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Defendendo uma visão pragmática sobre o processo de inovação, o secretário de Estado da Economia sublinhou que este deve passar por conceber, desenvolver, distribuir e dar escala a novas soluções, sempre com o foco no valor acrescentado. "Se conseguimos responder consecutivamente às perguntas ‘como, para quem e o quê’, conseguimos encontrar os fatores que desencadeiam a inovação e determinar o impacto que têm nas diversas áreas da atividade económica", explicou. Tomando como exemplo o setor da cortiça, João Rui Ferreira ilustrou como a inovação foi determinante na transformação da indústria nos últimos 20 anos. "O setor apenas conseguiu reinventar-se porque houve um espírito de inovação constante, desde o desenvolvimento de novos produtos e processos até à inovação nos modelos de negócio e na comunicação".
Secretário de Estado da Economia
Nesta linha, salientou a relevância do Prémio Nacional de Inovação como impulsionador de redes de colaboração entre empresas, centros de investigação e outros agentes económicos. "O Negócios tem três prémios que se complementam: inovação, sustentabilidade e internacionalização e exportação. A inovação é o grande indutor do sucesso, porque sem inovação não há internacionalização sustentada", reforçou.
Competitividade é a palavra-chave
João Rui Ferreira abordou ainda um tema recorrente na conferência: o risco de Portugal e da Europa ficarem para trás na corrida global pela inovação e pela tecnologia. "A competitividade passou a ser a palavra-chave para a Europa. Não se trata apenas de acompanharmos as tendências, trata-se de criarmos valor através de soluções que respondam às necessidades da sociedade e que reforcem a posição de Portugal no contexto internacional".
O secretário de Estado destacou que, apesar dos progressos registados nos últimos anos, o país ainda tem desafios a superar. No European Innovation Scoreboard, Portugal é classificado como um país de inovação moderada, com um desempenho equivalente a 83,5% da média da União Europeia. O investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) atinge hoje cerca de 1,7% do PIB, ainda abaixo da média europeia de 2,3%. "Se queremos um Portugal mais inovador, mais competitivo e mais preparado para os desafios do futuro, temos de acelerar este processo de transformação".
Entre os pontos positivos, João Rui Ferreira destacou o crescimento do número de recursos humanos dedicados à I&D. "Hoje temos 14,7 pessoas por cada mil habitantes ativos a trabalhar em atividades de investigação, já ao nível da média europeia". No entanto, a taxa de patentes em Portugal ainda está muito aquém da média europeia: "Temos 31,4 patentes por milhão de habitantes, contra 152,8 na média da UE".
O reforço da transferência de conhecimento entre academia e empresas foi apontado como uma prioridade. "Temos um investimento de 186 milhões de euros no PRR para laboratórios colaborativos e centros de inovação, impactando mais de 8.600 empresas. Mas este é um esforço que precisa de escala e continuidade".
O secretário de Estado encerrou a sua intervenção com um apelo à participação na terceira edição do Prémio Nacional de Inovação. "Cada candidatura contribui para um melhor conhecimento do nosso ecossistema e das suas forças e desafios. Um Portugal que não se limita a acompanhar tendências, mas que as define, será um Portugal mais competitivo e mais resiliente".
A IA no centro da inovação
"Falar hoje de inovação implica necessariamente trazer também o tema da inteligência artificial, porque está-se a tornar uma das principais ferramentas, não apenas para a inovação, mas para quase tudo aquilo que fazemos nas organizações", disse Pedro Oliveira, dean da Nova SBE, que centrou a sua intervenção na interseção entre inovação e inteligência artificial, apresentando dados e exemplos concretos do impacto desta tecnologia no mercado de trabalho e na produtividade.
A visão otimista sobre o impacto da inteligência artificial no emprego foi sustentada com números divulgados num estudo do World Economic Forum. Segundo este estudo, a IA pode substituir cerca de 92 milhões de empregos, mas, em contrapartida, criará aproximadamente 170 milhões de novas funções. "78 milhões de empregos adicionais são o equivalente a duas Alemanhas, pensem nisso", sublinhou Pedro Oliveira.
A inteligência artificial generativa foi um dos pontos centrais da apresentação, com o professor da Nova SBE a destacar que 68% das organizações globais já reportam melhorias significativas nos seus processos de inovação, eficiência operacional e gestão de risco graças a estas tecnologias. Além disso, 74% dos empregadores afirmam que estas iniciativas superaram as expectativas no que respeita ao retorno sobre o investimento.
Pedro Oliveira alertou, no entanto, para os desafios que a Europa enfrenta nesta área. "42% dos líderes identificam a conformidade regulatória como um dos principais riscos associados à inteligência artificial", referiu, apontando que o Ato Europeu para a IA pode ser um entrave à competitividade das empresas europeias face às norte-americanas e asiáticas.
Outro dado relevante apresentado foi a transformação da produtividade com o uso de IA generativa. Estudos da Harvard e da Wharton School indicam que a utilização destas ferramentas pode aumentar a produção em 12,5%, reduzir o tempo de execução em 26% e melhorar a qualidade em 40%. No entanto, Pedro Oliveira destacou um paradoxo: "Dois terços dos líderes empresariais afirmam que já não contratam colaboradores sem conhecimentos de IA, mas apenas 39% dos utilizadores recebem algum tipo de formação nesta área".
