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A inovação como alicerce para o crescimento de Portugal

Sílvia Garcia, administradora da ANI, defende uma aposta estruturada em setores estratégicos que potenciem a produtividade, a descarbonização e a liderança tecnológica de Portugal no panorama europeu.

29 de Janeiro de 2025 às 14:00
David Cabral Santos
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Foto em cima: Sílvia Garcia destaca a importância da aposta em áreas emergentes como a IA, a nanotecnologia, a biotecnologia, e a computação de alto desempenho.

A economia portuguesa, alinhada com a europeia, deve dar prioridade a setores estratégicos que promovam a inovação e o crescimento da produtividade, ao mesmo tempo que enfrenta os desafios da descarbonização e da segurança. Conversámos com Sílvia Garcia, administradora da Agência Nacional de Inovação (ANI), sobre os desafios da inovação em Portugal e a relevância da terceira edição do Prémio Nacional de Inovação, que terá início no dia 6 de fevereiro, no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, em Matosinhos, contando com a ANI como parceiro institucional.

Quais são os setores de inovação mais promissores em Portugal?
A digitalização e as tecnologias avançadas são cruciais para reduzir o défice de inovação e as lacunas de competências, ao passo que as tecnologias limpas e as soluções de circularidade oferecem oportunidades para a Europa liderar a descarbonização e a competitividade industrial, apesar dos elevados custos energéticos e da concorrência global.
Além disso, é crucial apostar no desenvolvimento de competências na economia nacional em matérias-primas críticas, para que Portugal consiga posicionar-se na cadeia de valor europeia. Tal como referido nos recentes documentos de Draghi, Heitor e Letta, é urgente que a União Europeia reduza a sua dependência externa de matérias-primas críticas, que representam vulnerabilidades estratégicas. Neste sentido, será essencial coordenar investimentos, acordos comerciais e parcerias industriais para garantir as cadeias de abastecimento de tecnologias-chave.

Portugal está preparado para inovar na área da defesa?
O setor da defesa e do espaço adquirem bastante relevância, tanto no panorama nacional como no europeu, especialmente atendendo ao atual contexto geopolítico. O acesso a dados provenientes de plataformas espaciais é crucial para várias atividades de defesa, como operações militares e vigilância, bem como para aplicações de segurança civil. A colaboração em iniciativas espaciais e o desenvolvimento de capacidades espaciais são fundamentais para enfrentar desafios de segurança e promover a estabilidade na região. Por fim, a ANI destaca a importância da aposta no deeptech, em áreas emergentes como a inteligência artificial, a nanotecnologia, a biotecnologia, e a computação de alto desempenho, que são determinantes para promover a criação de emprego, atrair investimento e estabelecer parcerias internacionais que fortalecem o nosso ecossistema de inovação e, consequentemente, a nossa economia.

A economia portuguesa, em sintonia com a europeia, deve dar prioridade a setores estratégicos que promovam a inovação e o crescimento da produtividade.

Quais são os desafios estruturais identificados pela ANI para que as empresas portuguesas apostem mais na inovação?
As empresas portuguesas enfrentam desafios estruturais que dificultam o investimento em inovação, como o acesso a recursos, lacunas de competências nas áreas tecnológicas e culturais e um ambiente regulatório burocrático e moroso. Além disso, a transferência de conhecimento entre universidades e empresas não é ainda eficaz, o que reduz o impacto da investigação científica no setor produtivo e limita a implementação de soluções inovadoras.
Outro desafio significativo é a dimensão reduzida da maioria das empresas, o que limita os recursos disponíveis para inovação e a capacidade de competir em mercados internacionais. A falta de estratégias de internacionalização também compromete a competitividade global das empresas. Para superar estas barreiras, é essencial adotar políticas coordenadas que incentivem a colaboração, simplifiquem regulações e promovam investimentos em formação e inovação.

Qual é a visão da ANI sobre a importância de iniciativas como o Prémio Nacional de Inovação para o ecossistema nacional?
A ANI reconhece a importância de iniciativas como o Prémio Nacional de Inovação (PNI) para fortalecer o ecossistema nacional. Este tipo de prémios promove uma cultura de inovação, destacando talentos, projetos e empresas que impulsionam a competitividade e a adoção de novas tecnologias. Criam um ambiente favorável para o estabelecimento de parcerias, ampliando os investimentos em investigação, desenvolvimento e soluções disruptivas, com benefícios para a economia e a sociedade. O PNI destaca-se justamente por reconhecer diferentes categorias, como personalidade, negócio ou tecnologia, celebrando e reforçando o papel crucial da inovação na sociedade atual.

Como vê a ANI o papel dos prémios privados na promoção de uma cultura de inovação em Portugal?
A ANI reconhece que os prémios privados desempenham um papel crucial na promoção de uma cultura de inovação. Incentivam a criatividade e a competitividade entre empresas e indivíduos, destacando e recompensando as melhores práticas e ideias inovadoras.
Estas iniciativas complementam as políticas públicas ao identificar boas práticas, inspirar melhorias e estimular um ciclo virtuoso de inovação e crescimento económico sustentável. Ao oferecer visibilidade e reconhecimento, o PNI atrai investimentos e incentiva as empresas a adotar estratégias inovadoras, contribuindo para um ecossistema mais colaborativo, dinâmico e competitivo.

Que medidas adicionais poderiam ser tomadas em Portugal para reforçar a visibilidade e o impacto da inovação nacional no exterior?
É essencial apoiar a internacionalização das start-ups e empresas inovadoras, por exemplo, através da participação em feiras internacionais, missões empresariais e programas de aceleração no estrangeiro. É crucial estabelecer parcerias estratégicas com centros de inovação e universidades de renome mundial, para promover a colaboração em projetos de Investigação e Desenvolvimento (I&D).
Outras ações incluem oferecer incentivos fiscais às empresas que investem em I&D, programas de formação para empreendedores e fortalecer as redes de networking internacionais. Ainda, campanhas de marketing e de construção de marcas para destacar a inovação nacional no cenário global. Por fim, políticas de formação e capacitação para empreendedores e inovadores podem ajudar a desenvolver as habilidades necessárias para competir em mercados internacionais.

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