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António Miguel Ferreira: “As empresas portuguesas ainda são muito conservadoras”

Podemos e devemos ser um pequeno país, onde a inovação, a ambição e a capacidade de tomar riscos se combinam para criar um círculo virtuoso, que se autoalimenta, criando riqueza e bem-estar social, defende António Miguel Ferreira.

15 de Dezembro de 2023 às 14:00
António Miguel Ferreira, managing director da Claranet Portugal. Sérgio Lemos
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As empresas portuguesas ainda são, em geral, muito conservadoras e pouco ambiciosas. António Miguel Ferreira reconhece que existem já muitas exceções. Não se pode esquecer o panorama nacional como um todo. Nos últimos 15 anos melhorou a consciência coletiva para a necessidade de as empresas apostarem na inovação.

Como encara a Claranet o estado da inovação em Portugal?
Com o mesmo espírito do dia em que criámos a empresa, em 1995. Inovação é o sangue das empresas. Sem inovação perde-se a vitalidade, perde-se a energia, é tudo uma questão de tempo.
Olhando para dentro, tentamos manter esse espírito sempre presente na nossa cultura, adotando medidas de gestão de inovação para potenciar a tomada de risco e o nascimento de novas ideias, que vão melhorar os nossos processos ou permitir a criação de novos serviços. Apesar do enorme crescimento que tivemos nos últimos anos, não podemos deixar de manter e fomentar uma cultura de inovação, pois é o que alimentará o nosso futuro. Não somos maiores em quase nada, quando comparados com outros mercados ou empresas, em contexto europeu ou mundial. Mas podemos ser melhores em algumas coisas e só inovando encontramos essas avenidas de crescimento e diferenciação. Algumas câmaras municipais, os fundos privados, as associações e as empresas têm aumentado a dinâmica de inovação e criado diversos ecossistemas em Portugal.
Temos um papel a desempenhar e temos feito um bom caminho. Mas há ainda muito por fazer. Podemos ter a ambição de ser um pequeno país, onde a inovação, a ambição e a capacidade de tomar riscos se combinam para criar um círculo virtuoso, que se autoalimenta.
No que respeita à inovação, somos uma espécie de startup, que teve o seu sucesso, mas tem alguns desafios, antes de entrar numa fase de scale-up.

As empresas portuguesas estão bem posicionadas no contexto competitivo europeu no que diz respeito à inovação?
De acordo com o relatório do European Innovation Scoreboard, publicado este ano, o nosso país não fica bem posicionado quando olhamos para a inovação de forma abrangente. Avaliando variáveis como o número de doutorados, publicações científicas, a penetração da banda larga, o investimento em I&D do setor público e das empresas, as PME com inovações de produto ou que colaboram com outras, o registo de patentes e as exportações de produtos de elevada tecnologia, entre muitos outros indicadores, o nosso país surge como inovador moderado e bastante afastado dos países europeus considerados fortemente inovadores ou líderes nesta área (Suíça, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Holanda e Bélgica).
É um recuo face a relatórios anteriores, onde Portugal já esteve entre os países "fortemente inovadores". O mesmo relatório destaca que o apoio do Estado para a Inovação, Desenvolvimento e Investigação aumentou no período entre 2016 e 2023. Efetivamente, as candidaturas ao SIFIDE aumentaram 25% este ano (cerca de 4.400 candidaturas) e a despesa de I&D das empresas tem vindo a aumentar nos últimos anos (superando já o 1% do PIB), enquanto a despesa de I&D do Estado e ensino superior tem estagnado em torno dos 0,6% do PIB.

O que devemos melhorar?
Precisamos de melhorar o nosso posicionamento e os nossos resultados em Investigação, Desenvolvimento e Inovação (IDI).

O Estado deve contribuir criando as condições fiscais e legais para incentivar a tomada de risco por parte das entidades privadas.
Como fazê-lo?
Das conclusões do mesmo relatório destacaria dois pontos a melhorar: por um lado, recuperar o atraso que temos na formação superior e na colaboração entre PME inovadoras e outras empresas.
Acreditamos que iniciativas como a do Prémio Nacional de Inovação possam contribuir para aumentar a colaboração e desenvolver o ecossistema de inovação no nosso país, dando visibilidade a mais empresas e instituições que se destaquem nesta área.
Fazemos o nosso papel, no âmbito da iniciativa privada. O Estado deve contribuir criando as condições fiscais e legais para incentivar a tomada de risco por parte das entidades privadas. E isso passa não só, mas também pela criação de um enquadramento fiscal e jurídico mais competitivo. Para empresas e pessoas. Os investidores - nacionais e internacionais - estão dispostos a arriscar e a investir se dispuserem de condições minimamente competitivas, face aos outros países e, sobretudo, de estabilidade a longo prazo.

Que balanço fazem da primeira edição do PNI?
Recebemos mais de 100 candidaturas e tivemos uma grande participação, quer nos vários eventos que realizámos, quer em toda a interação que sentimos existir nas várias empresas que participaram, discutiram ou assistiram.
A visibilidade do PNI foi grande, especialmente para uma primeira edição. É um balanço muito positivo.

2ª edição do PNI A segunda edição do Prémio Nacional de Inovação arranca em janeiro de 2024. Esta é uma iniciativa promovida pelo Jornal de Negócios, BPI e Claranet, e conta com a ANI - Agência Nacional de Inovação e a COTEC Portugal como parceiros institucionais e a Nova SBE como knowledge partner. Mais informação em premionacionaldeinovacao.pt.
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