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A inovação é a chave para o progresso e o desenvolvimento em todas as áreas da sociedade, da medicina à tecnologia, da educação à agricultura. Os estudos confirmam. Um inquérito realizado pela consultora global PwC a mais de 1.200 CEO de todo o mundo, por exemplo, mostrou que 94% dos entrevistados consideram a inovação como uma prioridade para o sucesso a longo prazo das suas empresas. Além disso, o estudo mostrou que as empresas que investem em inovação têm um melhor desempenho em termos de crescimento de receita e lucro.
O conceito de inovação, muitas vezes ligado ao conceito próximo de criatividade, pode ser analisado a partir de diferentes perspetivas. Pode ser algo que nunca foi feito por ninguém - e estamos perante o conceito de "inovação absoluta", referiu José Reis Lagarto, professor associado da Universidade Católica Portuguesa, num artigo sobre inovação na sala de aula. "Por outro lado, a inovação pode ser algo que determinada pessoa nunca fez, mas que vai fazer pela primeira vez - e aí estamos perante uma situação de inovação relativa".
Na teoria, parece tudo mais ou menos fácil e passível de ser definido. O problema é que depois, no terreno, no mundo real, os entraves que impedem a tão desejada inovação de fazer parte do dia-a-dia das empresas e de se impregnar na sua cultura organizacional são muitos.
O entrave financeiro
Segundo a McKinsey & Company, uma das barreiras mais comuns à inovação é a falta de recursos financeiros. Muitas empresas, especialmente as pequenas e médias, não têm recursos para investir em pesquisa e desenvolvimento ou para contratar pessoal especializado em inovação, tornando complicado ou mesmo impossível criar produtos ou serviços inovadores e competir com empresas maiores e com mais recursos.
Uma dificuldade corroborada pela Comissão Europeia que, no seu estudo "Barriers to Innovation in Small and Medium-Sized Enterprises", sustenta que as empresas frequentemente enfrentam dificuldades em obter financiamento externo para inovação, esobretudo em períodos de crise financeira. O estudo também destaca que a falta de conhecimento sobre os instrumentos financeiros disponíveis para a inovação é uma barreira adicional.
Outra fonte de dificuldade para o financiamento de inovação é o risco envolvido em projetos de longo prazo e alto potencial de impacto. As empresas que procuram inovar precisam de recursos significativos para investir em projetos que, muitas vezes, podem não gerar retorno imediato, mas que têm um grande potencial de impacto no futuro. Nesses casos, é difícil encontrar investidores dispostos a correr riscos.
Para superar esses desafios, os especialistas dão várias sugestões. Uma opção é procurar investidores de capital de risco ou fundos de investimento que se concentrem em inovação e tecnologia, mais dispostos a investir em projetos de longo prazo.
Outra opção é olhar para o financiamento público ou privado, como subsídios, empréstimos ou incentivos fiscais. Muitos governos e organizações oferecem programas de incentivo à inovação para empresas, especialmente em setores de alta tecnologia e ciências da vida.
Além disso, as empresas podem explorar opções de financiamento colaborativo, como crowdfunding e crowdsourcing, que permitem levantar recursos de uma ampla base de investidores.
Falta de recursos humanos
A escassez de recursos humanos capacitados é outro dos grandes entraves à inovação. As empresas podem ter dificuldades para encontrar pessoas com as competências e conhecimentos necessários para conduzir a inovação nas suas organizações, algo que muitas vezes decorre, segundo os especialistas, da falta de investimento em formação e desenvolvimento dos colaboradores ou à concorrência por profissionais especializados.
Outra barreira comum à inovação é a cultura organizacional. As empresas podem ter uma cultura que desencoraja a inovação, onde as ideias novas são vistas como arriscadas ou ameaçadoras, levando os funcionários a não apresentarem ideias ou a não se esforçarem para inovar. Parece transversal a todas as consultoras e analistas que uma cultura de inovação deve ser promovida em todas as áreas da empresa, da liderança aos funcionários.
Segundo a professora e pesquisadora em liderança e inovação, Francesca Gino, da Harvard Business School, é importante que as empresas criem um ambiente de confiança, em que os funcionários se sintam confortáveis para apresentar novas ideias e opiniões diferentes. No seu livro "Rebel Talent: Why it Pays to Break the Rules at Work and in Life", Gino destaca a importância de se permitir o fracasso e a aprendizagem com os erros para incentivar a inovação.
"As empresas precisam acertar na aprendizagem para abastecer o seu motor de talentos e criar uma força de trabalho capacitada e fluente na arte de ‘fracassar rápido, aprender, repetir", defende a McKinsey & Company.
