio Nacional de Inovação. Que balanço fazem da última edição?

O nosso balanço é muito positivo, o que aliás foi decisivo na renovação do nosso interesse em continuar a promover este importante prémio, com o objetivo de o trazer para um nível superior.

 

O que se pode esperar da próxima edição do PNI?

É difícil antecipar, mas apostaria que na próxima edição vamos ter muito mais "inteligência artificial" nos vários projetos...
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