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Inteligência artificial, inovar ou desaparecer

A inteligência artificial deixou de ser uma tendência para se tornar uma necessidade. As empresas que não investirem nesta tecnologia correm o risco de perder relevância num mercado cada vez mais competitivo.

11 de Março de 2025 às 10:17
Ricardo Chaves e Ricardo Santos partilham uma visão semelhante em relação à inteligência artificial, o momento para agir é agora. Vítor Chi
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Foto em cima: Ricardo Chaves e Ricardo Santos partilham uma visão semelhante em relação à inteligência artificial, o momento para agir é agora.

Invistam já em Inteligência Artificial. Todo o tempo que adiarem é tempo perdido.Ricardo Chaves
Diretor do Centro de Excelência em Inteligência Artificial do BPI

"Invistam já em Inteligência Artificial. Todo o tempo que adiarem é tempo perdido". As palavras de Ricardo Chaves, diretor do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA) do BPI, foram incisivas e refletem uma realidade inegável, a transformação digital já não é uma possibilidade, mas uma necessidade. Integrada no Prémio Nacional de Inovação, esta talk sobre Inteligência Artificial (IA) e automação de processos contou ainda com a participação de Ricardo Santos, manager da Direção de Aceleração Digital da E-Redes, que corroborou esta visão, sublinhando que o crescimento da Inteligência Artificial é imparável e que o seu impacto será cada vez mais profundo.

As empresas que não investirem nesta transformação correm o risco de perder relevância.Ricardo Santos
Manager da Direção de Aceleração Digital da E-Redes

Mais do que uma tendência, para os convidados da talk, a IA representa uma mudança estrutural na forma como as empresas operam, inovam e competem no mercado global, com a automação, a digitalização e a análise preditiva a redefinir por completo setores, permitindo ganhos de eficiência, redução de custos e novas formas de interação com clientes e consumidores. Para Ricardo Santos, as empresas que não investirem nesta transformação correm o risco de perder relevância num mercado onde a inovação deixou de ser uma vantagem para se tornar um fator de sobrevivência.

IA como fator de diferenciação

Ricardo Chaves, confessa que a IA não deve ser vista apenas como uma ferramenta para automatizar processos, mas sim como um elemento que pode humanizar e contextualizar a relação com os clientes. "A expressão automação esconde uma vantagem, porque parece que com automação não estamos a humanizar a relação com o cliente. Mas a verdade é que a inteligência artificial permite, muitas vezes, precisamente humanizar e contextualizar a relação com esse cliente. No BPI, a inteligência artificial é vista como um elemento fundamental da transformação", explicou o especialista.

O diretor do CEIA explica que o banco tem implementado IA de forma estruturada, seguindo uma estratégia baseada em dois princípios fundamentais: "AI First" e "From AI to Impact". O primeiro consiste em avaliar como a IA pode ser aplicada em qualquer área do banco antes de considerar outras soluções. O segundo diz respeito à necessidade de reformular processos e garantir que a tecnologia tem um impacto real. "Diria que não há área do banco que não possa ser impactada positivamente pela inteligência artificial. Diria também que para um programa desta natureza correr bem é preciso ter uma priorização bem pensada, porque não é possível fazer tudo de uma vez, para além de que muitas destas transformações são ‘de vulto’, que demoram vários anos a acontecer".

Do conceito à prática

Do conceito à prática, a implementação da IA no BPI tem transformado diversas áreas do banco. No machine learning preditivo, a tecnologia é usada para personalizar a comunicação com os clientes, reduzindo as interações massivas e direcionando ofertas apenas para aqueles que têm maior probabilidade de aderir aos serviços. "Passámos de uma abordagem em que falávamos com todos os clientes para uma em que falamos apenas com 5% a 10%, mas de forma muito mais certeira, o que melhora a experiência do cliente e a eficácia das nossas campanhas", explicou Ricardo Chaves. "Os clientes esperam que as interações sejam relevantes e oportunas, e a IA permite exatamente isso".

Ricardo Chaves, diretor do Centro de Excelência em Inteligência Artificial do BPI.


Outro grande avanço é o Document AI, que otimiza o processamento de documentos no banco. Aplicado inicialmente ao crédito à habitação, este sistema automatiza a leitura e extração de dados de 18 documentos diferentes, reduzindo o tempo de resposta de dias para minutos. "Hoje, 93% dos dados necessários são recolhidos com total precisão, eliminando a necessidade de intervenção humana em 85% dos casos", detalhou Ricardo Chaves. "Este sistema melhora a eficiência e reduz custos operacionais, permitindo um serviço mais ágil e seguro para o cliente".

