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A gestão de dados e a inovação da IA

A gestão de dados e a inovação em inteligência artificial (IA) são cruciais para transformar vastos volumes de informação em insights úteis, enfrentando desafios complexos. A qualidade e a estruturação eficaz dos dados são essenciais para aproveitar todo o potencial da IA, incluindo a Inteligência Artificial Generativa.

24 de Maio de 2024 às 14:00
A inteligência artificial generativa vai permitir criar relatórios sem os tradicionais modelos de “datawarehouse”. GettyImages
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A gestão de dados sempre foi um dos temas mais sensíveis dentro de uma organização, seja empresarial ou estatal, de maior ou menor dimensão. O desafio é imenso: estas estruturas operam elevados volumes de informação, mas têm uma enorme dificuldade em disponibilizar essa informação de forma simples, interpretável, coerente e com qualidade suficiente para ser utilizada em processos analíticos, desde os mais básicos e descritivos até aos mais avançados e generativos. E é aqui que a Inteligência Artificial pode ajudar, apesar de, como explicou ao Jornal de Negócios Rui Teles, administrador da Accenture e responsável pela área de Data & AI, não ser a quantidade de dados que traz efetividade à função de IA. "É a qualidade e uma gestão estruturada dos mesmos que faz a diferença".

Para enfrentar esses desafios, Rui Teles sugere um foco maior nas disciplinas de governo dos dados, frequentemente subestimadas. "Por vezes, desgastamos de relevância as disciplinas de governo dos dados, talvez por serem aplicadas em todo e qualquer contexto teórico ou conceptual. Mas, efetivamente, as empresas precisam de focar mais esforços, investimento e tempo, em gerir os seus dados, disponibilizando-os em soluções cloud, nas suas mais diversas formas de corporização, com ferramentas de exploração intuitivas, corretamente catalogadas, rastreáveis, cumprindo normas de privacidade, integradas e com uma responsabilização clara na sua manutenção", explicou. E embora isso possa parecer simples na teoria, ele ressalta que "não é o que acontece na maioria das nossas organizações nacionais".

O protagonismo dos dados não estruturados

Além dos dados estruturados, há também um crescente protagonismo dos dados não estruturados nas organizações, como textos, imagens, som e vídeo. Estes dados, anteriormente difíceis de catalogar e utilizar, agora têm "um potencial enorme" graças às tecnologias de IA. Rui Teles destaca que "os tradicionais dados não estruturados que até agora se catalogavam com ‘tags’ genéricas, têm agora no seu conteúdo um potencial enorme" para serem interpretados e correlacionados com dados estruturados, transformando-se em fontes relevantes de analítica e IA. "Informação que até agora era considerada quase como um arquivo ‘morto’ e consultável, passou a ser uma fonte relevante de analítica e IA", acrescenta.

Outra categoria de dados que está a transformar-se com a IA é a relacionada com os processos e o ciclo de vida de desenvolvimento tecnológico. O administrador explica que "a adoção de tecnologia de GenAI nos processos de desenvolvimento e manutenção de software depende em larga medida da capacidade que as organizações têm em consolidar, tratar e estruturar, com níveis semânticos adequados, toda a informação produzida no ciclo de vida de software". E exemplifica o potencial desta transformação ao mencionar a possibilidade de um agente de IA resolver defeitos de software ou responder a pedidos de manutenção de forma automatizada, dependendo da qualidade e quantidade da informação disponível.

Os benefícios das soluções de gestão de dados baseadas em IA são evidentes. Segundo Rui Teles, "a relação entre dados e IA era apenas num sentido. Os dados permitem aplicar modelos analíticos e machine learning para gerarmos IA a partir dos mesmos. Mas com o surgimento de Inteligência Artificial Generativa (IAGen) estamos a assistir a outro fenómeno. A contribuição é agora bi-direcional. A própria IA permite enriquecer dados, gerar dados, categorizar dados e relacionar dados". Hoje, diz o administrador, vemos empresas de marketplace a enriquecer a informação dos produtos oferecidos no marketplace com características e informações adicionais que são geradas por IAGen.

A inovação da IA generativa

Aliás, para este especialista, com a inovação trazida pela Inteligência Artificial Generativa, as empresas podem agora aplicar modelos para gerar ações de exploração de dados de forma mais flexível e autónoma. Rui Teles destaca que "podemos perguntar a um agente de IA qual a tendência histórica das vendas de uma empresa, em determinado canal e para determinado produto, sem a necessidade de criar os tradicionais modelos de ‘datawarehouse’ e reporting". Isso só é possível porque esses agentes de IA podem "interpretar a relação entre os dados, a fonte dos mesmos, como se obtêm, como se relacionam, como se extraem e o que significam".

Tendências emergentes Recentemente, a Accenture lançou um relatório sobre as tendências tecnológicas que irão mudar a vida das pessoas e a relação delas com a tecnologia, com uma forte predominância da IA em todas as transformações. "Esta evolução da IA é tão impactante que o nosso relatório se centra mais no impacto nas pessoas, na sociedade e nos consumidores, do que na tecnologia propriamente dita", observou Rui Teles.

A primeira grande tendência identificada é a mudança na interface entre humanos e tecnologia, que caminha para ser totalmente baseada em IA conversacional. "A IAGen permite replicar uma comunicação bi-direcional, inteligente, baseada em informação e que permite que os utilizadores passem a pedir o que precisam ao invés de escolherem uma opção fornecida por uma aplicação convencional". Isso altera substancialmente a forma como os utilizadores finais, programadores e analistas de dados interagem com as ferramentas tecnológicas.

A segunda tendência refere-se ao propósito da IA, que não é feita apenas para as pessoas, mas por pessoas e para aumentar a sua capacidade, seja a nível pessoal, profissional ou empresarial. "A relação desta tecnologia com as pessoas é fundamental. Encontrar o correto equilíbrio entre ter automação, ter inteligência artificial, mas também ter o propósito e a finalidade de promover capacidades em benefício das pessoas, é um aspeto fundamental da nossa futura sociedade", afirma.

Por fim, Rui Teles destaca que as possibilidades apresentadas pela IAGen permitem que as organizações repensem as suas funções, modelo operativo, talento, serviços e até mesmo o seu propósito e missão. "A Accenture tem vindo a investir na criação de ferramentas, na formação de talento e na investigação para reinventar as organizações", explicou. O executivo acredita que a IA, especialmente a generativa, coloca várias interrogações sobre se devemos continuar a fazer as coisas da mesma forma.

A necessidade de visão dos dados em tempo real é outro fator crucial que moldará a evolução da IA no futuro. "Modelos corretamente treinados e afinados, instalados em soluções de cloud escaláveis, podem ser utilizados em tempo real e para responder a pedidos com uma elevada abrangência de informação processada", explicou Rui Teles.
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