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Inovação verde ao serviço da preservação do planeta

A inovação verde é uma importante ferramenta para promover a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente, podendo ser aplicada em diversos setores, trazendo benefícios não só para o meio ambiente como para a sociedade. Especialistas advogam a necessidade de ser combinada com outras medidas para garantir a preservação do planeta.

03 de Março de 2023 às 14:30
A sustentabilidade é um importante motor de mudança empresarial.
A sustentabilidade é um importante motor de mudança empresarial. GettyImages
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A eficácia da atividade de inovação incide não apenas na sua dimensão económica e ambiental, mas também na sua dimensão social. Uma dimensão onde a sustentabilidade tem vindo a ganhar cada vez mais protagonismo numa sociedade a braços com complexos dilemas e problemas ambientais.

A colaboração na geração de eco-inovação, amplamente definida, inclui a interação com clientes e fornecedores, institutos de investigação e universidades e outras empresas, define a AICEP, Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal. "A sustentabilidade é um importante e crescente motor de mudança empresarial. As suas implicações para a inovação são claras - viver e trabalhar num mundo de nove mil milhões de pessoas com expetativas crescentes, fornecer energia, garantir segurança alimentar e de recursos, lidar com as alterações climáticas, a degradação dos ecossistemas, um fosso económico cada vez maior e uma série de outras questões interdependentes, exigem uma mudança clara e significativa nos produtos, serviços, processos, abordagens de marketing bem como nos modelos empresariais subjacentes".

Mais do que uma simples moda, a AICEP acredita que a sustentabilidade integra os objetivos estratégicos das empresas, na medida em que esta preocupação também corresponde às expetativas de consumidores cada vez mais informados e exigentes. "Na sequência de inovações perfeitamente disruptivas introduzidas na sociedade ao longo dos dois últimos séculos, a sustentabilidade e todas as preocupações com ela relacionadas marcam inquestionavelmente a inovação da presente década". Trata-se da designada "eco-inovação", um modo de atuação que resulta da interceção de duas dimensões da sustentabilidade, a económica e a ambiental. "A variedade de definições de eco-inovação manifesta-se em termos e conceitos heterogéneos. Inovação ambiental, inovação verde e inovação sustentável ou orientada para a sustentabilidade são apenas algumas das designações utilizadas".

Inovação verde

A inovação verde é, de resto, um conceito que tem ganho cada vez mais destaque nos últimos anos, definida como um conjunto de práticas e tecnologias que visam reduzir o impacto ambiental de diversas atividades humanas, desde a produção industrial até o consumo doméstico.

Uma das principais características da inovação verde é precisamente a procura por soluções que sejam mais eficientes do ponto de vista energético e que utilizem fontes renováveis de energia, envolvendo desde a adoção de tecnologias mais avançadas em equipamentos e processos produtivos até a utilização de materiais mais sustentáveis e menos poluentes.

Alguns exemplos de inovações verdes incluem os carros elétricos, que utilizam baterias recarregáveis em vez de combustíveis fósseis, e as construções sustentáveis, que utilizam materiais de baixo impacto ambiental e são projetadas para maximizar a eficiência energética.

Outra área em que a inovação verde tem sido aplicada é na gestão de resíduos. Muitas empresas estão a investir em tecnologias de reciclagem e compostagem para reduzir a quantidade de lixo enviada para aterros sanitários. Além disso, existem iniciativas que visam transformar resíduos em novos produtos, como a produção de peças de vestuário a partir de plásticos reciclados.

Mas a inovação verde não se limita apenas às empresas e indústrias. Os consumidores também são "convidados" a contribuírem para a redução do impacto ambiental através de escolhas conscientes, atitudes que podem envolver desde a compra de produtos orgânicos até à utilização de sacos reutilizáveis em vez dos produzidos com plásticos descartáveis.

Só para termos noção da dimensão, em Portugal, só em 2021, foram colocadas no mercado nacional cerca de 806 153 toneladas de embalagens de Produtos de Grande Consumo, o que equivale a um consumo aproximado de 76 kg de embalagens per capita. De acordo com a Novo Verde, a tendência crescente na colocação e consumo de embalagens tem sido acompanhada pela quantidade recolhida, que aumentou todos os anos, desde 2017, a uma média de 7%.

O exemplo da aviação sustentável

O ISQ é uma das entidades portuguesas a participar num ambicioso projeto da união europeia no setor da aviação em matéria de neutralidade carbónica. Trata-se do projeto HERA - Hybrid-Electric Regional Architecture, que tem como objetivo a definição do conceito e arquitetura-chave de uma aeronave regional híbrido-elétrica, assim como a identificação e desenvolvimento das tecnologias necessárias para satisfazer a meta estabelecida de redução de 50% das emissões de gases com efeito de estufa.

