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Foto em cima: Leonor Freitas, CEO da Casa Ermelinda Freitas.
"É fundamental renovar as gerações na agricultura. Li que 75% dos agricultores têm 75 anos ou mais, e que as habilitações são, na maioria, ao nível da antiga quarta classe. Isto demonstra a dimensão do trabalho que ainda temos pela frente", refere Leonor Freitas no videocast "Agricultura Agora: Conversas sobre Sustentabilidade e Inovação", realizado no âmbito do Prémio Nacional de Agricultura, uma iniciativa do BPI, do Negócios e do Correio da Manhã, e que conta com o patrocínio do Ministério da Agricultura e Pescas, e o apoio da PwC.
A renovação geracional na agricultura passará, em parte, pela concentração do setor, com as grandes empresas a adquirirem pequenas explorações familiares. Muitas destas não são rentáveis, ou a geração seguinte evoluiu para outras áreas e não tem vocação, ou é simplesmente impossível garantir a sobrevivência com a atividade atual.
"No futuro, veremos uma agricultura cada vez mais empresarial, internacional, que deve ter em consideração as novas tecnologias, que estão a revolucionar o setor, e a sustentabilidade", afirma Leonor Freitas. A agricultura familiar poderá continuar a existir, "mas com uma gestão e conhecimentos diferentes, para rentabilizar melhor os recursos disponíveis e apostar em produtos de nicho. Se for para continuar como sempre se fez, será difícil continuar", conclui Leonor Freitas.
A inovação e a tradição
Leonor Freitas referiu a sustentabilidade, a economia circular e o conhecimento como pilares da agricultura do futuro, destacando que "é a formação que faz a diferença na mudança". Isso implica que os agricultores e os seus colaboradores deverão ter qualificações e conhecimentos mais especializados. A Casa Ermelinda Freitas compra muitas uvas a pequenos produtores e oferece-lhes apoio técnico ao longo do ano, aproveitando as tecnologias e o conhecimento disponíveis. "Temos a capacidade de chamar quem nos possa ajudar e de apoiar quem, no fundo, também nos apoia", afirma.
"Se penso por exemplo na minha família, em que represento a quarta geração, a diferença entre a geração dos meus pais e a minha é enorme. No tempo dos meus pais, a agricultura era o parente pobre da indústria e da sociedade", recorda Leonor Freitas. Acrescenta que, na época, apenas quem não sabia fazer outra coisa se dedicava à agricultura e que, mesmo os licenciados em agronomia, preferiam trabalhar em gabinetes. "Houve uma grande mudança: os próprios técnicos já vão para o campo e perceberam a importância de compreender o terreno."
CEO da Casa Ermelinda Freitas
Leonor Freitas referiu ainda a relação entre agricultura e turismo, seja pelo valor paisagístico, seja pelo enoturismo, área em que a Casa Ermelinda Freitas também atua, com visitas, provas de vinhos e atividades pedagógicas para crianças. "A vinha passa por vários ciclos ao longo do ano, e é muito importante transmitir isto aos mais novos, pois já temos crianças que só conhecem o cacho de uvas do supermercado."
Para Leonor Freitas, é essencial transmitir uma imagem de uma nova agricultura, mostrando "que é possível e viável". Acrescenta que "é preciso modernizar o setor, pensar na inteligência artificial aplicada à agricultura, mas também é fundamental conhecer a tradição para que seja possível evoluir e valorizá-la."
A agricultura não pode pensar só no subsídio
"Tive a sorte de nascer numa família humilde, mas com grandes valores sociais. Hoje fazem parte da empresa, porque são os valores que defendo e estou a passar para a geração seguinte. A responsabilidade social faz parte do nosso ADN", salienta.
Uma das suas preocupações é que, quando as "coisas correm bem a uma empresa agrícola, temos de partilhar com os funcionários, com os fornecedores das uvas, com a comunidade".?
Leonor Freitas adianta que a "agricultura não pode só no subsídio, tem que pensar em ajudar a sociedade". Referiu, dando o exemplo da Casa Ermelinda Freitas na angariação de fundos para poder ajudar outras instituições sociais de apoio a idosos, a jovens e a crianças carenciadas.