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O superalimento que veio dos Andes e se produz em Barcelos

Na primeira colheita de quinoa, a polícia foi chamada porque poderia ser canábis. Em 2023, foram vendidas 50 toneladas de quinoa made in Barcelos, que, “além da terra do galo, é a terra da quinoa portuguesa”, disse Filipe Figueiredo, CEO da QTP.

Filipe S. Fernandes 03 de Novembro de 2023 às 14:30
Filipe Figueiredo, CEO da QTP - Quinoa Portuguesa. Sérgio Lemos
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Em 2013, a quinoa foi eleita alimento mundial do ano pela FAO, o que suscitou o interesse de quatro jovens agricultores de Barcelos. Começou a germinar a "ideia louca" de trazer a produção de quinoa para Portugal. "Suscitou-nos o interesse e a curiosidade para saber se podia ser cultivada em Portugal", afirmou Filipe Figueiredo, CEO da QTP - Quinoa Portuguesa, que foi o convidado do segundo videocast da série "Agricultura Agora, Conversas sobre Sustentabilidade e Inovação", que se realiza no âmbito do Prémio Nacional de Agricultura, uma iniciativa do Correio da Manhã, Jornal de Negócios e BPI, e que conta com o patrocínio do Ministério da Agricultura e Alimentação e o apoio da PwC.

Logo em 2013, a Quinoa Portuguesa iniciou os testes de plantação de quinoa, tendo selecionado uns terrenos na Covilhã. Mas os primeiros passos não foram muito positivos. Perceberam que a produção de quinoa "é muito exigente ao nível de observação da cultura; somos de Barcelos e não podíamos ter proximidade em relação à sua cultura", sublinhou Filipe Figueiredo. Lembra ainda que a quinoa e os seus benefícios eram desconhecidos, "não era o superalimento que é hoje em dia, na altura era um corpo estranho na sociedade e na nossa alimentação diária. Foi uma etapa difícil, mas que continua a ter as suas limitações", disse Filipe Figueiredo.

Uma tonelada no ano decisivo

Em 2015, transferiram a produção de quinoa para Barcelos. "Foi um processo de aprendizagem porque, como não se produzia no território nacional e o mais perto que se produz é no Norte da Europa, foi um processo de tentativa e erro", lembra Filipe Figueiredo.

Dois anos depois, era o momento de tomar uma decisão. Se não houvesse produção, "abandonaríamos a produção", no entanto, atingiram os primeiros resultados com a produção de uma tonelada de quinoa. Contudo, a memória mais marcante da primeira colheita foi o facto de terem chamado "a polícia porque pensaram que era canábis, mas também chegaram a roubar plantas", recorda Filipe Figueiredo.

Foram quatro anos de tentativas para perceber a estação do ano em que se semeava, a maquinaria que se poderia utilizar, que tipos de variedades se plantavam e as que melhor se adaptavam aos campos. Foram anos de resistência à frustração à espera de saborear o sucesso da quinoa.

Lisboa e cantinas escolares

Depois da primeira produção, seguiu-se o desafio da distribuição dos primeiros mil quilos de quinoa portuguesa. Não conheciam a rede de lojas e de sítios de venda de quinoa e foi necessário fazer esse trabalho. "Hoje o nosso forte é Lisboa, sobretudo restaurantes vegetarianos, vegan e agora estamos a entrar nas cantinas escolares, onde há crianças que são alérgicas ao glúten, intolerantes ou vegetarianas e tem de se respeitar essa necessidade e a quinoa passa a ser um alimento de eleição para cumprir esses fatores. Estamos na área da panificação, da restauração, ao consumidor final, queremos chegar às pessoas de diversas formas", sublinha Filipe Figueiredo.

Em 2023, a QTP - Quinoa Portuguesa já vendeu 50 toneladas de quinoa.


O tempo de cultivo da quinoa é de 100 dias, entre três meses e três meses e duas semanas. A quinoa é semeada em finais de abril, início de maio, e é colhida em finais de agosto, princípio de setembro. Segue-se a secagem, que, por enquanto, é feita ao sol, como antigamente se fazia com os cereais. Feita a seca do cereal, há o processo de limpeza do grão, a seleção ótica do grão e, depois, o embalamento entre finais de novembro e o início de dezembro.

Em 2023, venderam 50 toneladas de quinoa, e, hoje em dia, "se alguém chegar a Barcelos e perguntar onde se produz quinoa já toda a gente indica onde são os terrenos, que podem ser visitados. Hoje, Barcelos, além da terra do galo, é a terra da quinoa portuguesa, que é a única que se produz em Portugal", esclarece Filipe Figueiredo.

"Em termos de empregabilidade agrupamos entre 10 e 12 pessoas na altura do cultivo porque temos tecnologia suficiente para não precisar de muita mão de obra, porque a mão de obra na agricultura é difícil de encontrar e é dispendiosa. Estamos sempre à procura de pessoas para ajudar porque não é uma planta orgânica, precisa de muita mão de obra", afirmou ainda Filipe Figueiredo.

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