O HERA, integrado no Programa Clean Aviation da Comissão Europeia, contempla uma aeronave com uma dimensão de aproximadamente 50-100 lugares que operará na mobilidade aérea regional e de curto alcance em meados de 2030, em distâncias de menos de 500 km - ligações regionais interurbanas.

81%
dos inquiridos afirmam estarem dispostos a pagar mais por um produto que seja mais inovador do que aquele que está habituado a comprar.
Incluirá propulsão híbrido-elétrica baseada em baterias ou células de combustível como fontes de energia suportadas por SAF (Sustainable Aviation Fuel) ou combustão de hidrogénio para a fonte térmica, por forma a atingir até 90% de emissões mais baixas.

Entre as tecnologias e configurações inovadoras a desenvolver destacam-se a distribuição elétrica à escala de alta tensão MW, gestão térmica, novo design de asa e fuselagem, bem como nova propulsão híbrido-elétrica e novo armazenamento relacionado com baixas emissões de gases de efeito de estufa.

Produto do Ano mais verdes

O Produto do Ano distinguiu recentemente os produtos e serviços mais inovadores do mercado, uma avaliação realizada por 5320 consumidores, num estudo online desenvolvido pela Netsonda, Netquest e CINT. Esta iniciativa enfatiza o facto de os portugueses gostarem de acompanhar a inovação e seguir as tendências globais, com 81% dos inquiridos a afirmarem estarem dispostos a pagar mais por um produto que seja mais inovador do que aquele que está habituado a comprar, sendo que a relação qualidade/preço dos produtos é apreciada pela maioria dos consumidores. Neste projeto é notório que a sustentabilidade tem sido cada vez mais uma preocupação, tanto das marcas, como dos consumidores, tendo este ano sido distinguidos, entre outros projetos, as armações ecofriendly biodegradáveis - Óculos para Todos. Uma gama de produtos que foi concebida em acetato biodegradável, com o objetivo de diminuir a pegada ecológica do setor da ótica onde imperam os acetatos tradicionais.

O betão Verdi Zero, da Secil, é outro exemplo. Este produto "utiliza matérias-primas que promovem a economia circular, através de incorporação de resíduos reciclados, pressupondo uma menor utilização de recursos naturais", explica a empresa. "O Betão Verdi Zero é certificado como um produto CarbonNeutral, de acordo com o CarbonNeutral Protocol pela Climate Impact Partners, sendo este o framework líder para a neutralidade do carbono". Esta, elabora a Secil, é alcançada compensando as emissões remanescentes através de projetos de redução de emissões externas e garantindo que, por cada tonelada de CO2 emitida pelo Betão Verdi Zero, exista uma tonelada a menos na atmosfera.

Em resumo, a inovação verde é uma importante ferramenta para promover a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente e pode ser aplicada em diversos setores, trazendo benefícios não só para o meio ambiente como para a sociedade. No entanto, os especialistas advogam a necessidade de ser combinada com outras medidas para garantir a preservação do planeta.


Portugal e a inovação verde

Portugal tem vindo a desenvolver diversas iniciativas de inovação verde nos últimos anos, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável do país e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

| Energias renováveis: de acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), Portugal foi responsável por 3% do investimento global em energias renováveis em 2020, totalizando 3,5 mil milhões de dólares. O país tem um objetivo ambicioso de chegar a 80% de consumo de energia renovável até 2030, o que deve incentivar ainda mais investimentos nesse setor nos próximos anos.

| Mobilidade sustentável: Portugal tem incentivado o uso de meios de transporte mais sustentáveis, como bicicletas, transporte público e veículos elétricos. A rede de ciclovias tem vindo a ser ampliada em diversas cidades e há incentivos fiscais para a compra de carros elétricos. De acordo com a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB), em 2021, existiam cerca de 2.600 km de ciclovias em Portugal. A meta da Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável, aprovada em 2019, prevê que Portugal tenha 10 mil quilómetros de ciclovia até 2030.

| Eficiência energética: Tem havido a implementação de diversas medidas para melhorar a eficiência energética, tanto em edifícios públicos como privados. Por exemplo, há incentivos fiscais para a realização de obras de reabilitação energética em edifícios.

| Economia circular: Portugal tem promovido a economia circular, que visa reduzir o desperdício e reaproveitar materiais. Por exemplo, há projetos de reciclagem de resíduos orgânicos para produção de energia e fertilizantes.

| Agricultura sustentável: O incentivo à agricultura sustentável é uma realidade, com a promoção de práticas agrícolas mais eficientes e menos poluentes. Há projetos de produção de alimentos orgânicos e de agricultura urbana em diversas cidades.
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