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A aposta na inovação é crítica para a transformação da administração pública, sobretudo num cenário de profundas mudanças e enormes desafios, não apenas de conjuntura, de mercado e de sociedade, mas também de aceleração tecnológica e de total digitalização.
Para os especialistas, a necessidade de inovar no setor público resulta de uma multiplicidade de fatores, passando pela limitação dos recursos, pelo desafio demográfico e temas sociais cada vez mais complexos, uma maior procura dos serviços públicos e maiores expectativas dos cidadãos.
Vejamos: de acordo com um estudo global da Accenture, a maioria (61%) dos cidadãos que acede a serviços públicos por via digital está satisfeita com a experiência. No entanto, quase um terço (31%) dos cidadãos afirmou não utilizar ou não saber aceder a qualquer funcionalidade digital disponibilizada pelo Estado. Metade (51%) dos entrevistados disse que aumentaria o acesso e utilização de serviços governamentais digitais se pudesse aceder a múltiplos serviços da administração pública a partir de um único portal online. Além disso, mais de metade (56%) dos cidadãos afirmou que a sua confiança no Estado aumentaria se este comunicasse melhor o impacto da implementação das inovações tecnológicas na qualidade de vida dos cidadãos. “Um dos primeiros passos que a administração pública pode dar para construir uma melhor relação com os cidadãos e as empresas é, simplesmente, a criação de serviços online e a promoção daqueles que estão já disponíveis digitalmente”, afirmou?na apresentação do estudo José Guita, Tech manager da Accenture Portugal.?“Ao divulgar a oferta de serviços e as suas inovações digitais, a administração pública estará a construir uma relação de confiança com os cidadãos e as empresas e a estimular a adesão aos serviços online”.
O estudo da Accenture constatou que, à medida que os cidadãos se tornam cada vez mais ‘mobile users’ e conhecedores das novas tecnologias, esperam que os sites e as capacidades digitais do governo forneçam funcionalidades e benefícios idênticos aos disponíveis no setor privado. Por exemplo, dois terços (67%) dos entrevistados identificou a facilidade da interação como sendo uma das características mais importantes no acesso aos serviços governamentais online.
Benchmarking internacional é fulcral
A visão de que a inovação é uma peça absolutamente central nos desafios que se colocam à administração pública (AP) é partilhada por Jaime Quesado, especilalista em inovação e transformação digital, e antigo presidente da ESPAP (Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública) e, entidade que criou há poucos meses o ESPAP Lab, assumida com “uma plataforma colaborativa informal na AP para partilha e dinamização da inovação”. Para o gestor, Portugal tem de reforçar a área do benchmarking internacional, vendo as boas práticas internacionais e tentar aprender com elas. Ao nível da informação, tendo em conta as redes nacionais que já existem, o responsável a necessidade de saber transformar a informação em conhecimento útil e com valor.?”Temos todas as condições para sermos inovadores”, o que implica a racionalização de recursos e a otimização do que já foi feito. “Há uma agenda em cima da mesa na qual estamos a trabalhar, num compromisso entre investimento e poupança”. Apostar numa gov cloud, para Jaime Quesado, é absolutamente central. “O Estado tem de estar na linha da frente na organização da informação. A forma como isso é implementado tem de ser feita com inteligência”.
No mesmo evento, José Carlos Caldeira, assessor do presidente do INESC TEC, membro do Grupo de Alto Nível do MANUFUTURE e e membro do Conselho de Administração da EFFRA – Associação Europeia para a Investigação das Fábricas do Futuro, assumiu não ter dúvidas de que “o tema da inovação na AP está a ter uma importância crescente na sua dimensão externa”. Ou seja, de “como é que pode alavancar novas oportunidades de negócio e novas empresas, o empreendedorismo, novo emprego, atividades económicas e exportações”
José Carlos Caldeira olha para a área da inovação pública como “uma oportunidade para dinamizar novos projetos de investigação e desenvolvimento e inovação”, garantindo que no Estado há oportunidades de muita natureza”, como local de criação e de demonstração de novas soluções inovadoras, que potenciem não só a Administração Pública, mas também a economia e a sociedade. Por isso, “há que apostar em soluções win-win, que sejam interessantes dentro e fora da AP”.
Estado tem de colaborar com privados
A necessidade de parcerias entre o setor público e privado para se poder avançar de forma mais transversal na aposta na inovação na AP é outra das questões que amiúde é colocada em cima da mesa de debate. Olivier Duroyon, da área de Global Government and Public Sector Segment da Alcatel-Lucent, assume que a atual economia global conectada e hipercompetitiva oferece oportunidades mas também muitas disparidades, onde os desafios para os governos, administrações e cidades são cada vez maiores, fruto da concorrência global, da volatilidade politica, dos silos orçamentais, das pressões ambientais, do envelhecimento da população, do social divide e do aumento das expectativas com os serviços públicos.
Acresce uma “revolução digital sem precedentes que pressiona ainda mais o setor público, dadas as restrições orçamentais nas TIC e a infraestrutura já envelhecida perante a transformação digital da sociedade, o ‘real time’ e a explosão de dados”. Fatores que “criam enormes oportunidades e desafios globais” a que o Estado tem de dar resposta. Para este responsável, “conseguir criar um processo colaborativo entre Estado e os demais stakeholders envolvidos é crítico para se conseguir ter um Estado digital”, citando vários casos de sucesso de modernização da administração pública que podem ser replicados.