A Europa, segundo Pedro Oliveira, está a perder terreno para os Estados Unidos e a China. "As cinco empresas mais inovadoras do mundo são norte-americanas. Das 20 maiores empresas, 17 são dos EUA, duas são asiáticas e apenas uma é europeia, a Novo Nordisk, que aparece em 18.º lugar", alertou.
Para ilustrar o potencial da inteligência artificial na inovação, Pedro Oliveira apresentou exemplos concretos de como a tecnologia pode acelerar processos e fomentar a criação de soluções disruptivas. Um dos casos abordados foi o de Tal Golesworthy, um engenheiro que, após ser diagnosticado com síndrome de Marfan e receber um prognóstico reservado, desenvolveu um dispositivo médico para prevenir a rutura da sua aorta, levando posteriormente a inovação ao mercado. "Se Tal tivesse este problema hoje, poderia recorrer a ferramentas de IA generativa para desenvolver um suporte aórtico ainda mais eficiente", explicou.
Outro caso foi o de Hans, um dinamarquês com deficiência visual, que criou a plataforma Be My Eyes, ligando voluntários a pessoas cegas que precisavam de assistência visual. "Com a inteligência artificial, esta solução evoluiu para o Be My AI, permitindo que uma tecnologia descreva o ambiente em tempo real e facilite a navegação, reduzindo a necessidade de intervenção humana".
A intervenção de Pedro Oliveira terminou com um apelo à adoção rápida e consciente da inteligência artificial. "A única dimensão onde a Europa está a liderar é na regulação, e isto é preocupante. Se queremos competir globalmente, precisamos focar-nos na inovação, e isso só será possível se adotarmos estas ferramentas e desenvolvermos literacia digital".
Como transformar inovação em ganhos de produtividade
No painel dedicado ao impacto da inovação na competitividade das empresas, Ricardo Arroja, presidente da AICEP, Rafael Alves Rocha, diretor-geral da CIP, Paulo Reis, diretor-geral Portugal e diretor Hub Europa da FI Group, Teresa Silva e Sousa, diretora de Organização, Qualidade e Inovação do BPI, Sérgio Silvestre, diretor-geral de inovação da Claranet Portugal e Ana Almeida Simõe, diretora de inovação do Grupo Brisa, abordaram desafios e oportunidades que se colocam ao tecido empresarial português, num contexto de transformação acelerada e crescente exigência nos mercados globais. O debate centrou-se na forma como a inovação se traduz, na prática, em ganhos de produtividade, internacionalização e diferenciação, destacando-se a necessidade de um ecossistema mais dinâmico e colaborativo entre empresas, universidades e centros de investigação.
Dean da Nova SBE
Um dos temas principais foi o impacto da inovação na criação de valor e no crescimento sustentável. Ficou claro que inovar não é apenas criar novos produtos ou serviços, mas também reinventar processos, modelos de negócio e formas de organização. A inovação foi apresentada como um fator determinante para a competitividade, permitindo às empresas ganhar escala, explorar novos mercados e responder com maior eficácia às exigências dos consumidores.
A questão do financiamento foi outro ponto relevante. Se, por um lado, existem instrumentos de apoio à inovação, como fundos europeus e incentivos fiscais, por outro, muitas empresas ainda enfrentam dificuldades no acesso a esses mecanismos. Foi sublinhada a importância de políticas públicas mais ágeis e menos burocráticas, que incentivem o investimento contínuo em inovação e facilitem a ponte entre conhecimento científico e aplicação prática no setor empresarial.
A tecnologia esteve também no centro da discussão, com os participantes a realçarem que inovação não significa apenas avanços tecnológicos, mas sim a capacidade de transformar conhecimento em soluções concretas e diferenciadoras. A inteligência artificial, a digitalização e a cibersegurança foram identificadas como áreas de grande impacto para a competitividade, mas foi salientado que, independentemente das ferramentas utilizadas, o mais importante é a mentalidade inovadora dentro das organizações.
No debate, os participantes convergiram na ideia de que a inovação deve ser vista como um processo contínuo e estratégico. Para que seja sustentável, exige consistência, uma cultura organizacional aberta à mudança e uma liderança que coloque a inovação no centro das decisões. Ficou claro que o grande desafio para as empresas portuguesas não é apenas inovar pontualmente, mas sim garantir que a inovação se torna parte do seu ADN, permitindo um crescimento sustentável e uma maior resiliência face às mudanças do mercado global.
No segmento de negócio, passam a existir distinções para setores como agricultura, turismo, imobiliário, retalho, tecnologia e saúde, entre outros. Já na categoria de tecnologias, a edição de 2025 introduz a robótica e o setor aeroespacial. Outro destaque foi a criação do troféu Innovation Champion, uma distinção atribuída a indivíduos com um papel relevante na promoção da inovação. Ao contrário das restantes categorias, este será um prémio atribuído pelo público, com nomeações abertas à comunidade e uma votação final que combinará a opinião do público (40%) com a da Comunidade do Prémio Nacional de Inovação (60%).
O calendário do prémio prevê a submissão de candidaturas até 17 de abril, com a votação para o Innovation Champion a decorrer a partir de 31 de maio. Os vencedores serão anunciados na cerimónia final, a 3 de julho, em Carcavelos. Rui Coutinho concluiu com um apelo à participação ativa, destacando a importância do prémio como um movimento estruturado que fortalece a inovação em Portugal.
Pode submeter aqui a candidatura no site da iniciativa