Resistir à mudança
E aqui reside o grande problema: a resistência à mudança. As pessoas muitas vezes preferem manter as coisas como estão, em vez de mudar e experimentar novas abordagens, algo que é ainda mais verdade em organizações com uma cultura estabelecida. Daí que os especialistas sustentem que a liderança da empresa deve ser capaz de comunicar claramente os benefícios da inovação e assim ajudar a superar a resistência à mudança. "Chegar a esse nível requer incutir uma mentalidade de crescimento, além de curiosidade, e abertura à experimentação e ao fracasso", diz a McKinsey.
O CEO da Microsoft, Satya Nadella, descreve isso como um teste de hipótese. "Em vez de dizer: ‘Tenho uma ideia’", observa Nadella, "deveríamos dizer: ‘tenho uma nova hipótese; vamos testá-la, ver se é válida, perguntar com que rapidez podemos validá-la’. E, se não for válida, seguir para a próxima". Essa abordagem e o correspondente empenho da empresa para mudar a mentalidade coletiva de "saber tudo" para "aprender tudo" são emblemáticos de uma organização que aprende.
Os ambientes de experimentação e aprendizagem estimulam o crescimento e aperfeiçoamento pessoal acelerado dos funcionários, reporta a consultora. E podem fomentar inovações benéficas, como mostra a famosa política de "20% do tempo" da Google, que incentiva os funcionários a trabalharem nas suas próprias ideias para a Google durante 20% do tempo - aliás, essa abordagem contribuiu para a criação do Gmail e do Google Maps. "O valor real desses programas é que eles sinalizam para a organização que a aprendizagem, a experimentação e a inovação fazem parte do trabalho diário de todos, e não são estão a cargo de uma equipa de projetos de ponta ou outro grupo especializado".
O excesso de burocracia
Outra barreira é, claramente, a regulação governamental. A burocracia excessiva pode dificultar a implementação de inovações, enquanto as regulamentações exageradamente restritivas podem limitar a criatividade e a inovação em determinados setores, com as empresas a terem dificuldade em encontrar um equilíbrio entre a inovação e o cumprimento das normas e regulamentos.
Mas há mais: a falta de cooperação e colaboração entre as empresas também pode ser uma barreira a inovar. Muitas vezes, as empresas são relutantes em partilhar informações e ideias com seus concorrentes, o que pode limitar a inovação em toda a indústria. A colaboração entre empresas, universidades e outras organizações é apontada pelos especialistas como fundamental, até porque pode levar a novas ideias e inovações que beneficiam toda a sociedade.
A falta de tempo também é um entrave, com as empresas e organizações a terem prazos apertados e a estarem focadas em produzir resultados imediatos, levando a uma falta de investimento na pesquisa e no desenvolvimento de novas ideias e tecnologias. Tempo, capital e coragem de abraçar a mudança parecem, assim, ser os ingredientes necessários para uma equilibrada receita de inovação.
O conceito de inovação, muitas vezes ligado ao conceito próximo de criatividade, pode ser analisado a partir de diferentes perspetivas. Pode ser algo que nunca foi feito por ninguém - e estamos perante o conceito de "inovação absoluta", referiu José Reis Lagarto, professor associado da Universidade Católica Portuguesa, num artigo sobre inovação na sala de aula. "Por outro lado, a inovação pode ser algo que determinada pessoa nunca fez, mas que vai fazer pela primeira vez - e aí estamos perante uma situação de inovação relativa".
Na teoria, parece tudo mais ou menos fácil e passível de ser definido. O problema é que depois, no terreno, no mundo real, os entraves que impedem a tão desejada inovação de fazer parte do dia-a-dia das empresas e de se impregnar na sua cultura organizacional são muitos.
O entrave financeiro
Segundo a McKinsey & Company, uma das barreiras mais comuns à inovação é a falta de recursos financeiros. Muitas empresas, especialmente as pequenas e médias, não têm recursos para investir em pesquisa e desenvolvimento ou para contratar pessoal especializado em inovação, tornando complicado ou mesmo impossível criar produtos ou serviços inovadores e competir com empresas maiores e com mais recursos.
Uma dificuldade corroborada pela Comissão Europeia que, no seu estudo "Barriers to Innovation in Small and Medium-Sized Enterprises", sustenta que as empresas frequentemente enfrentam dificuldades em obter financiamento externo para inovação, esobretudo em períodos de crise financeira. O estudo também destaca que a falta de conhecimento sobre os instrumentos financeiros disponíveis para a inovação é uma barreira adicional.
Outra fonte de dificuldade para o financiamento de inovação é o risco envolvido em projetos de longo prazo e alto potencial de impacto. As empresas que procuram inovar precisam de recursos significativos para investir em projetos que, muitas vezes, podem não gerar retorno imediato, mas que têm um grande potencial de impacto no futuro. Nesses casos, é difícil encontrar investidores dispostos a correr riscos.
Para superar esses desafios, os especialistas dão várias sugestões. Uma opção é procurar investidores de capital de risco ou fundos de investimento que se concentrem em inovação e tecnologia, mais dispostos a investir em projetos de longo prazo.