A IA Generativa também começa a desempenhar um papel importante no BPI, particularmente na hiperpersonalização de mensagens e na gestão de reclamações. "Com a IA Generativa, conseguimos estruturar respostas mais eficazes e encontrar padrões que nos permitem melhorar continuamente os serviços", explicou Ricardo Chaves. "Estamos a explorar como podemos integrar estas capacidades em assistentes internos e no suporte ao cliente".

Libertar recursos para tarefas mais "valiosas"

Na E-Redes, a IA também está a transformar processos fundamentais, permitindo otimizar a gestão de infraestruturas elétricas e repensar a forma como os serviços são prestados. Ricardo Santos destacou que o impacto desta tecnologia é indiscutível e vai muito além da automação. "Alguns projetos que antes pareciam essenciais, hoje podem ser completamente repensados. A IA permite-nos questionar até a necessidade de certas operações no terreno, libertando profissionais altamente qualificados para funções mais estratégicas", afirmou.

Ricardo Santos, manager da Direção de Aceleração Digital da E-Redes.


O projeto Analytics for Vegetation, da E-Redes, vencedor de um Prémio Nacional de Inovação, ilustra bem esta mudança. Através de algoritmos de Machine Learning, a empresa conseguiu melhorar a monitorização da vegetação em torno das redes elétricas, reduzindo significativamente a necessidade de inspeções presenciais. "Conseguimos direcionar os recursos para as zonas mais críticas, otimizando a gestão das infraestruturas e evitando incidentes", explicou Ricardo Santos. Este projeto envolveu desafios técnicos significativos, como a necessidade de consolidar dados meteorológicos, tipologias de vegetação e registos cartográficos para treinar os algoritmos.

Outro projeto inovador na E-Redes é o InfoAssets, que usa Computer Vision para mapear automaticamente a rede elétrica de baixa tensão. Através de câmaras instaladas nos veículos da empresa, este sistema permite identificar e georreferenciar ativos da rede sem necessidade de inspeções no terreno. "A digitalização desta informação era um desafio há anos, e conseguimos resolvê-lo recorrendo à IA", destacou Ricardo Santos. "A eficiência operacional aumentou significativamente, reduzindo os custos e melhorando a precisão da informação disponível para as equipas no terreno".

Os desafios da transformação digital

Os desafios, no entanto, não são apenas tecnológicos. "Há também todo o tipo de fatores relacionados com burocracia, com regulamentação, que por vezes trava a adoção ou o desenvolvimento deste tipo de tecnologias. Sabemos que isto está a acontecer um pouco por todo lado, em particular, na Europa", afirmou Ricardo Santos.

Além disso, a questão da cultura organizacional e da aceitação da IA dentro das empresas continua a ser um obstáculo. "Desde a resistência à mudança até à necessidade de garantir que as pessoas confiam nas decisões tomadas por algoritmos, há desafios humanos que não podem ser ignorados", apontou Ricardo Santos. "No nosso setor, onde lidamos com infraestruturas críticas, há uma preocupação acrescida em garantir que as decisões baseadas em IA são fiáveis e seguras".

IA, uma ferramenta essencial para o futuro

No final da conversa, ficou clara a convicção de que a Inteligência Artificial não é apenas uma oportunidade, mas um imperativo para a sobrevivência das empresas. "As organizações que não investirem em IA vão perder competitividade e podem desaparecer", alertou Ricardo Chaves. Por seu lado, Ricardo Santos reforçou esta ideia, destacando que setores inteiros estão a ser transformados por esta tecnologia. "Na indústria automóvel, por exemplo, marcas históricas estão a ser desafiadas por novos players que apostam fortemente na IA. Quem não se adaptar ficará para trás", concluiu.

A mensagem é clara, a Inteligência Artificial não é um conceito distante, mas sim uma realidade que já está a transformar os mercados. O Prémio Nacional de Inovação surge como um catalisador para este movimento, incentivando as empresas a apostarem na tecnologia e a partilharem conhecimento. Como resumiu Ricardo Chaves, "se queremos artistas, temos de ter palcos. Estes prémios são fundamentais para impulsionar a inovação".

Candidaturas abertas ao Prémio Nacional de Inovação
As candidaturas ao Prémio Nacional de Inovação estão abertas até ao próximo dia 17 de abril. Para mais informações consulte aqui o site 

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