Outra opção é olhar para o financiamento público ou privado, como subsídios, empréstimos ou incentivos fiscais. Muitos governos e organizações oferecem programas de incentivo à inovação para empresas, especialmente em setores de alta tecnologia e ciências da vida.
Além disso, as empresas podem explorar opções de financiamento colaborativo, como crowdfunding e crowdsourcing, que permitem levantar recursos de uma ampla base de investidores.
Falta de recursos humanos
A escassez de recursos humanos capacitados é outro dos grandes entraves à inovação. As empresas podem ter dificuldades para encontrar pessoas com as competências e conhecimentos necessários para conduzir a inovação nas suas organizações, algo que muitas vezes decorre, segundo os especialistas, da falta de investimento em formação e desenvolvimento dos colaboradores ou à concorrência por profissionais especializados.
Outra barreira comum à inovação é a cultura organizacional. As empresas podem ter uma cultura que desencoraja a inovação, onde as ideias novas são vistas como arriscadas ou ameaçadoras, levando os funcionários a não apresentarem ideias ou a não se esforçarem para inovar. Parece transversal a todas as consultoras e analistas que uma cultura de inovação deve ser promovida em todas as áreas da empresa, da liderança aos funcionários.
Segundo a professora e pesquisadora em liderança e inovação, Francesca Gino, da Harvard Business School, é importante que as empresas criem um ambiente de confiança, em que os funcionários se sintam confortáveis para apresentar novas ideias e opiniões diferentes. No seu livro "Rebel Talent: Why it Pays to Break the Rules at Work and in Life", Gino destaca a importância de se permitir o fracasso e a aprendizagem com os erros para incentivar a inovação.
"As empresas precisam acertar na aprendizagem para abastecer o seu motor de talentos e criar uma força de trabalho capacitada e fluente na arte de ‘fracassar rápido, aprender, repetir", defende a McKinsey & Company.
Resistir à mudança
E aqui reside o grande problema: a resistência à mudança. As pessoas muitas vezes preferem manter as coisas como estão, em vez de mudar e experimentar novas abordagens, algo que é ainda mais verdade em organizações com uma cultura estabelecida. Daí que os especialistas sustentem que a liderança da empresa deve ser capaz de comunicar claramente os benefícios da inovação e assim ajudar a superar a resistência à mudança. "Chegar a esse nível requer incutir uma mentalidade de crescimento, além de curiosidade, e abertura à experimentação e ao fracasso", diz a McKinsey.
O CEO da Microsoft, Satya Nadella, descreve isso como um teste de hipótese. "Em vez de dizer: ‘Tenho uma ideia’", observa Nadella, "deveríamos dizer: ‘tenho uma nova hipótese; vamos testá-la, ver se é válida, perguntar com que rapidez podemos validá-la’. E, se não for válida, seguir para a próxima". Essa abordagem e o correspondente empenho da empresa para mudar a mentalidade coletiva de "saber tudo" para "aprender tudo" são emblemáticos de uma organização que aprende.
Os ambientes de experimentação e aprendizagem estimulam o crescimento e aperfeiçoamento pessoal acelerado dos funcionários, reporta a consultora. E podem fomentar inovações benéficas, como mostra a famosa política de "20% do tempo" da Google, que incentiva os funcionários a trabalharem nas suas próprias ideias para a Google durante 20% do tempo - aliás, essa abordagem contribuiu para a criação do Gmail e do Google Maps. "O valor real desses programas é que eles sinalizam para a organização que a aprendizagem, a experimentação e a inovação fazem parte do trabalho diário de todos, e não são estão a cargo de uma equipa de projetos de ponta ou outro grupo especializado".
O excesso de burocracia
Outra barreira é, claramente, a regulação governamental. A burocracia excessiva pode dificultar a implementação de inovações, enquanto as regulamentações exageradamente restritivas podem limitar a criatividade e a inovação em determinados setores, com as empresas a terem dificuldade em encontrar um equilíbrio entre a inovação e o cumprimento das normas e regulamentos.
Mas há mais: a falta de cooperação e colaboração entre as empresas também pode ser uma barreira a inovar. Muitas vezes, as empresas são relutantes em partilhar informações e ideias com seus concorrentes, o que pode limitar a inovação em toda a indústria. A colaboração entre empresas, universidades e outras organizações é apontada pelos especialistas como fundamental, até porque pode levar a novas ideias e inovações que beneficiam toda a sociedade.
A falta de tempo também é um entrave, com as empresas e organizações a terem prazos apertados e a estarem focadas em produzir resultados imediatos, levando a uma falta de investimento na pesquisa e no desenvolvimento de novas ideias e tecnologias. Tempo, capital e coragem de abraçar a mudança parecem, assim, ser os ingredientes necessários para uma equilibrada receita de inovação.